segunda-feira, 7 de outubro de 2013

MARINA TECENDO O "PLANO C" DE SUA REDE


Marina Tecendo o “Plano C” de sua REDE

 *Marcos Inácio Fernandes


 “Marina quis aproveitar as manifestações para anabolizar sua candidatura, mas se as manifestações foram “contra tudo que aí está” e Marina fez “tudo que aí se faz” então alguma coisa soa falso, as manifestações ou a Marina” (Um leitor chamado Fernando comentando um post do Luís Nassif) 

Afinal, Marina se decidiu por um “plano C” e pegou todo mundo de surpresa e mexeu no tabuleiro político/eleitoral, aliando-se ao PSB do presidenciável Eduardo Campos.
 Alguns analistas consideram uma jogada sofisticada, outros uma vingança, e outros mais, uma capitulação a “real política,” que a Rede da Sustentabilidade pretendia sepultar.
 Vou externar minha opinião, mas, primeiro quero fazer algumas considerações sobre a pessoa da Marina, que nós da esquerda do Acre, conhecemos de perto e a respeitamos e consideramos uma figura humana de extraordinário valor. Uma cidadã do seringal Bagaço que se projetou como cidadã do mundo.
 Ultimamente, tenho feito algumas críticas as posturas políticas da Marina, desde a sua saída do PT e sua mudança de credo religioso, que a fez se aproximar de teses fundamentalistas.
 Nessa questão de crença eu não me meto. Tenho uma desconfiança que entre Cristo e o Cristianismo (Católico e Evangélico) não escapa nem a cruz. Também sou muito cético em relação a uma religião, que tem como símbolo principal, um instrumento de tortura, dolorosíssimo, que é a cruz.
 Política e religião quando se misturam dá uma combustão explosiva para a sociedade, que geralmente desemboca na intolerância, no ódio, na vingança, na ingratidão e em outros sentimentos, que passam longe dos ensinamentos cristãos. Daí que Maquiavel já nos ensinava: “o poder pode ser tudo, menos divino”.
 Então, Marina “que tinha fé em Deus’ que sua Rede seria aprovada no TSE, apesar de não ter realizado as assinaturas de apoio certificadas, conforme a lei determina, viu sua legenda não ser chancelada pelo Superior Tribunal Eleitoral por unanimidade de 6 a zero.
 Considero o voto a favor de Gilmar Mendes, que foi a favor, um voto político, um voto de militante sem embasamento legal e jurídico, como já ficou caracterizado seus votos no STF.
 Ficou sem o registro e não tinha um plano “B” como seus seguidores cobravam. Deus lhe faltou no TSE. Mas, sem Marina no processo eleitoral, havia um sério risco de Dilma ganhar no 1º turno e aí a pressão dos seus apoiadores empresariais (Natura, banco Itaú, rede Globo), uma rede de sonegadores de impostos ao fisco e, por conseqüência, ao povo brasileiro, exigindo sua participação no processo eleitoral, que já está em curso.
 Daí surge o plano “C”, eu digo caído do céu, com Eduardo Campos e Marina e o PSB absorvendo a Rede, que existe de fato mas não de direito, nas asas de sua pombinha branca.
 E Marina que começou a sua trajetória política no Partido Revolucionário Comunista – PRC, fazendo a dupla militância no PT, quando o entulho autoritário ainda não estava varrido de todo. Agora, em pleno Estado Democrático de Direito, ela volta a exercitar a dupla militância no PSB, com a sua Rede, que não quer ser partido e que não está clandestino, como os partidos comunistas de outrora.
 O mais coerente, para quem quer construir o novo e se transformar numa força social e de opinião da sociedade brasileira, seria continuar tecendo a rede, colhendo as assinaturas que faltaram, certificando-as, fazendo o debate político e se estruturando para participar do embate eleitoral em 2016, com candidaturas próprias e a legenda organizada.
 Prá quem não teve competência e/ou negligenciou a burocracia de se conseguir as assinaturas, é um equivoco ficar culpando os cartórios e desqualificando o TSE, ou insinuando teorias conspiratórias.
 Marina devia ter se espelhado no PT do Acre que ela ajudou a estruturar, para organizar sua Rede. Naqueles idos de 1980/1, a legislação era mais severa, não havia internet, o Acre passava por uma mudança na sua base produtiva, havia conflitos no campo, perseguições de autoridades aos militantes, assassinatos de lideranças, acusações que o PT seria divisionista, etc, etc. Apesar de tudo isso o partido se organizou e em 1982, mesmo coma Lei Falcão, participou das eleições para Governador com chapa pura e lançou mais de 200 candidatos em todo o Estado, inclusive 17 mulheres.
 Também é bom lembrar, que o PT levou mais de 2 décadas para chegar ao Governo do Brasil. Uma caminhada de muitas derrotas eleitorais Brasil afora e ainda está muito longe de estabelecer sua hegemonia na sociedade brasileira. Mas Marina preferiu o atalho e a forma mais confortável de ser protagonista importante nas eleições de 2014. Num ato que considero de desprendimento político, vai emprestar seu nome para vice – presidente na chapa de Eduardo Campos. Não acredito que ela tenha feito isso por vingança. Acredito que haja um certo ressentimento com a Presidenta Dilma, que espero que não seja extensivo ao Lula e ao PT e que esta questão, de caráter pessoal, o tempo se encarregue de amenizar e não embote os sentimentos cristãos da Marina. Recomendo a leitura do Breviário dos Políticos do Cardeal Giulio Mazzarino (1602-1661) que pontifica: “Abomina o desprezo e a vingança... Se deves te vingar, que o faças por meio de um terceiro; e isto incógnito”.
 Ainda tem muitos pontos a serem costurados nessa nova Rede/PSB. Muita gente ficou decepcionada com a Marina, muita gente destrata o Campos, considerando-o “traíra”,etc, etc. Eu não me filio a esse pessoal. Acho que todo grande partido que se preza devia concorrer nas eleições, que é um espaço privilegiado de fazer seu proselitismo político, de se mostrar para a sociedade. Cada um com a sua identidade, com suas propostas.
 Todo mundo sai com suas forças. Havendo 2º turno, aí faz-se as alianças conforme as afinidades políticas e o conteúdo programático de cada partido. Simples assim. 
Considero que a aliança Campos/Marina foi inusitada, e ela impacta mais no PSDB e na candidatura de Aécio Neves, que sofre o risco de nem concorrer a continuar patinando nas pesquisas e ser atropelado internamente pelo Serra. Vamos vê se a Marina é capaz de transferir votos, que seja capaz de levar Eduardo Campos além da ponte Petrolina/Juazeiro e chegue pelo menos na ponte Rio/Niterói.
 Por enquanto, a continuar as condições de temperatura e pressão (economia crescendo um pouco, pleno emprego, ganhos salariais, menor desigualdade, etc, etc.) Dilma é a favorita e ainda conta com um eleitor especial, que atende pelo nome de Luís Inácio Lula da Silva, esse sim, transfere votos.
 E se nesse processo eleitoral, Campos e Marina fizerem muita onda teremos o Lula para surfar nela. Estou tranqüilo.

 Um adendo final. Quando elaborei minha Dissertação de Mestrado sobre o PT do Acre, em 1999, tinha 6 exemplares encadernados. Três ficava com o Departamento de Pós-Graduação e Biblioteca da UFAC e três ficaram comigo. Dedique um exemplar a Fundação Perseu Abramo do PT, que entreguei em mãos ao José Dirceu, que se encontrava em Rio Branco, para ele ser o portador e dediquei o outro exemplar à Marina, já Senadora da República, no Congresso Nacional. Fiquei com um “filho único”, que depois digitei e disponibilizei na internet.
 Fecho o meu trabalho com um depoimento da Marina que diz o seguinte:

 “Eu acho que hoje no Acre está acontecendo um verdadeiro milagre! Quando a gente começou esse movimento todo, desde os sindicatos, entidades, PT, partidos de esquerda, movimentos da Igreja Progressista parecia impossível à gente quebrar a lógica do poder aqui que era MDB e PDS. De repente, a partir de 90, a gente vê a possibilidade de uma outra força político assumir da forma mais positiva possível, pensando na melhoria de vida das pessoas, respeitando esse Estado, preservando o nosso meio ambiente, expulsando os oportunistas, como Branquinho, que a gente botou pra correr daqui, e hoje a gente tem condições de mostrar, na prática, através de nossa administração, quanto é possível fazer um trabalho com honestidade, com competência, com respeito pelo dinheiro público, pela vida das pessoas e dando um segundo passo para desbaratinar o esquema de poder centrado na corrupção, que existe no Acre. Então, para mim, isso é um verdadeiro milagre.” (Entrevista concedida ao autor em 05/09/1996).

 Na quadra atual da vida política brasileira, Marina quer repetir o “milagre” de quebrar com a polarização de PT e PSDB. Espero que esse “milagre” se realiza em parte com o PSB sendo capaz de suplantar o PSDB e se construa uma nova polarização pela esquerda.

 Segundo Hannah Arendt em a Dignidade da Política, ela diz que a política termina em uma crença nos milagres e que os milagres só a política pode viabilizar. Aguardemos.

 *Marcos Inácio Fernandes é professor aposentado da UFAC e militante do PT

PS - Nessa posição de "vice" Marina, sou mais o meu Vasco, que já tem tradição.

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