quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
CORRIDA DE JANGADA
CAJUEIRO - O PARAISO DAS NOSSAS FÉRIAS
O Marco de Touros
O início da BR 101, que vai bater em Porto Alegre.
ISIS COM SEUS FILHOTES
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
FOI PEIA NO TÊNIS DE MESA
RECANTO ECOLÓGICO ANA RITA
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
DIA DE REIS
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
AGRICULTURA CAMPONESA X AGRONEGÓCIO
Agricultura Camponesa versus Agronegócio
Alguns números do último Censo Agropecuário do IBGE
A cada 10 anos o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – faz um levantamento, uma pesquisa, indo de casa em casa, para saber como está a vida e a produção no meio rural brasileiro.
O último Censo Agropecuário foi feito em 2006 e publicado em 2009. Esta pesquisa permite fazer um retrato, uma fotografia de como está a vida e a produção na roça e dá para fazer algumas comparações importantes sobre as diferenças entres os grandes e pequenos agricultores, entre o agronegócio e a agricultura camponesa.
Vamos ver alguns números desta pesquisa:
Propriedade e posse da terra
Os pequenos agricultores têm 24% de todas as terras privadas do Brasil.
Quer dizer, de cada 100 hectares de terras, 24 são de camponêses.
Os médios e grandes tem 76% de todas as terras particulares.
De cada 100 hectares, 76 é do agronegócio.
Número de estabelecimentos rurais, propriedades, posses, lotes
Os camponeses possuem mais de 4 milhões e 360 mil estabelecimentos rurais.
Os médios e grandes proprietários somam apenas 807 mil estabelecimentos rurais.
Os grandes proprietários (acima de mil hectares) têm apenas 46 mil imóveis rurais. E os latifundiários (acima de 2 mil ha), são apenas 15 mil fazendeiros, que detém 98 milhões de hectares.
O que produzem
Os camponeses produzem 40% da produção agropecuária do Brasil (medida pelo Valor Bruto da Produção Agropecuária Total), apesar de terem apenas 24% das terras, e ainda, nas piores condições de topografia e fertilidade. Além disso, sabe-se que grande parte da produção do camponês é para auto-sustento, portanto não é vendida.
Os médios e grandes proprietários extraem 60% da produção agropecuária do país, tendo 76% de todas as terras do país, entre elas as mais planas e férteis e melhor localizadas para o mercado.
Valor da produção por hectare
1 hectare da agricultura camponesa fatura, em média, uma renda de R$ 677,00.
1 hectare do agronegócio fatura, em média, uma renda de apenas R$ 368,00.
Quem produz o que o povo brasileiro come
Daquilo que vai para a mesa dos brasileiros, 70% é produzido pelos pequenos agricultores, pelos camponeses.
Só 30% do que vai ao prato dos brasileiros vem das grandes propriedades, que priorizam apenas as exportações, ou seja, não produzem comida, querem produzir apenas "commodities"!
Trabalho para o povo
As pequenas propriedades, dão trabalho para 74% de toda mão-de-obra no campo brasileiro.
As médias e grandes propriedades, o agronegócio, mesmo com muito mais terra, só dão emprego para 26% das pessoas que trabalham no campo. Preferem utilizar mecanização intensiva e muito agrotóxico.
Por isso, o Brasil se transformou, na safra de 2008/2009, no maior consumidor mundial de veneno agrícola. São aplicados 700 milhões de litros de veneno por ano em nosso país.
Quantas pessoas trabalham por hectare
Na agricultura camponesa, em cada 100 hectares, trabalham 15 pessoas.
No agronegócio, em cada 100 hectares, dão emprego para apenas 2 pessoas.
Os recursos do Crédito Agrícola
Os valores do crédito não estão no Censo Agropecuário, mas no Plano Safra. Assim, no Plano Safra 2009/2010 foram destinados R$ 93 bilhões para o agronegócio. E apenas 15 bilhões de reais para a agricultura camponesa. Mesmo assim, sabe-se que apesar da crescente oferta de recursos para a agricultura camponesa, apenas 1,2 milhões de estabelecimentos familiares tem acesso ao crédito, e na ultima safra utilizaram apenas 80% do que esta disponível.
Isto significa que os camponeses utilizam apenas 14% do crédito agrícola do total ofertado pelos bancos, atraves das normas e determinações da política agrícola do governo federal.
Texto do Frei Sérgio Görgen, membro do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) e da Via Campesina/Brasil.
domingo, 3 de janeiro de 2010
OS MILITARES PRECISAM DE AR PURO
02/01/2010
A longa despedida da ditadura
Ainda não surgiu, infelizmente, um ministro da Defesa capaz de tomar para si a única e urgente responsabilidade do titular da pasta sobre as forças armadas brasileiras: desconectar uma dúzia de gerações de militares, sobretudo as mais novas, da história da ditadura militar brasileira. A omissão de sucessivos governos civis, de José Sarney a Luiz Inácio Lula da Silva, em relação à formação dos militares brasileiros tem garantido a perpetuação, quase intacta, da doutrina de segurança nacional dentro dos quartéis nacionais, de forma que é possível notar uma triste sintonia de discurso – anticomunista, reacionário e conservador – do tenente ao general, obrigados, sabe-se lá por que, a defender o indefensável. Trata-se de uma lógica histórica perversa que se alimenta de factóides e interpretações de má fé, como essa de que, ao instituir uma Comissão Nacional da Verdade, o governo pretende rever a Lei de Anistia, de 1979.
Essa Lei de Anistia, sobre a qual derramam lágrimas de sangue as viúvas da ditadura em rituais de loucura no Clube Militar do Rio de Janeiro, não serviu para pacificar o país, mas para enquadrá-lo em uma nova ordem política ditada pelos mesmos tutores que criaram a ditadura, os Estados Unidos. A sucessão de desastres sociais e econômicos, o desrespeito sistemático aos Direitos Humanos e a distensão política da Guerra Fria obrigaram os regimes de força da América Latina a ditarem, de forma unilateral, uma saída honrosa de modo a preservar instituições e pessoas envolvidas na selvageria que se seguiu aos golpes das décadas de 1960 e 1970. Não foi diferente no Brasil.
Uma coisa, no entanto, é salvaguardar as Forças Armadas e estabelecer um expediente de perdão mútuo para as forças políticas colocadas em campos antagônicos, outra é proteger torturadores. Essas bestas-feras que trucidaram seres humanos nos porões, alheios, inclusive, às leis da ditadura, não podem ficar impunes. Não podem ser tratados como heróis dentro dos quartéis e escolas militares e, principalmente, não podem servir de exemplo para jovens oficiais e sargentos das Forças Armadas. Comparar esses animais sádicos aos militantes da esquerda armada é uma maneira descabida e sórdida de manipular os fatos em prol de uma camarilha, à beira da senilidade, que ainda acredita ter vencido uma guerra em 1964.
Assim, ao se perfilarem num jogo de cena melancólico em favor dessas pessoas, o ministro Nelson Jobim e os comandantes militares prestam um desserviço à sociedade brasileira. Melhor seria se Jobim determinasse aos mesmos comandantes que pedissem desculpas à nação, em nome das Forças Armadas, pelos crimes da ditadura, como fizeram os militares da Argentina e do Chile, ponto de partida para a depuração de uma época terrível que, no entanto, não pode ser esquecida. Jobim faria um grande favor ao país se, ao invés de dar guarida a meia dúzia de saudosistas dos porões, fizesse uma limpeza ideológica e doutrinária na Escola Superior de Guerra, de onde ainda emanam os ensinamentos adquiridos na antiga Escola das Américas, mantida pelos EUA, onde militares brasileiros iam aprender a torturar e matar civis brasileiros.
A criação do Ministério da Defesa, em 1999, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, deu-se por um misto de necessidade política e operacional. O Brasil era, então, um dos pouquíssimos países a ter um ministro fardado para cada força militar, o que fazia de cada uma delas – Marinha, Exército e Aeronáutica – um feudo administrativo indevassável e obrigava o presidente a negociar no varejo assuntos que diziam respeito ao conjunto de responsabilidades gerais das Forças Armadas. Do ponto de vista de gerenciamento da segurança nacional, aquele modelo herdado da ditadura era, paradoxalmente, um desastre. Ainda assim, apesar de ter havido alguma resistência na caserna, o Ministério da Defesa foi montado, organizado e colocado em prática.
Faltou, no entanto, zelo na indicação de nomes para a pasta. Desde o governo FHC, o Ministério da Defesa serviu para abrigar políticos desempregados ou servidores públicos sem qualquer ligação e conhecimento de políticas de defesa e realidade militar. A começar pelo primeiro deles, o ex-senador Élcio Álvares, do ex-PFL, acusado de colaborar com o crime organizado no Espírito Santo. Defenestrado, foi substituído, sem nenhum critério, pelo então advogado-geral da União, Geraldo Quintão, praticamente obrigado a aceitar o cargo por absoluta falta de outros interessados. No governo Lula, já foram quatros os ministros da Defesa: o diplomata José Viegas Filho, o vice José Alencar e o ex-governador da Bahia Waldir Pires, além do atual, Nelson Jobim.
Todos, em maior ou menor grau, gastaram tempo e energia em cima das mesmíssimas discussões sobre salários e equipamentos, mas ninguém ousou tratar da questão doutrinária e de novos parâmetros para a educação e a formação dos militares brasileiros. Na Estratégia de Defesa Nacional, elaborada por Jobim e pelo ex-ministro de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger, em 2008, o tema é abordado, simplesmente, em um mísero parágrafo. A saber:
“As instituições de ensino das três Forças ampliarão nos seus currículos de formação militar disciplinas relativas a noções de Direito Constitucional e de Direitos Humanos, indispensáveis para consolidar a identificação das Forças Armadas com o povo brasileiro”.
A polêmica sobre a possibilidade ou não de revisão da Lei de Anistia é um reflexo direto do descolamento quase que absoluto dos quartéis da chamada sociedade civil brasileira, que, a partir de 1985, cometeu o erro de relegar os militares a uma quarentena política aparentemente infindável, da qual eles só se arriscam a sair de quando em quando, mesmo assim, de forma envergonhada e, não raras vezes, desastrada. Basta dizer que, para reivindicar melhores salários, recorrem os nossos homens de farda às mulheres, normalmente, esposas de oficiais de baixa patente e de praças subalternos, a se lançarem em panelaços e acampamentos públicos a fim de sensibilizar os generais. Estes mesmos generais que se mostram tão irritados com a possibilidade de instalação, aliás, tardia em relação a toda América Latina, da Comissão Nacional da Verdade, prevista no Plano Nacional de Direitos Humanos.
Mas, afinal, por que se irritam os generais e, com eles, o ministro Nelson Jobim? Com a possibilidade de, finalmente, o Estado investigar e nomear um bando de animais que esfolaram, mutilaram, estupraram e assassinaram pessoas às custas do contribuinte? Por que diabos o Ministério da Defesa se coloca ao lado de uma escória com a qual sequer existe, hoje em dia, uma mínima ligação geracional na caserna?
O Brasil precisa se livrar da ditadura militar, mas não antes de dissecá-la e neutralizar-lhe as sementes. Os militares de hoje não podem ser obrigados a defender gente como o coronel Brilhante Ustra, o carniceiro do DOI-CODI de São Paulo, nem o capitão Wilson Machado, vítima mutilada pela própria bomba que pretendia explodir, em 1º de maio de 1981, durante um show de música no Riocentro, onde milhares de pessoas comemoravam o Dia do Trabalho. Um Exército que dá guarida e, pior, se orgulha de gente assim não precisa de mais armamento. Precisa de ar puro.
Em tempo: Leandro Fortes é repórter da Carta Capital, onde publicou duas reportagens sobre Gilmar Dantas (*).
sábado, 2 de janeiro de 2010
35 ANOS DE CASADOS
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
PRIMEIRO DO ANO NA HISTÓRIA
1955 - Dia da 1ª Liga Camponesa
Criada a 1ª Liga Camponesa, no engenho de fogo morto Galiléia, em Vitória de Santo Antão, PE. Marco inicial da 1ª grande onda de lutas pela reforma agrária no Brasil, até o golpe de 1964.
A sede da Liga do Engenho Galiléia
1804:
Independência do Haiti, 1º estado soberano da América Latina, graças à insurreição vitoriosa dos escravos.
1821:
Belém, com a tropa rebelada, adere à Revolução Liberal do Porto.
1849:
Borges da Fonseca expõe no Manifesto ao Mundo os fins da Revolução Praieira, PE: Constituinte, voto universal, valorização do trabalho.
1850:
Apenas 1 liberal (Sousa Franco, PA) chega à Câmara, após uma eleição que Teófilo Otoni chama de "saturnal indecente".
1852:
Joana Manso Noronha, argentina, lança no Rio o Jornal das Senhoras, 1º periódico dirigido às mulheres.
1863:
Abraham Lincoln proclama abolição da escravatura nos EUA.
1881:
Morre em Paris aos 76 anos o revolucionário socialista Auguste Blanqui. Passou 36 anos nos cárceres da reação francesa.
1883:
Acarape, CE, é a 1ª vila a libertar todos os seus escravos (116).
1884:
Começa a circular no RS o jornal republicano A Federação, de Júlio de Castilhos.
1907:
Os ferroviários da Mogiana, SP, conquistam a jornada de 8 horas.
1912:
Nasce em Belém João Amazonas, dirigente histórico do PCdoB, onde militará a partir de 1935. Reorganizador do Partido Comunista em 1962, foi com Maurício Grabois o dirigente da Guerrilha do Araguaia.
1927:
Com o fim do estado de sítio, o PCB reconquista a legalidade (até 12/8).
1931:
Soldados rebelados trocam tiros com a Força Pública em Niterói, RJ.
1933:
Triunfa a causa de Sandino: o exército dos EUA deixa a Nicarágua.
1946:
A polícia do gen. Dutra reprime manifestações no Rio e São Paulo.
1959:
Rebeldes de Fidel Castro tomam Havana. Vitória da Revolução Cubana.
A Festa da
Revolução
em Havana
1967:
Criada a Al-Fatah, braço armado da OLP (Organização de Libertação da Palestina).
1987:
Com a inflação superando 20% desde o Plano Cruzado, o gatilho salarial é acionado pela 1ª e única vez (será eliminado em 12/6).
1992:
Privatização do SNBP (Serviço de Navegação da Bacia do Prata).
1994:
Levante indígena-camponês zapatista em Chiapas, sul do México, toma 4 cidades. Em 13/1, passeata de 70 mil na capital contra a presença do exército em Chiapas.
1999:
FHC assume o 2º mandato presidencial.
TRIBUTO A JOSÉ SILTON PINHEIRO
1º - Certidão da 7ª CJM:
Tributo à José Silton Pinheiro.
(Marcos Inácio fernandes)
Conheci o Silton jogando bola. No final dos anos 60 e início dos 70, eu era um meio de campo que jogava até razoável e vivia batendo bola pelo interior. Durante algum tempo joguei pelo time do sítio de Japecanga, perto da minha cidade, Parnamirim. Era nesse sítio que morava o pai do Silton, seu Milton, e ele sempre estava lá nos finais de semana e também participava do jogo.
Na primeira vez, que estive em Japecanga, o que me chamou atenção foi o fato de um rapaz daquelas brenhas está assobiando músicas do Edu Lobo e Geraldo Vandré. Era o Silton. Após esse primeiro jogo, retornamos no caminhão do time de Natal e entabulamos conversa sobre as músicas que ele estava cantarolando. Informei-lhe que eu gostava da MPB e que escutava os programas de rádio de Irapuã Rocha, na Rádio Rural, e o de Rubens Lemos, na rádio Cabugi. O prefixo do programa do Rubens Lemos, dizia “Acorda samba do Brasil....” Fiquei sabendo que ele ia fazer vestibular para Educação, que havia concluído o 2º grau no colégio Marista de Natal, que era do movimento estudantil e que havia sido criado por D. Lira, sua mãe adotiva. Na oportunidade lhe informei que também era secundarista e que estava pensando fazer Sociologia e ele, com o seu jeito expansivo e alegre, fez a uma festa e me deu a maior força.
Desde então, ficamos amigos e freqüentávamos a casa um do outro. Continuamos a jogar no time de Japecanga, passamos no vestibular para as nossas áreas e a amizade evoluiu para um companheirismo partidário. Através do Silton eu pude enveredar pela trilha revolucionária que os jovens acalentam e acabei sendo “recrutado” para militar na FREP (Frente Revolucionária Popular), uma frente capitaneada pelo PCBR.
A minha militância “revolucionária” se restringiu a algumas leituras de textos clássicos da literatura socialista: O Manifesto Comunista, Esquerdismo: a Doença infantil do Comunismo, O Estado e a Revolução e romances do Jorge Amado: Subterrâneos da Liberdade, poesias de Brechet e Castro Alves e por aí. Através do Silton, tomei conhecimento do trabalho de Geanfrancesco Guarnieri, “Arena Canta Zumbi” e de “Liberdade, Liberdade” de Flávio Rangel e Millôr Fernandes. Esse trabalho teatral sobre a Liberdade já estava censurado, mas o Silton, ainda conseguiu comprar um LP e me presenteou. Guardo esse presente até hoje. Agora, recentemente, já no século XXI, consegui esse trabalho em CD na coletânea das duas coleções da Nara Leão, que na época participava do elenco da peça.
As minhas ações “revolucionárias” se restringiram a duas panfletagens. Uma no cine Nordeste (jogar uns panfletos na parte de cima do cinema durante a projeção) e a outra dentro de um ônibus de linha que transportava trabalhadores nas primeiras horas da manhã de um bairro de Natal que eu não sabia qual era (tinha ido dormir no aparelho e de lá para o local da atividade, sempre de olhos vendados).
Na primeira semana de faculdade, na Fundação José Augusto, que oferecia os cursos de Sociologia e Jornalismo, recebi uma tarefa de me articular com Izolda, que também havia sido aprovada no curso, para formarmos uma célula de esquerda na faculdade. Mantivemos os primeiros contatos, mas, logo em seguida, (acho que com menos de 15 dias de curso), a Izolda foi presa quando soltava uns panfletos na fábrica de confecções Guararapes, na hora da saída das operárias. Izolda foi incursa na Lei de Segurança Nacional e pegou 2 anos de detenção, que cumpriu na Penitenciária João Chaves.
Fui com o Silton visitá-la algumas vezes e esse infortúnio proporcionou um romance/namoro entre Silton e Izolda e foi lá que conheci a Eró, irmã de criação da Izolda, com quem mais tarde me casei e vivo até hoje. A possibilidade de ter conhecido essas pessoas (Silton, Izolda, Eró) foi a grande dádiva que o projeto ingênuo, mas generoso, da esquerda me presenteou e me moldou como se humano (também ingênuo mas, da mesma forma, generoso).
Ainda através do Silton, conheci Paulo Pontes, que esteve na minha casa participando de uma discussão com uma freira (não lembro mais o nome) e o nosso clube de jovens da Cohabinal do qual participava Graça de D.Bena, Lauro (já falecido) e Duzinho (ainda morando em Parnamirim). Depois da reunião com a irmã, fizemos uma discussão política, na qual, o Paulo Pontes disse que a alternativa no Brasil era “partir para luta armada”.
Eles partiram (Silton e Paulo) e pagaram caro por essa opção. Silton, com a vida, tirada da forma mais ignominiosa – a tortura. Paulo Pontes, foi preso na Bahia, junto com Teodomiro dos Santos, mas ambos sobreviveram a tortura (sabe Deus com quais seqüelas). Tempos depois, em 1983, quando já morava no Acre, casado e com dois filhos (Ana e Abelardo) fui fazer um curso sobre Desenvolvimento Rural em Salvador e me reencontrei, nesse curso, com o Paulo Pontes. Ele havia feito o curso de Economia, que iniciou quando ainda estava preso. Depois de anistiado, concluiu o curso e trabalhava na CAR-BA. Reencontrei-o, bem mais velho e calvo, porém, vivo.
Silton foi para a clandestinidade e morreu por seus ideais. Izolda, depois de cumprir sua pena, se auto-exilou no Peru e por lá casou e teve dois filhos, Jussara e Ernesto, ambos já formados, trabalhando e com filhos. Eu, que pretendia também entrar para a clandestinidade, fui preso em função de uma carta que havia enviado para Silton falando dessa minha pretensão. Na ocasião, o Silton já havia sido assassinado e a carta foi interceptada. Na noite de 10 de abril de 1973, ao retornar da Faculdade, quando estava chegando em casa, um jipe com dois policiais civis do DOPS, me levaram preso e me deixaram numa delegacia da Cidade da Esperança e depois fui para um depoimento no QG do Exército (hoje Museu Câmara Cascudo) e depois fui levado para a Polícia Federal.
Amarguei alguns dias na Polícia Federal, onde, logo que cheguei, levei uns sopapos de um policial, que chamavam de “Chinoca”. Depois me encapusaram e algemaram e colocaram no piso do banco traseiro de uma Veraneio, com dois agentes com os pés no meu peito e me levaram para um local que desconheço. Nesse local passei por uma sessão de tortura, que se restringiu a telefones nos ouvidos, chutes e pancadas pelo tórax por algumas horas, além da tortura psicológica com ameaças de morte, de me enviar para o Doi-Codi do Recife (ali eu ia ver o que era bom, diziam). Quando retornaram comigo para a Polícia Federal, já era noite. Estava arquejando com o corpo todo dolorido e o ouvido sangrava. Na ocasião um agente da PF foi comprar uma cerveja preta e me deu prá tomar. Foi um regalo. Fiquei alguns dias na PF algemado a uma cama de campanha e incomunicável. Apenas recebi a “visita” do tenente Albernáz do serviço de informação da Aeronáutica, que voltou a me fazer ameaças e falar mal dos comunistas, inclusive citando Prestes.
Depois de prestar vários depoimentos, fui processado pela Lei de Segurança Nacional e transferido para a Colônia Penal João Chaves. Nunca fiquei tão feliz em ir para um estabelecimento penal pois, o meu receio e o meu pavor, era que me levassem para o Dói-Codi do Recife, como viviam me ameaçando.
ALGUNS APONTAMENTOS DO CÁRCERE.
Hoje o almoço foi feijoada com arroz e pão, estava boa. Almocei ao som do Quinteto Violado, no quarto do Jurandir. Ouvi também Insensatez na voz de Nelson Gonçalves. A tardinha o o conjunto “Impacto-5” tocou para os presos, alguns dançaram. A noite houve um jogo de futebol de salão entre os detentos com mais de 25 anos de idade e os menos de 25, os mais velhos ganharam de 4 a 3. Logo após foi servido o café e posteriormente Pe. Hudson com sua turma veio entreter os detentos com um show, encerrando as festividades da Páscoa na Colônia Penal João Chaves.
. Quarta-feira – 9 de maio de 1973. Choveu pela manhã. Acabei de ler “Contos de Aprendiz” de Carlos Drummond de Andrade. Fizemos um time de salão para jogar com um time dos coletivos. O jogo foi a noite e o nosso time formou assim: Gordo, eu, Chico, Alvamar e Beto (depois Ivan) perdemos de 2 a 1. Foi um bom jogo. Depois do banho assisti um pedaço do programa do Chacrinha até a apresentação do Jair Rodrigues.
Esses foram os apontamentos que consegui resgatar. Mas teve muito mais coisas interessantes que vivenciei naqueles dias de prisão.
Em 26 de junho de 1973, recebi a Certidão de soltura da Secretaria de Estado do Interior e Segurança, com o seguinte teor:
CERTIDÃO
Certifico para os fins que se fizerem necessários, que MARCOS INÁCIO FERNANDES, foi posto em liberdade nesta penitenciária, hoje dia 26/06/73 /conforme telegrama oriundo da 7ª CJM (Auditoria Militar), à Colônia Penal pelo Dr. José Bolívar Réges, auditor, e confirmado pela DOPS.
Natal, 26 de junho de 1973
Altamiro Galvão de Paiva
1º Ten. PM Cmt- DEST
Setor de Segurança.
Dei a maior parte das minhas roupas para os presos e fui embora livre. A primeira pessoa que fui ver foi Eró, no salão de D. Bebé, e de lá fomos prá casa.
BENVINDO 2010
Desejo que cada um de nós possa realizar um numero infinito de nossos pequenos sonhos, uma meia duzia de
nossos sonhos medios, e um de nossos grandes sonhos durante esse novo ano.
Cabe a voce analizar os seus sonhos e descobrir seus graus de importancia em sua vida.
Vale lembrar que é a soma das coisas pequenas, das coisas do dia a dia, que nos fazem felizes na vida, já que os
grandes sonhos nem sempre se realizam.
FELIZ ANO NOVO PARA VOCÊ E TODOS DE SUA FAMÍLIA
Dentro de alguns dias, como um trem, um Novo Ano vai chegar a esta estação.
Se não puder ser o maquinista, seja o seu mais
divertido passageiro.
Procure um lugar próximo à janela. Desfrute cada
uma das paisagens que o tempo lhe oferecer, com
o prazer de quem realiza a primeira viagem.
Não se assuste com os abismos, nem com as
curvas que não lhe deixam ver os
caminhos que estão por vir.
Procure curtir a viagem da vida, observando
cada arbusto, cada riacho, beirais de estrada e
tons mutantes de paisagem.
Desdobre o mapa e planeje roteiros.
Preste atenção em cada ponto de parada,
e fique atento ao apito da partida.
E quando decidir descer na estação onde
a esperança lhe acenou, não hesite.
Desembarque nela junto com os seus sonhos...
Desejo que a sua viagem pelos dias de
2010 seja de PRIMEIRA CLASSE!