sexta-feira, 9 de maio de 2008

PAIXÃO E EXTENSÃO

“Sem paixão não dá nem para chupar um picolé”.
Nelson Rodrigues (1912 – 1980)

A Extensão é isso. Uma paixão desenfreada, arrebatadora, prazerosa. Igualmente ao que se diz do Acre, a Extensão é um vício. Depois que você é contaminado ele não lhe larga mais, em que
pese todas as dificuldades desse ofício de educar e de trabalhar com os produtores familiares mais humildes e descapitalizados. Agora, no dia 6 de dezembro, estaremos comemorando 60 anos de Extensão Rural no Brasil. Faremos uma festa no Estado que lhe serviu de berço, Minas Gerais, porque temos o que festejar e o que comemorar. Vamos celebrar, por exemplo, o fato de sermos uma Instituição Republicana, que sempre respeitou a coisa pública, que nunca se envolveu em corrupção, malversação de recursos públicos e outras falcatruas administrativas. E olhe que são quase 6 décadas de atuação em todos os Estados e em milhares de municípios. Iremos também comemorar a nossa RESISTÊNCIA (institucional e física). Resistimos ao “milagre econômico” do Delfim (68-73); a 2 choques do petróleo (1973/79); 2 acordos com o FMI (83 e 98); 1 moratória sobre o pagamento da dívida (87); 3 crises cambiais; 3 reformas monetárias; 7 planos econômicos; 11 ministros da Fazenda (de Sarney a FHC) e os incontáveis (des)governos estaduais. Resistimos, sobretudo, ao cataclismo NEOLIBERAL de desmonte do Estado e o sucateamento dos serviços públicos, inclusive, da Extensão Rural. Resistimos e sobrevivemos. Ainda temos seqüelas da crise aguda que atravessamos a partir da extinção da EMBRATER, em 1988/1990. É bom lembrar que a EMBRATER foi extinta duas vezes. A primeira vez, por Decreto Presidencial do Sarney e, depois, por Medida Provisória do Collor.

No primeiro caso, fizemos a MARCHA SOBRE BRASÍLIA e lançamos a Campanha SOS EXTENSÃO e o Congresso Nacional nos ressuscitou. Mas com Collor não teve jeito, o Sistema desmoronou sem “choro, sem vela e sem fita amarela” Agonizou, mas, não morreu, a exemplo de um samba antológico do Nelson Sargento (Agoniza Mas Não Morre).. Hoje, passados 3 lustros da canetada do caçador de marajás, estamos ativos e operantes, nos reencontrando com a nossa história e buscando um jeito novo de caminhar nos varadouros e meandros de uma nova Política Nacional de ATER. O PNATER, que foi elaborado de forma participativa, envolvendo a sociedade organizada com agentes governamentais e não governamentais, entidades de classe, comunidade acadêmica e inúmeros técnicos e extensionistas, nos coloca novos e enormes desafios, tanto no campo conceitual, operacional, institucional e político. Estamos estudando e aprendendo novos conceitos, tais como: sustentabilidade, agroecologia, territorialidade, empoderamento, governança, empreendedorismo e no caso do Acre o conceito de FLORESTANIA.

Aqui no Acre estamos vivenciando uma transição do nosso serviço – da EXTENSÃO RURAL para a EXTENSÃO AGROFLORESTAL – temos a presunção e a pretensão de nos tornarmos “UM SERVIÇO EDUCATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”. E a sustentabilidade para nós é sinônimo de FLORESTANIA, que incorpora as dimensões política, cultural, econômica, social, ambiental e ética. Florestania como a promoção do homem todo (na sua integralidade física e espiritual) e de todos os homens, que convivem nesse espaço de sociabilidade em interação com a natureza, que deve ser preservada e cuidada, para que as gerações futuras, também possam desfrutar desse patrimônio.

A missão parece impossível? Para missionários com uma visão religiosa tradicional, que se conforma e se contenta com a perspectiva de uma vida melhor no outro mundo, pode ser. Para nós extensionistas, educadores, agentes políticos de transformação, temos a sensatez de querermos o IMPOSSÍVEL, porque quando você faz de início o necessário e em seguida o possível, em breve, estará fazendo o impossível como nos ensina São Francisco de Assis, (podia ser o padroeiro da Extensão).

Aqui no Acre já começamos a fazer o IMPOSSÍVEL ou o que parecia ser impossível. Exemplos: desde 1999, pagamos mais de 34 milhões de dívidas; regularizamos 3 meses de salários atrasados e estamos pagando, religiosamente, dentro do mês e 13º salário, dentro do ano; implantamos o Plano de Carreira dos Servidores; construímos o Núcleo de Extensão Florestal e estamos concluindo a reforma da nossa sede central; saímos de 55 técnicos em campo, em 1998, para 183, em 2005; fizemos investimentos de mais de 3 milhões com compras de veículos, computadores, instalações físicas, etc.; instalamos 2 Unidades de Gestão Ambiental Integrada-UGAIs; disponibilizamos mais de 100 milhões de reais de crédito rural, em 7 anos, para os produtores familiares e elaboramos e publicamos a nossa proposta de Extensão Agroflorestal, que está balizando as nossas ações.

E os “milagres” já começam a ser vislumbrados! Tem até extensionista veteranos, que estavam lotados no “central”, retornando para o interior e o trabalho de campo!! Isso só tem sido possível, por uma questão muito simples – COMPROMISSO POLÍTICO DO NOSSO GOVERNO ESTADUAL E FEDERAL. O Governador Jorge Viana, tirou o nosso serviço da sarjeta e colocou no primeiro plano das políticas públicas. Hoje nós somos uma SECRETARIA DE ESTADO, caso único e inédito no Brasil. A SEATER, ademais, comanda 2 Empresa importantes a EMATER (que todos já conhecem) e a CAGEACRE (armazenamento, escoamento da produção). No plano nacional, o Presidente Lula, tem demonstrado, concretamente, seu compromisso de construir “UM PAÍS DE TODOS”. A Agricultura Familiar, com o PRONAF, vai disponibilizar 9 bilhões de reais para a safra 2005/2006; o Luz Para Todos; o Fome Zero; o Bolsa Família e tantos outros programas sociais avançam e apontam para um futuro melhor. Não há crise política que obscureça os números da economia e as conquistas do Governo Lula. E nós, extensionistas, somos gratos. Queremos, por fim, compartilhar esse CICLO VIRTUOSO que estamos tendo o privilégio de desfrutar, com os que ajudaram a construir o nosso serviço no Acre e “já subiram”, são eles: Zaqueu Machado, Hélio Pimenta, Cezário Braga, Célio Artur, Lú e Janduí, Mota, Seu Assis, Casquinha, Aurélio, Adauto Cruz, Mocinha (que varria nossos pés quando a gente não “arretirava” pra ela varrer), Álvaro Rocha, Maria Roseli e Pedrinho Oliveira,Cartaxo,Frazão e o Franklin. Eu não sou muito crente não, mas tenho certeza que a energia que vocês gastaram na Extensão do Acre, continua a circular por aqui e nos proporciona bons fluidos e muita disposição para seguir na caminhada com vontade, com ternura, com o apego e a sofreguidão que só a paixão proporciona.

(Texto publicado no Jornal A Gazeta de Rio Branco - AC, em 01/12/2005)



Minha Memória da Extensão





I CONFASER- 1987 (Curitiba - PR)

Um reencontro com a combativa companheira Rejane (Emater-RS) no 8º CONFASER em 2003 - Caldas Novas - GO

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