domingo, 28 de setembro de 2008

A ESTRELA SOBE E O IMPÉRIO DECLINA















Deu no Blog do Fernando Rodrigues.





Pesquisas apontam para forte avanço do PT em capitais e em cidades grandes
As pesquisas de opinião disponíveis mostram que o PT deve ser o grande vencedor nas cidades de grande porte (com mais de 200 mil eleitores) e nas capitais. É claro que a cidade de São Paulo é a mais emblemática de todas (8,2 milhões de eleitores) e um fracasso de Marta Suplicy poderá desbotar as outras eventuais vitórias petistas.

Feita a ressalva, o fato é que o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está para atingir um marco histórico: será a única legenda do pós-ditatura militar que a cada eleição municipal, desde 1982, sempre conquistou mais prefeitos a cada pleito. Nas capitais e cidades médias e grandes o PT teve alguma irregularidade (em 2004 elegeu menos do que em 2000), mas agora deve sua melhor marca.
O melhor indicador a ser observado é o chamado G-79: as 26 capitais e os 53 municípios com mais de 200 mil eleitores (onde pode haver segundo turno caso um dos candidatos não obtenha pelo menos 50% mais um dos votos válidos). Essas 79 cidades abrigam 46.819.495 eleitores, o equivalente a 36,4% do total dos que votam neste ano. Haverá eleição em 5.563 municípios, mas a nata da nata são os que estão no G-79.
Por enquanto, há pesquisas em 77 dessas 79 cidades. Uma amostra mais do que suficiente para saber o que pode acontecer domingo que vem, no primeiro turno.
O G-79, por óbvio, era menor em outras eleições. Em 2004, era G-72, pois menos cidades tinham mais de 200 mil eleitores. Para efeito de comparação, o blog fez uma relação, abaixo, de como os partidos se comportaram nas 79 cidades nas últimas eleições.
Como se observará, os candidatos do PT aparecem em condições de competir em 33 cidades. Muito à frente do segundo colocado, o PMDB, com 22 cidades, e o PSDB, com 20 cidades:








A EROSÃO DO IMPÉRIO

Analista do serviço secreto dos EUA, Thomas Fingar, acha que o poder de seu país está erodindo. E vai erodir mais, num passo acelerado.
A avaliação de Fingar foi feira em uma conferência para seus colegas de profissão, no início do mês.
E, a seguir, reprodução do texto publicado ontem (21.set.2008) no caderno Mais!, da Folha.

Líder da inteligência dos EUA prevê declínio da influência mundial de Washington, mas não vê nenhum país à altura de substituí-lo Intelectuais de esquerda e desafetos dos EUA ganharam um aliado de peso para os argumentos e vaticínios sobre o declínio norte-americano. Surgiu uma análise tão heterodoxa quanto sombria no coração do império, dentro de uma de suas instituições mais tradicionais, o serviço secreto do país.

Eis o prognóstico de Thomas Fingar, presidente do Conselho Nacional de Inteligência dos EUA: "A dominação americana será muito reduzida [até 2025]. A esmagadora dominância que os EUA desfrutaram no sistema internacional nas áreas militar, política e econômica e, discutivelmente, na área cultural está erodindo e vai erodir num passo acelerado, com a exceção parcial do setor militar".

Fingar falava numa conferência de agentes e analistas do setor de informações norte-americano. A transcrição de sua palestra está disponível na internet [leia quadro ao lado].

Ele é considerado um dos mais importantes intérpretes da chamada "comunidade de inteligência" dos EUA, uma intricada teia de agências que incluem a CIA e vários outros órgãos cuja obrigação é coletar dados para análise estratégica do governo.

Ao expor seu ponto de vista, Fingar resumia o conteúdo dos briefings oferecidos pelo serviço secreto aos dois candidatos principais a presidente dos EUA, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain. É costume esse tipo de reunião entre agentes de inteligência e políticos no período pré-eleitoral.

Após a eleição, o novo presidente receberá um trabalho completo do serviço secreto, com uma avaliação de cenários possíveis para os EUA e para o mundo até 2025. O ocupante da Casa Branca usará documentos como esse na formulação de sua política nos próximos quatro anos.

Sobre o processo de globalização, Fingar enxerga mais desigualdade. "A distância entre ricos e pobres -internacionalmente, regionalmente- vai crescer." Seria necessário, diz ele, uma reforma de várias estruturas de "tremendo sucesso" (FMI e Banco Mundial, entre outras), mas que ficaram obsoletas para "tratar dos desafios, das conseqüências da globalização". O problema é como implementar tal reforma. Toda idéia vinda dos EUA, "mesmo que seja uma idéia muito boa, estará manchada, se não completamente morta na largada" por causa da péssima imagem do país.

O vácuo não será preenchido tão cedo. Fingar não identifica nenhuma força emergente capaz de exercer o poder de liderança desfrutado pelos EUA no Ocidente no período pós-Segunda Guerra Mundial.

Sobrará aos EUA o poderio militar, mas "menos significante". Não haverá no futuro alguém interessado em "atacar com forças maciças convencionais". Fingar também esboça pessimismo a respeito dos efeitos da mudança climática no planeta sobre a geopolítica mundial. Vislumbra crises políticas provocadas pelas dificuldades derivadas do clima mais severo. Prevê desabastecimento de água em regiões como "o já instável Oriente Médio e a China".

Encontro na Disney
O encontro anual de agentes secretos e analistas de informações norte-americanos de vários escalões foi realizado de 2 a 4 deste mês. Sem se preocupar com a já baixa credibilidade da "comunidade", sobretudo depois do 11 de Setembro, os participantes escolheram como sede do encontro o chamativo Walt Disney World Swan and Dolphin Resort, em Orlando, na Flórida.

A entidade organizadora foi a INSA (Intelligence and National Security Alliance), uma espécie de associação de classe dos arapongas dos EUA. Nome do evento deste ano: "Transformação Analítica 2008 - Vantagem da Decisão para Desafios Futuros".

Integrante da "comunidade" desde 1970 e estrela do encontro na Flórida, além de presidir o Conselho Nacional de Inteligência, Fingar fala alemão e chinês e é vice-diretor da poderosa DNI (Director of National Intelligence), organismo criado após o 11 de Setembro com o objetivo de coordenar e analisar as informações produzidas por todos os escalões governamentais.

Vácuo internacional



O problema, diz Fingar, é não ter surgido uma força mundial capaz de construir uma nova agenda minimamente consensual. Cita como pretendentes Rússia, China e União Européia. Todos têm, na sua opinião, a mesma bagagem negativa dos EUA. "Não há ninguém em posição ou prestes a estar numa posição de, nesse período de tempo [até 2025], tomar a dianteira e instituir as mudanças que certamente precisam ser feitas no sistema internacional."

Nesse trecho de sua fala, é como se Fingar deixasse uma pergunta no ar: qual país teria hoje a força que tiveram os EUA na fase final da Segunda Guerra Mundial para criar novos acordos como os de Bretton Woods, de onde nasceram o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial?
O governo norte-americano foi o grande patrocinador daquele sistema. Representantes do mundo inteiro se dispuseram a passar alguns dias em julho de 1944 num vilarejo no interior da Nova Inglaterra, Bretton Woods, no Estado de New Hampshire.

A participação brasileira é contada com algum detalhe por um dos enviados do país,
Roberto Campos (1917-2001), no seu livro "A Lanterna na Popa" (ed. Topbooks, 1994). Tudo foi determinado pelos EUA, e os outros países foram se encaixando. Agora, essa operação seria inexeqüível -sob o comando de Washington ou de qualquer outro governo.

A palestra de Fingar é instrutiva para conhecer como o establishment norte-americano forma seus juízos de valor e sua visão de mundo. A transcrição de 32 páginas é abrangente, mas muitos países e regiões do mundo ficaram de fora. A palavra "Brasil" não aparece nenhuma vez. "América Latina" surge em um contexto junto com o Sudeste Asiático, quando o assunto é a alocação de pessoal de inteligência norte-americana.

Em resumo, o crescimento brasileiro dos anos recentes e a descoberta do petróleo da camada pré-sal foram insuficientes para colocar o país numa área relevante e abrangida pelo radar da "comunidade de inteligência" norte-americana.



Trechos da palestra de Fingar



A seguir, trechos selecionados e editados da palestra de Thomas Fingar (leia post acima) para agentes e analistas da “comunidade de informações” dos EUA no último dia 4.set.2008. Para ler a transcrição original, em inglês, clique aqui:

Globalização
"O processo de globalização que testemunhamos nas últimas duas décadas continuará a produzir mais riqueza e também mais desigualdade. Portanto, o status geral econômico do mundo vai melhorar. Mas a distância entre ricos e pobres -internacionalmente, regionalmente- vai crescer".

Poderio militar
"Daqui a 15 anos, a dimensão militar [dos EUA] permanecerá como a mais proeminente, mas será a menos significante -ou, pelo menos, menos significante do que é hoje [...]. Ninguém nos atacará com forças maciças convencionais. A nossa defesa nuclear funcionará. Então, a natureza da concorrência internacional são as ameaças cibernéticas, para citar um exemplo. Esse tipo de ameaça não é suscetível a forças militares convencionais. Eis uma situação para decidirmos como investir os nossos dólares em vista da segurança nacional".

Mudanças climática e geopolítica
"A pedido do Congresso, fizemos uma avaliação nacional de inteligência dos efeitos geopolíticos das mudanças climáticas. Olhamos até o ano de 2030, que vai além da meta do nosso estudo, que é 2025 [...]. Um dos pontos a ressaltar é que nada que seja feito de agora até 2030 mudará o impacto projetado da mudança climática até 2030. [...] Haverá mudanças no nível do mar, na temperatura, impacto na agricultura, na disponibilidade de água, no degelo no Ártico, aumentando recursos em alguns locais e reduzindo em outros. O que podemos fazer é nos preparar para mitigar esse impacto. [...] O norte da China já começa a ficar sem água porque estão reduzindo os aqüíferos no subsolo por meio de milhões de tubulações instaladas nos anos 1960, pois é necessário produzir comida para 400 milhões de pessoas".

Organismos obsoletos
"A ONU, a Organização Mundial de Comércio, que sucedeu o GATT, o FMI, o Banco Mundial, as alianças estruturais, sendo a Otan a primeira e mais relevante, foram organizações de tremendo sucesso [...] [Entretanto] nós precisamos de instituições diferentes, revitalizadas, para tratar dos desafios, das conseqüências da globalização".

Incapacidade de liderar
"Eles [organismos multilaterais] precisam ser ajustados, mas nós não temos a capacidade que tínhamos 70 anos atrás para prescrever para o mundo como será o regime a ser adotado. E, de fato, pelo menos por um período, a insatisfação internacional com as ações, atitudes ou comportamentos americanos, com o triunfalismo ou como o queiramos caracterizar, tudo isso significa que o que nós sugerirmos, mesmo que seja uma idéia muito boa, estará manchada, se não completamente morta na largada, só porque a idéia foi nossa".

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