sexta-feira, 29 de outubro de 2010

TRÉPLICA: DESEMBARCANDO DA ATUALIDADE

DESEMBARCANDO DA ATUALIDADE

Marcos Inácio Fernandes*

“A ideologia da direita é o medo.” (Simone de Beauvoir)

Recebo com carinho a tentativa de auxílio do Dr. Julinho, do PV, a fazer-me embarcar na atualidade. Julinho veio em meu socorro através do artigo: “Para aqueles que ainda acham que existe direita e esquerda na política”,(que é o meu caso), uma réplica ao texto, também publicado aqui no Página 20, “A direita veste verde”, onde faço uma abordagem histórica sobre a origem da direita no Brasil, com o Integralismo, e critico a postura do PV e da Marina no processo eleitoral nesse 2º turno. Parabenizo-o pela coragem de polemizar, que é sempre benvinda, mas receio que, nesse campo, você não tenha o mesmo brilhantismo e a mesma competência que desfruta na sua profissão médica na área de ginecologia e obstetrícia. Nem a fórcipes você me leva a embarcar nessa canoa furada rumo a essa “atualidade” apregoada pelos teóricos neoliberais, direitistas, que defendem que essa distinção (direita X esquerda), não tem mais sentido, que o socialismo acabou com a queda do muro de Berlim e que a história chegou ao fim, como vaticinou Francis Fukuyama. São todos desmentidos pelos fatos e acontecimentos do dia a dia, cujos exemplos mais emblemáticos são: o 11 de setembro, quando os Estados Unidos foram golpeados pela 1ª vez no seu próprio território, e a mais recente crise do capitalismo na sua fase globalizada, quando o Estado saiu em socorro do Mercado e da burguesia financeira. Mas antes de refutar alguns pontos do seu artigo, quero reconhecer e confessar, que sou um “jurássico”, um “bolchevique” formado na velha escola política do Partidão, matriz de toda esquerda brasileira, que ainda crê a acredita na utopia socialista. Estou aposentado porque sou do tempo que “violão não dava choque”, “pandeiro tinha couro”, “toda geladeira era branca”, “todo telefone era preto”, “surra dos Paes não traumatizavam” e “homem só casava com mulher”. Já estou na 3ª fase cronológica dos “ENTA”(40,50,60, 70, 80 e 90 anos) Sessentão sim, (62 anos), mas com tudo funcionando. Sou um saudosista e um otimista compulsivo. Sei que o novo sempre vem e é melhor, mas nunca desprezo uma coisa por ser velha e também não desprezo o retrovisor (a história passada) para entender o presente e vislumbrar melhor o futuro. Como disse José Ortega Y Gasset em A Rebelião das Massas: “o passado não nos dirá o que devemos fazer, mas sim o que devemos evitar.” E uma coisa que devemos evitar na política, definitivamente, é ficar em cima do muro. Porque líder não se omite. Escolhe um lado e luta. A história está repleta de exemplos dessa natureza. Na 2ª Guerra, Churchil declarou: “se Hitler invadisse o inferno eu apoiaria o demônio”. Aqui no Brasil, Prestes aderiu ao “Queremismo” (queremos Getúlio), que havia entregue sua esposa e sua filha, Olga Benário e Anita Leocádia Prestes, aos nazistas. Quando lhe perguntaram o porque do apoio ao seu algoz, o velho comunista respondeu, mais ou menos nesses termos: “ eu não posso me dar ao luxo de deixar que os meus dramas pessoais interfiram nas questões políticas.” A posição atual da Marina de não abrir o voto alegando “não acreditar em voto de manada” é até deselegante com seus próprios eleitores que embarcaram na “onda verde”. Terão sido esses votos também de manada? Terão sido votos atraídos pelo berrante da Rede Globo, que concedeu generosa cobertura a candidata na reta final do 1ª turno? A mim me parece, que Marina ainda guarda mágoa e ressentimentos da sua relação com Dilma e Lula de quando estava no governo. A luz do Evangelho e da Política, mágoas e ressentimentos não são “virtudes” a serem cultivadas. Mas hoje os Verdes podem lavar as mãos e ensaboá-las com produtos da Natura. Agora que Serra, vai aumentar o salário mínimo para 600 reais, conceder 0 13º ao Bolsa Família e assumir o “desmatamento Zero”, não falta mais nada para os Verdes ingênuos, e que não olham para o retrovisor, assumirem sua candidatura.
Eu garanto a você, Julinho, que a direita e esquerda são conceitos políticos atualíssimos e fazem parte do vocabulário político desde a Revolução Francesa, quando foram criados. E nessas eleições eles protagonizaram a discussão da campanha dentro e fora do país. Veja o que disseram os líderes históricos do Movimento Verde na Europa, que manifestaram em carta seu apoio a Dilma: “ a manutenção da esquerda no poder é a única possibilidade real de fazer avançar a causa ecológica no país. A vitória da direita representaria o triunfo do complexo agro-industrial e dos céticos em matéria de aquecimento global.Os Verdes europeus alertam também sobre José Serra. “Por trás dele, a direita brasileira vem mobilizando tudo o que há de pior em nossas sociedades: preconceitos sexistas, machistas e homofóbicos, juntos com interesses econômicos os mais escusos e míopes. A direita sai do porão” afirma a carta. Taí, seus correligionários europeus, usando os termos em profusão.
Você cita o sociólogo Britânico Anthony Gidens, que diz que “desde a segunda guerra os termos perderam a pujança”. Também Christopher Lasch em A Rebelião da Elites (Ediouro,1995) diz:”A velha disputa entre esquerda e direita esgotou a sua capacidade de esclarecer questões e providenciar um mapa confiável da realidade.” Eu não vou por aí. Adoto e recomendo a leitura do filósofo político italiano, Norberto Bobbio, que escreveu um livrinho, que já se tornou um clássico da literatura política: “Direita e Esquerda. Razão e Significados de uma Distinção Política. Eis um trecho: “os conceitos direita e esquerda são anteriores as polêmicas capitalismo versos socialismo e abrangem atitudes políticas mais amplas (...) Elas continuam a servir como pontos de referência indispensáveis; são de esquerda as pessoas que se interessam pela eliminação das desigualdades sociais, ao passo que a direita insiste na condição de que as desigualdades são naturais e, enquanto tal, inelimináveis.” (BOBBIO,1993).
Por fim Julinho, lhe afirmo que passa longe de mim destratar um aliado da Frente como o PV, nem tampouco a Marina, por quem nutro grande respeito, já externado publicamente.Mas isso não me impede de externar a minha opinião de achar equivocada a postura do PV e da Marina nessa eleição, especialmente no 2º turno. Vocês tinham 28 milhões de razões para hipotecar apoio integral ao projeto político que Lula está conduzindo e cuja continuidade é Dilma. Quer coisa mais ecológica do que tirar 28 milhões de pessoas da miséria absoluta?!! Quer sustentabilidade econômica e social maior do que elevar 36 milhões de pessoas à classe média, dinamizando nosso mercado interno?!! Para tomar uma decisão favorável ao nosso lado também bastaria olhar o mapa do Brasil mostrando o contraste entre o vermelho e o azul na distribuição dos votos no 1º turno. O azul, do Serra, predomina no arco do desmatamento, na região mais antropizada do Acre e em São Paulo, cada vez mais poluído por sucessivos governos tucanos. Eu, definitivamente, não embarco na ideologia do medo da direita. Sem medo de ser feliz, no domingo, vou de vermelho, a cor da esquerda, não por conveniência mas com profunda convicção votar 13, DILMA SIM, porque eu não penso só em mim.



Beth Oliveira para mim
mostrar detalhes 18:32 (3 horas atrás)

Meu amigo GOTA SERENA, que brilhantismo.... adorei o artigo. me serviu de desabafo.... PARABENS...
BETH

Homero Costa para mim
20:02 (1 hora atrás)


Marquito, gostei de sua resposta. Está muito bem escrita e assino embaixo
abraço
Homero

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