segunda-feira, 13 de abril de 2009

MALHANDO O JUDAS



A semana da Paixão, com sua 4ª feira de trevas, os dias grandes (5ª e 6ª feira), o sábado de Aleluia e o domingo de Páscoa são dias propícios para muitas reflexões. Ela nos lembra de fraquezas e fortalezas do ser humano. A traição de Judas, a negação de Pedro e a pusilanimidade de Pôncio Pilatos, que num momento de grave decisão política resolveu se preocupar com um problema de higiene e foi "lavar às mãos", deixando o veredícto para a turba, que fez a opção por Barrabás. Um justo foi crucificado e a profecia se cumpriu. De lá prá cá, o tempo ficou delimitado em "a.C e d.C" (antes e depois de CRISTO). O Cristianismo se tornou uma força espiritual extraordinária, uma esperança de remissão, de renascimento, de ressurreição... Mas, aí veio o Catolicismo, que tem como principal símbolo, a cruz, um instrumento de tortura. e entre Cristo e o Cristianismo/Catolicismo, não se salva nem a cruz.


Lí na Semana Santa, "Náufrago da Utopia" de Celso Lungaretti, que narra sua militãncia política na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), cujo principal líder era o Carlos Lamarca. A via crucis do Lungaretti foi bem maior que a de Cristo. A sua tortura foi muito além das sevícias físicas. A repressão lhe coagiu a renegar a sua luta e militância e tentou lhe pregar o estígma de delator. Lungaretti passou mai de 30 anos como um renegado, carregando essa nódoa e essa mágoa, que lhe machucou o espírito e foi mai dolorosa que a violência física.
Celso Lungaretti - Um sobrevivente e reabilitado.


Ainda na Semana Santa, continuei lendo (estou lendo com calma) "De Frente Para o Sol" - como superar o terror da morte, de Irving D. Yalom. No seu preâmbulo o autor cita François de la Rochefoucauld que disse: "Nem o sol nem a morte podem ser olhados fixamente."


Andei me lembrando desses versos da Cecília Meireles, do seu Romanceiro da Inconfidência. trancrevo:

Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério
Cecília Meireles.

Melhor negócio que Judas
Fazes tu, Joaquim Silvério:
Que ele traiu Jesus Cristo,
Tu trais um simples Alferes.
Recebeu trinta dinheiros...
- e tu muitas coisas pedes:
Pensão para toda vida,
Perdão para quanto deves,
Comenda para o pescoço,
Honras, glórias, privilégios.
E andas tão bem na cobrança
Que quase tudo recebes!
Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério!
Pois ele encontra remorso,
Coisa que não te acomete.
Ele topa uma figueira,
Tu calmamente envelheces,
Orgulhoso e impenitente,
Com teus sombrios mistérios.
(Pelos caminhos do mundo,
Nenhum destino se perde:
Há os grandes sonhos dos homens,
E a surda força dos vermes.)











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