quinta-feira, 10 de julho de 2014

SURPREENDENTE!!





SURPREENDENTE !!
(Só fazendo como o time de Teixeira – jogar descalço)
Marcos Inácio Fernandes*
Enfim, o caos. A Alemanha reproduziu no gramado do Mineirão, a blitzkrieg que fizeram na Europa no início da 2ª guerra Mundial, quando invadiram a Polônia, anexaram a Áustria e ocuparam a França, sem encontrar nenhuma resistência. Naquela época, no campo bélico, foi um passeio. Agora, no campo de futebol do Mineirão, contra o Brasil, foi outro passeio. Os germânicos nos derrotaram por 7 a 1 e podia ter sido de mais. Quem sintetizou muito bem o que aconteceu, foi meu amigo André: “foram tantos gols, que nem deu tempo de ter raiva”.
Ficou todo mundo perplexo e surpreendido com o placar tão elástico, a maior goleada que a seleção já levou na sua história. Agora, mas o que mais me surpreendeu, foi ter pessoas que acertaram o placar, coisa que me parecia impossível, e os comentários dos “especialistas” da crônica esportiva, quase todos,  a cata de bodes expiatórios e a reação dos vira-latas vibrando e se regozijando com o resultado. Dessa turma eu tenho nojo e quero distância.
O “caos” que anteciparam e difundiram com o #Não Vai Ter Copa, pois ia até faltar bola e apito, não se concretizou. Politizaram o evento e secaram o Brasil, de tal forma, que não estamos na final. Nosso time não teve tranqüilidade para jogar nem estabilidade emocional para encarar placar desfavorável.  Jogou sob muita pressão e com a obrigação de ganhar e foi o que se viu. – Humilhado em campo. O consolo é que podia ter sido um placar ainda mais dilatado e perdemos na bola sem apelar para a violência e a deslealdade.
Mas ninguém morreu por conta da acachapante derrota e a vida segue. Passada a perplexidade, ficamos conversando com os amigos na casa do Tadeu, que contou uma façanha do time de Teixeira na Paraíba num jogo contra o time de Patos. O time de Teixeira estava perdendo de 10 a zero no primeiro tempo aí eles perguntaram: agente pode jogar sem chuteiras? Eles jogaram descalços e viraram o jogo ganhando de 11 a 10 do time de Patos. Talvez tenha sido isso, que tenha faltado ao Brasil – jogar com espírito de peladeiros, jogar com prazer e naturalidade e não com a responsabilidade de “salvadores da pátria”.
Eu também me lembrei das coisas nefastas por conta do fanatismo futebolístico e da tragédia que pode acarretar. O fato. Numa das minhas férias em Natal, fui engraxar meus sapatos com um dos engraxates, que ficava nas imediações da Praça Kennedy, no Grande Ponto, que o povo rebatizou como “Praça das Cocadas”. Conversa vai, conversa vem, entrou um assunto sobre futebol e o engraxate me contou que tinha se convertido ao Evangelho e nunca mais havia pisado num Estádio de futebol. O motivo foi o seguinte: Ele disse que era um torcedor fanático do América do RN e numa decisão de ABC e América, ele amolou uma peixeira dos dois lados e foi para o Juvenal Lamartine, cheio de cachaça, disposto a matar e morrer. Postou-se no “frasqueirão” onde ficava a geral com a torcida mais fanática do ABC e gritou a valer provocando os torcedores do “mais querido”, doido que algum torcedor fosse tomar satisfação e o hostilizasse. Ele me disse que ocorreu um verdadeiro milagre, pois ninguém o molestou. Quando passou mais o efeito da bebida ele se deu conta da loucura que estava fazendo, bateu uma crise de choro e ele jogou fora a faca e jurou nunca mais por os pés num Estádio. Digo isso prá dizer que o futebol, que é capaz realçar as paixões e a fidelidade do torcedor não devia chegar ao extremo de provocar instintos mórbidos e selvagens contra adversários.
Outro tema que entrou na conversa foi a fixação do Felipão por manter Fred no time, em que pese, ele não ter correspondido dentro de campo. Eu me lembrei da Glosa de Laélio Ferreira de Melo, que ele fez com o seguinte Mote:
O centefor do “Angicos” / Só tinha um olho e jogava.
Glosa:
“Inimigo dos fuxicos
 da sua terra escabrosa
Mania tinha, sebosa,
O centefor do Angicos.
Comia muitos furicos,
 Muita bundinha papava;
No treinador se encostava
Durante a concentração;
Ganhava, assim posição –
Só tinha um olho, e jogava.”
A gente sabe que Felipão é muito macho e também muito teimoso.  Ele escolheu os melhores,  montou a sua base e deu oportunidade a muitos jogadores. Ele mostrou toda a sua dignidade quando assumiu a derrota como de sua responsabilidade. Registre-se, ademais, que todos os nossos atletas deram o máximo dentro de campo e, se não renderam o que se esperava deles, foi porque muitos outros fatores, extra-campo, interferiram no desempenho da equipe. Não adianta agora crucificar ninguém e procurar culpados e bodes expiatórios.
Que essa derrota faça aflorar, definitivamente, a crise que há muito tempo ronda o futebol brasileiro, que precisa rediscutir o papel da CBF, dos clubes, dos cartolas, do calendário dos campeonatos, da lei Pelé, dos patrocínios, das transmissões futebolísticas monopolizadas pela Globo e muitas outras variáveis, que está comprometendo o futebol brasileiro e arrefecendo a paixão do brasileiro por esse esporte, que é um traço da nossa cultura.
Espero, que essa derrota que nos deixou humilhados, redunde numa CRISE no nosso futebol, pois toda crise encerra perigos e oportunidades, como nos ensina a filosofia milenar chinesa.
Que saibamos afastar os perigos e descobrir as oportunidades, para que o nosso futebol possa voltar a desempenhar o seu papel lúdico e mágico e voltar a nos encantar a todos.

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