Minha saudação aos valorosos extensionistas do Acre e de todo Brasil, pela passagem do nosso dia. Reproduzo aqui, um texto que fiz quando a extensão completou 60 anos. Ele permanece atual e, a exemplo da EXTENSÃO RURAL BRASILEIRA, continua insistindo na juventude. (MIF)
EXTENSÃO
RURAL - 65 ANOS
UMA
INSTITUIÇÃO REPUBLICANA E UM SERVIÇO DE ESTADO
*Marcos Inácio Fernandes
“O passado não nos dirá
o que devemos fazer, mas sim, o que devemos evitar.” (José Ortega y Gasset – A Rebelião
das Massas.)
“Há tempos em que é
preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e
esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo
da travessia; e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre, a margem
de nós mesmos.” Fernando
Pessoa (1888- 1935)
Neste 6 de dezembro, a Extensão Rural Brasileira completa
65 anos de existência. É uma sexagenária com grande vitalidade, “insistindo na
juventude”, resistindo, reaprendendo e se reafirmando como uma instituição REPUBLICANA. Nós da Extensão temos
muito orgulho do nosso passado, de fazer parte de um serviço que, ao longo de
sua história, sempre respeitou a COISA
PÚBLICA, que nunca se envolveu em ilícitos administrativos, que nunca se
envolveu em esquema de corrupção e sempre teve as suas prestações de contas
aprovadas pelos órgãos fiscalizadores. Isto é o que se espera e se exige dos
gestores e servidores públicos. E os extensionistas são servidores públicos por
excelência.
Somos, desde 1948, os “eternos carregadores de piano” de
todas as políticas públicas para o meio rural brasileiro. Sempre tocamos as
partituras que já vinham prontas dessas políticas, mas agora, queremos também
participar do arranjo na construção da melodia, sermos co-autores, solistas, maestros e até professores/animadores/facilitadores
desse processo de educação informal que é a extensão rural. Nessa perspectiva e
na atual conjuntura da vida política do nosso país, o extensionista tem que se
preparar para assessorar os agricultores/produtores familiares a serem,
principalmente, PRODUTORES DE DECISÕES!
Que eles sejam protagonistas nos processos de decisões políticas, na definição
das políticas públicas, na afirmação de seus interesses enquanto classe social.
Cabe aos extensionistas como “como agente
político de desenvolvimento” e como educador popular, contribuir no processo de
tomada de decisões dos agricultores/produtores familiares e suas organizações.
Decisões implicam em escolhas, fazer opções e definir alternativas. Na busca da
melhor alternativa é necessário conhecimento, dispor de informações e
capacidade política para construir alianças, aglutinar forças e minimizar os
riscos inerentes aos processos, quase sempre conflituosos, das relações de
poder e das tomadas de decisões políticas. Cabe a extensão, esse enorme desafio
de fazer com que os agricultores/produtores familiares evoluam de uma consciência ingênua para uma consciência crítica e organizativa. A questão da organização
dos produtores e da produção é central, o resto é “perfumaria” e vem como
conseqüência do nível organizativo.
Produtores organizados significa a construção de sua VONTADE COLETIVA, como protagonista de
um drama histórico real e efetivo como nos ensina Gramsci na sua obra de referência:
“Maquiavel a Política e o Estado Moderno”. A vontade coletiva, portanto, é algo
mais profundo do que interesses individuais e imediatos. Ela será descoberta e
organizada num processo coletivo e continuado de consulta/confronto a respeito
da origem e superação de problemas em todos os campos da realidade social dos
produtores familiares. O grande desafio da Extensão é saber, como neste campo,
prestar um serviço que defenda e afirme os interesses dos
agricultores/produtores familiares, razão da nossa existência institucional.
Vivemos
um bom momento na Extensão Pública Oficial no Brasil e no Acre. Este bom
momento é conseqüência do CICLO VIRTUOSO
que o país atravessa onde três fenômenos ocorrem concomitantes e
simultaneamente – DEMOCRACIA, CRESCIMENTO
ECONÔMICO COM DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E INFLAÇÃO BAIXA.
Neste momento histórico e nessa conjuntura política,
quando se pretende que o desenvolvimento seja sustentável, que o crescimento
econômico seja com distribuição de renda e com respeito ao meio ambiente, a
extensão pode e deve cumprir um papel essencial.
Considero que o nosso serviço é de caráter ESTRATÉGICO, não é simplesmente um
serviço de governo, mas um serviço e uma CARREIRA
DE ESTADO, pois lidamos com uma questão de SOBERANIA NACIONAL, que é a SEGURANÇA
ALIMENTAR e a EDUCAÇÃO do nosso povo. Um povo, onde muitos “Severinos ainda
morrem de velhice antes dos 30/ de emboscada antes dos 20/ e de FOME um pouco por dia”, como registra
João Cabral de Melo Neto no seu poema Funeral de Um Lavrador.
Enquanto a chaga social da FOME e do ANALFABETISMO
perdurar no Brasil, não poderemos falar de democracia plena, de cidadania, de
desenvolvimento e, também, não se poderá prescindir do serviço público da
Extensão Rural Oficial para atuar com outros parceiros governamentais e não
governamentais no combate a fome, a miséria e a exclusão social.
Parabéns
Extensionistas do Acre e do Brasil pelo o seu dia, com a certeza de que dias
melhores virão. Como educadores e construtores de utopias, sejamos sensatos,
queiramos o impossível ! E, Já que
dizem que o nosso serviço é um sacerdócio, miremo-nos no exemplo e nas palavras
de São Francisco de Assis (que bem podia ser o padroeiro da Extensão Rural): “Inicie por fazer o necessário, então o que
é possível e, de repente, você estará fazendo o impossível.”
*Marcos Inácio Fernandes (Marcão), é Extensionista,
membro da Academia Brasileira de Extensão Rural-ABER.
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