Pinçado do Vermelho. (MIF)
Nelson Cavaquinho, o “profeta dos desenganos”
O compositor completaria 100 anos no dia 29. Ele, que deixou nosso convívio há 25 anos, permanece com sua obra na vida dos brasileiros com seu canto vívido que registra os anseios e experiências do povo mais humilde.
Por Marcos Aurélio Ruy*
Nelson Cavaquinho foi o homenageado por sua escola do coração, a Mangueira, no carnaval deste ano pelo centenário de seu nascimento. O enredo “O filho fiel, sempre Mangueira” traduziu na avenida a trajetória de um dos maiores sambistas do país, representante da chamada velha guarda da Mangueira.
Para muitos ele era o “profeta dos desenganos”, das desilusões amorosas, das angústias da vida, devido aos seus sambas com certa dose de pessimismo, Nelson Antônio da Silva nasceu no dia 29 de outubro de 1911 e ganhou o apelido de Nelson Cavaquinho por tocar esse instrumento nas rodas de choro que frequentava na juventude. O apelido permaneceu mesmo após ele trocar o cavaquinho pelo violão.
Seu pai era músico da banda da Polícia Militar carioca e ele próprio tornou-se policial fazendo rondas noturnas a cavalo pela cidade. Dessa maneira estabeleceu contato com músicos boêmios como Cartola e Carlos Cachaça entre outros. E adotou a Mangueira como usa escola de samba, aderiu ao ritmo brasileiro, à boemia e evidente largou o trabalho na PM.
Arte e vida
“Totalmente desapegado de bens materiais, vendeu grande parte de sua produção, ou pagou dívidas dando parcerias a desconhecidos”, diz Arley Pereira em “A história da música popular brasileira por seus autores e intérpretes”, relatando uma prática comum dos sambistas da época em vender seus trabalhos ou vender parcerias para terem um dinheiro mais rápido nas mãos, muitos fizeram isso. Essa atitude de Nelson acabou por barrar suas parcerias com o grande Cartola, que não aceitava vender seus trabalhos. Para não haver rompimento entre eles decidiram não trabalhar juntos para manter a amizade. Segundo Arley, “a melhor fase de seu trabalho surge quando se une com Guilherme Brito” e complementa que Nelson “jamais conseguiu (nem pretendeu) ganhar mais que o necessário para sobreviver”.
Nelson Cavaquinho eternizou canções na memória dos brasileiros como “A flor e o espinho”, “Rugas”, “Folhas Secas”, “Quando eu me chamar saudade”, “Eu e as flores”, Juízo final”, entre as mais de 400 canções que deixou. Sua primeira canção gravada foi “Não faça vontade a ela”, em 1939. Porém, apenas quando foi descoberto por Cyro Monteiro, anos mais tarde, é que Nelson se destacaria no meio artístico. Seu primeiro disco só apareceu em 1970 com o nome “Depoimento de poeta”.
Suas obras sempre tiveram um toque fortemente religioso, como em “Juízo Final”, onde diz: “O sol há de brilhar mais uma vez/A luz há de chegar aos corações/Do mal será queimada a semente/O amor será eterno novamente”. Como se vê em raro momento poético e otimista desse grande músico-poeta com uma crença num futuro promissor, pois ele diz na música “Quero ter olhos pra ver/A maldade desaparecer”. Usa de uma figura bíblica, o juízo final, e faz uma concatenação positiva de futuro. Já em “A flor e o espinho” canta: “Espinho não machuca a flor / Só errei quando juntei minh’alma a sua/O sol não pode viver perto da lua”.
O grande compositor morreu em 18 de fevereiro de 1986, aos 74 anos, de enfisema pulmonar. Foi gravado por Cyro Monteiro, Clara Nunes, Beth Carvalho, Chico Buarque, Cazuza, Maria Bethânia, Elizeth Cardoso, entre muitos outros grandes intérpretes. Nelson Cavaquinho enobrece a cultura brasileira com suas músicas autênticas e delicadas contando a vida do morro e a sua própria através de amores e desamores, através da vida. A obra desse grande artista nacional merece destaque em seu centenário e em toda a vida cultural brasileira.
Embora não fale explicitamente de política ou questões sociais, sua obra cantou a vida dos morros, da periferia, do pobre, enfim a vida e inquietações dos brasileiros
Nelson Cavaquinho, o “profeta dos desenganos”
O compositor completaria 100 anos no dia 29. Ele, que deixou nosso convívio há 25 anos, permanece com sua obra na vida dos brasileiros com seu canto vívido que registra os anseios e experiências do povo mais humilde.
Por Marcos Aurélio Ruy*
Nelson Cavaquinho foi o homenageado por sua escola do coração, a Mangueira, no carnaval deste ano pelo centenário de seu nascimento. O enredo “O filho fiel, sempre Mangueira” traduziu na avenida a trajetória de um dos maiores sambistas do país, representante da chamada velha guarda da Mangueira.
Para muitos ele era o “profeta dos desenganos”, das desilusões amorosas, das angústias da vida, devido aos seus sambas com certa dose de pessimismo, Nelson Antônio da Silva nasceu no dia 29 de outubro de 1911 e ganhou o apelido de Nelson Cavaquinho por tocar esse instrumento nas rodas de choro que frequentava na juventude. O apelido permaneceu mesmo após ele trocar o cavaquinho pelo violão.
Seu pai era músico da banda da Polícia Militar carioca e ele próprio tornou-se policial fazendo rondas noturnas a cavalo pela cidade. Dessa maneira estabeleceu contato com músicos boêmios como Cartola e Carlos Cachaça entre outros. E adotou a Mangueira como usa escola de samba, aderiu ao ritmo brasileiro, à boemia e evidente largou o trabalho na PM.
Arte e vida
“Totalmente desapegado de bens materiais, vendeu grande parte de sua produção, ou pagou dívidas dando parcerias a desconhecidos”, diz Arley Pereira em “A história da música popular brasileira por seus autores e intérpretes”, relatando uma prática comum dos sambistas da época em vender seus trabalhos ou vender parcerias para terem um dinheiro mais rápido nas mãos, muitos fizeram isso. Essa atitude de Nelson acabou por barrar suas parcerias com o grande Cartola, que não aceitava vender seus trabalhos. Para não haver rompimento entre eles decidiram não trabalhar juntos para manter a amizade. Segundo Arley, “a melhor fase de seu trabalho surge quando se une com Guilherme Brito” e complementa que Nelson “jamais conseguiu (nem pretendeu) ganhar mais que o necessário para sobreviver”.
Nelson Cavaquinho eternizou canções na memória dos brasileiros como “A flor e o espinho”, “Rugas”, “Folhas Secas”, “Quando eu me chamar saudade”, “Eu e as flores”, Juízo final”, entre as mais de 400 canções que deixou. Sua primeira canção gravada foi “Não faça vontade a ela”, em 1939. Porém, apenas quando foi descoberto por Cyro Monteiro, anos mais tarde, é que Nelson se destacaria no meio artístico. Seu primeiro disco só apareceu em 1970 com o nome “Depoimento de poeta”.
Suas obras sempre tiveram um toque fortemente religioso, como em “Juízo Final”, onde diz: “O sol há de brilhar mais uma vez/A luz há de chegar aos corações/Do mal será queimada a semente/O amor será eterno novamente”. Como se vê em raro momento poético e otimista desse grande músico-poeta com uma crença num futuro promissor, pois ele diz na música “Quero ter olhos pra ver/A maldade desaparecer”. Usa de uma figura bíblica, o juízo final, e faz uma concatenação positiva de futuro. Já em “A flor e o espinho” canta: “Espinho não machuca a flor / Só errei quando juntei minh’alma a sua/O sol não pode viver perto da lua”.
O grande compositor morreu em 18 de fevereiro de 1986, aos 74 anos, de enfisema pulmonar. Foi gravado por Cyro Monteiro, Clara Nunes, Beth Carvalho, Chico Buarque, Cazuza, Maria Bethânia, Elizeth Cardoso, entre muitos outros grandes intérpretes. Nelson Cavaquinho enobrece a cultura brasileira com suas músicas autênticas e delicadas contando a vida do morro e a sua própria através de amores e desamores, através da vida. A obra desse grande artista nacional merece destaque em seu centenário e em toda a vida cultural brasileira.
Embora não fale explicitamente de política ou questões sociais, sua obra cantou a vida dos morros, da periferia, do pobre, enfim a vida e inquietações dos brasileiros
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