Quando o silêncio é uma confissão
Do sítio Vermelho:
“O silêncio é uma confissão”, dizia Camilo Castelo Branco. A famosa sentença do escritor português é perfeita para caracterizar o comportamento da nossa mídia hegemônica, monopolizada por meia dúzia de famílias capitalistas, em relação às denúncias contidas no livro “A privataria tucana” do jornalista Amaury Ribeiro Jr. O silêncio, constrangido e constrangedor, é a norma neste caso e vale também para a intensa movimentação no Congresso Nacional em torno da criação de uma CPI para investigar o escândalo, que envolve grandes somas de dinheiro do povo desviado criminosamente pelos cardeais do tucanato.
Ghost writer
O silêncio foi quebrado por um ou outro “calunista” da mídia incomodado com as críticas que se multiplicam na internet, exclusivamente para desacreditar a obra e desqualificar seu autor. É o caso do funcionário da Rede Globo e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), posição que alcançou não pelos textos medíocres que produz, mas graças ao poder do veículo que o emprega (Machado de Assis deve arder de remorsos no túmulo ao meditar sobre o destino de sua polêmica criação). Merval sai a campo de cara limpa em defesa dos tucanos e de José Serra, com apelos e argumentos falsos que foram desmascarados pelo líder petista e advogado José Dirceu e pelo jornalista Luiz Nassif. Nassif desconfia que existe um ghost wreiter (escritor fantasma) por trás do texto, que considera estranho ao estilo de Merval. “Corto um dedo se o ghost writer dessa tertúlia não é o próprio Serra”.
Dois pesos, uma medida
É preciso que a opinião reflita sobre o comportamento da mídia hegemônica, capitalista, que tanto ruído tem feito ao longo dos últimos anos em nome da moralidade pública e do combate à corrupção, veiculando calúnias, denúncias falsas e sem provas (como as que foram feitas contra Orlando Silva, acusado por um bandido e pela revista Veja de receber dinheiro na garagem do Ministério de Esportes: cadê as provas?). Agora, diante de uma reportagem ampla e rigorosa (um trabalho de 10 anos), recheada de provas e envolvendo desvio de bilhões de reais - valores incomparavelmente superiores a de todas as supostas irregularidades que, segundo as denúncias, teriam sido praticadas nos governos Lula e Dilma -, a resposta da mídia venal é o silêncio ou o sofisma rasteiro.
Não restam dúvidas de que os meios de comunicação de massas monopolizados por meia dúzia de famílias, com a honrosa exceção da Record, usam de dois pesos e uma medida e se comportam como um partido de direita, fazendo juz ao irônico apelido criado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim. Trata-se, inegavelmente, de um Partido da Imprensa Golpista, o PIG. Propósito golpista Ao acolher e divulgar calúnias o PIG age com o propósito golpista (mal disfarçado) de desacreditar as forças progressistas, em especial os comunistas, e desestabilizar o governo Dilma. Mas vende um peixe podre: a imagem de que defende a ética e os bons costumes. O silêncio quando o alvo das denúncias é a direita neoliberal, capitaneada pelos tucanos, carrega uma confissão de cumplicidade moral, ideológica e política com a grossa corrupção que mediou a transferência de patrimônio público para a iniciativa privada, com empresas que valem ouro (como a Vale) vendidas a preço de banana.
Identidade com os tucanos
É também reveladora do caráter desta mídia venal a crítica interna da jornalista e ombudsman da Folha de São Paulo, Suzana Singer,que acabou vazando e rendendo bons comentários nas redes sociais. Singer revela que recebeu, num só dia, 141 mensagens de crítica ao jornal pela matéria publicada sobre o assunto e elencou os cinco motivos das críticas: “1) ter [o texto da Folha] um viés de defesa dos tucanos; 2) não ter apresentado Amaury Ribeiro Jr. devidamente e não tê-lo ouvido; 3) exigir provas que são impossíveis (ligação das transações financeiras entre Dantas e Ricardo Sérgio e as privatizações); 4) não ter esse grau de exigência em outras denúncias, entre as mais recentes, as que derrubaram o ministro do Esporte (cadê o vídeo que mostra dinheiro sendo entregue na garagem?); 5) não ter citado que o livro está sendo bem vendido”. Além da identidade política e ideológica, interesses mais terrenos ajudam a explicar a conduta do PIG, conforme sugeriu o jornalista Amaury Ribeiro Jr em recente debate sobre o tema promovido pelo Centro de Estudos Barão de Itararé: “Se CPI for aberta, vou avisar que o que está no livro é pequeno. Vai chegar à sociedade a forma como a editora de uma grande revista e veículos de comunicação tiveram dívidas perdoadas depois da privatização", adiantou.
A necessidade de uma CPI é mais que óbvia, mas o PIG fará das tripas coração para impedir a apuração e manter, através da conspiração do silêncio, a imundície tucana sob o tapete.
Postado por Miro às 13:02
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