Está chegando a hora de saudar o Ano Novo. Desejo aos meus familiares, amigos e companheiros de utopias, um Feliz 2011,com tudo do bom e do melhor. Como diz o Chico Buarque: "E quem for cego veja de repente todo azul da vida / Quem tiver doente, sai na corrida /Quem tiver presente, traga o mais vistoso /Quem tiver juízo, fique bem ditoso / Quem tiver sorriso, fique lá na frente / Pois vendo valente e tão leal seu povo / O Rei fica contente, porqu é ANO NOVO" Confiram:
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
BRASIL,COM MARILSON,GANHA A SÃO SILVESTRE
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
TEMPOÀ BEÇA
Tempo Á Beça de João Nogueira é um dos sambas que eu mais curto. A interpretação fabulosa é da Sabiá Clara Nunes.
VALEU LULA !!!
UM BALANÇO DA REFORMA AGRÁRIA
Pinçado do blog Vi O Mundo, do Luis Carlos Azenha:
Um balanço da reforma agrária
Reforma agrária: uma agenda atual
por ROLF HACKBART
Hoje existem 8.735 projetos de assentamentos de reforma agrária no país, englobando 85,7 milhões de hectares, onde vivem 919.659 famílias. Desse total, o governo Lula incorporou 48,3 milhões de hectares, assentando 608.241 famílias (até o dia 28 de dezembro de 2010). Também criamos 3.523 novos assentamentos. Em 2003, o orçamento geral do Incra foi de R$ 1,5 bilhão. Em 2010, saltou para R$ 4,5 bilhões. A minha afirmação de que de que reforma agrária está posta do ponto de vista legal, econômico, ambiental, político e social é corroborada com a recente pesquisa sobre a qualidade de vida, produção e renda nos assentamentos. Em dados objetivos, a pesquisa demonstrou que a política da reforma agrária se constitui em um importante investimento em renda, emprego, cidadania e justiça social.
Coordenada pelo Incra e executada com o apoio das Universidades Federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Pelotas (UFPEL), a pesquisa se baseou na aplicação de um questionário a 16.153 famílias em 1.164 assentamentos nos 26 estados do país e o Distrito Federal. O método de amostragem levou em consideração as mesorregiões homogêneas do IBGE e foi realizada com margem de erro de 3%, e nível de significância (confiança) de 95%. Mais de 600 servidores e técnicos trabalharam nesta pesquisa, todos treinados durante um ano.
São mais de 16 milhões de informações levantadas, disponíveis no banco de dados. Esse manancial deve servir, dentre outros objetivos, para (i) conhecermos a realidade dos assentamentos da reforma agrária do Brasil; (ii) orientar a programação operacional de 2011 e as prioridades para o próximo Plano Plurianual (PPA/2012-2015); e (iii) servir de base para estudos, pesquisas e análises/reformulações das políticas públicas executadas pelo programa nacional de reforma agrária.
Comparando as condições de vida das famílias assentadas em relação à situação anterior ao assentamento, para 64,86% delas o acesso à alimentação melhorou. A mesma aprovação se dá em relação à educação (63,29%), moradia (73,50%), renda (63,08%) e saúde (47,28%). Dentre os 216 produtos pesquisados, o leite, o milho e o feijão se destacam na formação da renda da maioria das famílias. A produção agropecuária nos assentamentos representa a maior fatia na composição da renda, acima de 50% (no caso de Santa Catarina é 76%). O nível de alfabetização dos assentados alcança 84%, sendo que o principal desafio está no ensino médio e superior, com acesso inferior a 10%. A maioria das famílias (57%) informou descontentamento com as condições das estradas e vias de acesso aos seus lotes. Pelo menos 70% das moradias possuem mais de cinco cômodos, 79% informaram acesso suficiente à água e 76% possuem energia elétrica em seus lotes.
A rigor, os primeiros resultados obtidos nessa pesquisa reafirmam um conjunto de políticas públicas desenvolvidas pelo governo Lula, a exemplo do acesso à energia e à comercialização da produção pelos assentados e pela agricultura familiar através do Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA) e pelas compras da merenda escolar. Ademais, os assentamentos refletem a realidade econômico-social das respectivas regiões onde estão inseridos. Portanto, a política de reforma agrária deve ser parte integrante do modelo de agricultura que queremos para o país, na forma de produção, de consumo e de proteção do meio ambiente. Trata-se do desenvolvimento rural sustentável que tem no seu principal meio de produção – a terra – um fator de promoção e distribuição da renda e da riqueza no Brasil.
Certamente, dentre os inúmeros desafios que estão postos, a geração de renda nos assentamentos, o ordenamento fundiário e a regularização ambiental constituem-se, a meu ver, nos principais focos de atenção para os próximos quatro anos. Queremos chegar em 2014 produzindo mais, com prioridade para alimentos limpos, elevando substancialmente o acesso ao conhecimento e ampliando os direitos sociais básicos dos trabalhadores do campo.
Rolf Hackbart é economista e presidente do Incra
Reforma agrária: uma agenda atual
por ROLF HACKBART
Hoje existem 8.735 projetos de assentamentos de reforma agrária no país, englobando 85,7 milhões de hectares, onde vivem 919.659 famílias. Desse total, o governo Lula incorporou 48,3 milhões de hectares, assentando 608.241 famílias (até o dia 28 de dezembro de 2010). Também criamos 3.523 novos assentamentos. Em 2003, o orçamento geral do Incra foi de R$ 1,5 bilhão. Em 2010, saltou para R$ 4,5 bilhões. A minha afirmação de que de que reforma agrária está posta do ponto de vista legal, econômico, ambiental, político e social é corroborada com a recente pesquisa sobre a qualidade de vida, produção e renda nos assentamentos. Em dados objetivos, a pesquisa demonstrou que a política da reforma agrária se constitui em um importante investimento em renda, emprego, cidadania e justiça social.
Coordenada pelo Incra e executada com o apoio das Universidades Federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Pelotas (UFPEL), a pesquisa se baseou na aplicação de um questionário a 16.153 famílias em 1.164 assentamentos nos 26 estados do país e o Distrito Federal. O método de amostragem levou em consideração as mesorregiões homogêneas do IBGE e foi realizada com margem de erro de 3%, e nível de significância (confiança) de 95%. Mais de 600 servidores e técnicos trabalharam nesta pesquisa, todos treinados durante um ano.
São mais de 16 milhões de informações levantadas, disponíveis no banco de dados. Esse manancial deve servir, dentre outros objetivos, para (i) conhecermos a realidade dos assentamentos da reforma agrária do Brasil; (ii) orientar a programação operacional de 2011 e as prioridades para o próximo Plano Plurianual (PPA/2012-2015); e (iii) servir de base para estudos, pesquisas e análises/reformulações das políticas públicas executadas pelo programa nacional de reforma agrária.
Comparando as condições de vida das famílias assentadas em relação à situação anterior ao assentamento, para 64,86% delas o acesso à alimentação melhorou. A mesma aprovação se dá em relação à educação (63,29%), moradia (73,50%), renda (63,08%) e saúde (47,28%). Dentre os 216 produtos pesquisados, o leite, o milho e o feijão se destacam na formação da renda da maioria das famílias. A produção agropecuária nos assentamentos representa a maior fatia na composição da renda, acima de 50% (no caso de Santa Catarina é 76%). O nível de alfabetização dos assentados alcança 84%, sendo que o principal desafio está no ensino médio e superior, com acesso inferior a 10%. A maioria das famílias (57%) informou descontentamento com as condições das estradas e vias de acesso aos seus lotes. Pelo menos 70% das moradias possuem mais de cinco cômodos, 79% informaram acesso suficiente à água e 76% possuem energia elétrica em seus lotes.
A rigor, os primeiros resultados obtidos nessa pesquisa reafirmam um conjunto de políticas públicas desenvolvidas pelo governo Lula, a exemplo do acesso à energia e à comercialização da produção pelos assentados e pela agricultura familiar através do Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA) e pelas compras da merenda escolar. Ademais, os assentamentos refletem a realidade econômico-social das respectivas regiões onde estão inseridos. Portanto, a política de reforma agrária deve ser parte integrante do modelo de agricultura que queremos para o país, na forma de produção, de consumo e de proteção do meio ambiente. Trata-se do desenvolvimento rural sustentável que tem no seu principal meio de produção – a terra – um fator de promoção e distribuição da renda e da riqueza no Brasil.
Certamente, dentre os inúmeros desafios que estão postos, a geração de renda nos assentamentos, o ordenamento fundiário e a regularização ambiental constituem-se, a meu ver, nos principais focos de atenção para os próximos quatro anos. Queremos chegar em 2014 produzindo mais, com prioridade para alimentos limpos, elevando substancialmente o acesso ao conhecimento e ampliando os direitos sociais básicos dos trabalhadores do campo.
Rolf Hackbart é economista e presidente do Incra
O ESTADÃO MENTE
Pinçado do Blog do Altamiro Borges:
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
por Altamiro Borges, no seu blog
O jornal O Estado de S. Paulo, que já nasceu demonizando as lutas camponesas (basta lembrar suas matérias hidrófobas contra a revolta de Canudos) e defendendo os interesses da oligarquia paulista do café, não desiste nunca da sua cruzada contra a reforma agrária. Em editorial na semana passada, intitulado “Deixem a agricultura trabalhar”, ele voltou a atacar todos – MST, sindicalismo rural, partidos de esquerda e setores do governo Lula – que defendem uma justa distribuição de terras num dos países de maior concentração fundiária do planeta. Todos seriam entraves ao “desenvolvimento econômico” do Brasil.
Para o Estadão, os heróis do povo brasileiro são os ricos fazendeiros. “Com superávit comercial de US$ 58,2 bilhões neste ano, o agronegócio é mais uma vez a principal fonte de sustentação das contas externas brasileiras, graças ao seu poder de competição”, bajula o editorial, que parece saudoso das velhas teses oligárquicas sobre a “natureza agrícola” do país. Não há qualquer linha de crítica à concentração de terras nas mãos de poucos latifundiários, ao uso do trabalho escravo e infantil, à abjeta contratação de jagunços e pistoleiros ou às práticas devastadoras do meio ambiente tão comuns no campo brasileiro.
“Um recado político” para Dilma
Este editorial, dos vários já publicados, tem um objetivo nítido. Com base numa entrevista do atual ministro da Agricultura, Wagner Rossi, já confirmado para continuar no cargo, ele visa dar um “recado político” para o futuro governo. “O setor precisa de segurança para produzir bem e para ser competitivo. É um lembrete oportuno, a duas semanas da posse da presidente eleita, Dilma Rousseff”. O texto do Estadão expressa o temor dos ruralistas, para quem “o agronegócio continua na mira do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do PT, do MST e de outras organizações comprometidas com as bandeiras do atraso”.
Sempre ancorado na entrevista do ministro, o Estadão centra seus ataques exatamente na revisão dos índices de produtividade usados para a desapropriação de terras. Lembra que uma portaria já passou pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas que está engavetada no Ministério da Agricultura – e assim deve continuar. Em síntese, a família Mesquita se mantém na dianteira da luta contra a reforma agrária. Para ela, esta bandeira é coisa do passado e seus defensores representam o “atraso”. Neste esforço militante, o jornal não vacila em abandonar qualquer tipo de imparcialidade e difunde as maiores mentiras.
Mentiras sem escrúpulos
Sem escrúpulos, o editorial afirma que o agronegócio é responsável pela “produção eficiente de alimentos abundantes, bons e baratos, acessíveis a qualquer trabalhador… Pode ter havido razão econômica para a reforma agrária há algumas décadas. Mas a agropecuária transformou-se amplamente nos últimos 40 anos. O setor produz muito mais que o necessário para abastecer o mercado interno e para atender à crescente demanda internacional… A agropecuária brasileira se modernizou. Os defensores da reforma agrária continuam no passado. A presidente eleita faria bem ao País se escolhesse o compromisso com a modernidade”.
Estas teses, infelizmente encampadas por alguns desenvolvimentistas, não levam em conta que a reforma agrária é uma questão de justiça social e de ampliação da democracia no Brasil – a vitória do direitista José Serra nos redutos do agronegócio deveria servir de alerta! Elas também ignoram o papel econômico de uma distribuição mais justa das terras no Brasil. Neste sentido, o Estadão mente descaradamente. Não é verdade que o agronegócio garante a comida na mesa dos brasileiros. Muito pelo contrário. São os 4,5 milhões de famílias de pequenos proprietários que garantem 80% dos alimentos consumidos no país.
Atentado à inteligência do leitor
Como observou Lúcio Mello, num excelente artigo publicado no Blog da Reforma Agrária, o editorial do Estadão é um atentado à inteligência dos leitores. Ele abusa da desinformação e das meias-verdades. Omite, inclusive, os dados oficiais recém divulgados pelo censo do IBGE. “O agronegócio não é responsável por alimentos bons, baratos e de qualidade. Por mais que comamos soja, açúcar e café e [bebamos] suco de laranja, é o produtor familiar que abastece em sua maioria as cidades de leite, feijão e mandioca, gerando renda e impedindo o aumento do fluxo migratório para São Paulo, Rio de Janeiro” e outras capitais.
Ponderado, ele observa que “o editorial louva a importância do agronegócio na sociedade, sobretudo na pauta das exportações brasileiras e na promoção do superávit primário. Até aí, nada de errado. É reconhecido o papel da monocultura agroexportadora na chamada modernização conservadora entre 1964 e o fim da década de 70”. De resto, tudo é mentira.
Entre outras distorções, o Estadão omite que o agronegócio “tem parcela de culpa considerável na dívida pública brasileira, seja através das sucessivas dívidas simplesmente não pagas ou de repasses com ônus ao tesouro de projetos agropecuários faraônicos”, explica Lúcio Mello. Estima-se que esta dívida atingiu R$74 bilhões em maio de 2008. Isto sem falar da anistias às dívidas, dos juros subsidiados e de outras benesses do Estado
Estadão, inimigo da reforma agrária
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
por Altamiro Borges, no seu blog
O jornal O Estado de S. Paulo, que já nasceu demonizando as lutas camponesas (basta lembrar suas matérias hidrófobas contra a revolta de Canudos) e defendendo os interesses da oligarquia paulista do café, não desiste nunca da sua cruzada contra a reforma agrária. Em editorial na semana passada, intitulado “Deixem a agricultura trabalhar”, ele voltou a atacar todos – MST, sindicalismo rural, partidos de esquerda e setores do governo Lula – que defendem uma justa distribuição de terras num dos países de maior concentração fundiária do planeta. Todos seriam entraves ao “desenvolvimento econômico” do Brasil.
Para o Estadão, os heróis do povo brasileiro são os ricos fazendeiros. “Com superávit comercial de US$ 58,2 bilhões neste ano, o agronegócio é mais uma vez a principal fonte de sustentação das contas externas brasileiras, graças ao seu poder de competição”, bajula o editorial, que parece saudoso das velhas teses oligárquicas sobre a “natureza agrícola” do país. Não há qualquer linha de crítica à concentração de terras nas mãos de poucos latifundiários, ao uso do trabalho escravo e infantil, à abjeta contratação de jagunços e pistoleiros ou às práticas devastadoras do meio ambiente tão comuns no campo brasileiro.
“Um recado político” para Dilma
Este editorial, dos vários já publicados, tem um objetivo nítido. Com base numa entrevista do atual ministro da Agricultura, Wagner Rossi, já confirmado para continuar no cargo, ele visa dar um “recado político” para o futuro governo. “O setor precisa de segurança para produzir bem e para ser competitivo. É um lembrete oportuno, a duas semanas da posse da presidente eleita, Dilma Rousseff”. O texto do Estadão expressa o temor dos ruralistas, para quem “o agronegócio continua na mira do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do PT, do MST e de outras organizações comprometidas com as bandeiras do atraso”.
Sempre ancorado na entrevista do ministro, o Estadão centra seus ataques exatamente na revisão dos índices de produtividade usados para a desapropriação de terras. Lembra que uma portaria já passou pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas que está engavetada no Ministério da Agricultura – e assim deve continuar. Em síntese, a família Mesquita se mantém na dianteira da luta contra a reforma agrária. Para ela, esta bandeira é coisa do passado e seus defensores representam o “atraso”. Neste esforço militante, o jornal não vacila em abandonar qualquer tipo de imparcialidade e difunde as maiores mentiras.
Mentiras sem escrúpulos
Sem escrúpulos, o editorial afirma que o agronegócio é responsável pela “produção eficiente de alimentos abundantes, bons e baratos, acessíveis a qualquer trabalhador… Pode ter havido razão econômica para a reforma agrária há algumas décadas. Mas a agropecuária transformou-se amplamente nos últimos 40 anos. O setor produz muito mais que o necessário para abastecer o mercado interno e para atender à crescente demanda internacional… A agropecuária brasileira se modernizou. Os defensores da reforma agrária continuam no passado. A presidente eleita faria bem ao País se escolhesse o compromisso com a modernidade”.
Estas teses, infelizmente encampadas por alguns desenvolvimentistas, não levam em conta que a reforma agrária é uma questão de justiça social e de ampliação da democracia no Brasil – a vitória do direitista José Serra nos redutos do agronegócio deveria servir de alerta! Elas também ignoram o papel econômico de uma distribuição mais justa das terras no Brasil. Neste sentido, o Estadão mente descaradamente. Não é verdade que o agronegócio garante a comida na mesa dos brasileiros. Muito pelo contrário. São os 4,5 milhões de famílias de pequenos proprietários que garantem 80% dos alimentos consumidos no país.
Atentado à inteligência do leitor
Como observou Lúcio Mello, num excelente artigo publicado no Blog da Reforma Agrária, o editorial do Estadão é um atentado à inteligência dos leitores. Ele abusa da desinformação e das meias-verdades. Omite, inclusive, os dados oficiais recém divulgados pelo censo do IBGE. “O agronegócio não é responsável por alimentos bons, baratos e de qualidade. Por mais que comamos soja, açúcar e café e [bebamos] suco de laranja, é o produtor familiar que abastece em sua maioria as cidades de leite, feijão e mandioca, gerando renda e impedindo o aumento do fluxo migratório para São Paulo, Rio de Janeiro” e outras capitais.
Ponderado, ele observa que “o editorial louva a importância do agronegócio na sociedade, sobretudo na pauta das exportações brasileiras e na promoção do superávit primário. Até aí, nada de errado. É reconhecido o papel da monocultura agroexportadora na chamada modernização conservadora entre 1964 e o fim da década de 70”. De resto, tudo é mentira.
Entre outras distorções, o Estadão omite que o agronegócio “tem parcela de culpa considerável na dívida pública brasileira, seja através das sucessivas dívidas simplesmente não pagas ou de repasses com ônus ao tesouro de projetos agropecuários faraônicos”, explica Lúcio Mello. Estima-se que esta dívida atingiu R$74 bilhões em maio de 2008. Isto sem falar da anistias às dívidas, dos juros subsidiados e de outras benesses do Estado
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
RECAUCHUTAGEM GERAL PARA A VIAGEM
O Azulão, banhado e polido, para a viagem
A "moça no banho" de perfil em frente a nossa casa
Dia 1º estaremos pegando a estrada para Natal. As providências já foram todas tomadas com recauchutagem pessoal e no carro. Depois de mais de 10 anos sem ir a dentista, criei um poquinho de coragem e fui com a Dra. Tanira, uma amiga da família, que a gente conhece desde menina. Ficou assim:
Recauchutagem pessoal:
Tratamento dentário (limpeza, restaurações e a extração do denteciso) R$ 610,00
Mudança dos dentes das pererecas (proteses superior e inferior) R$ 300,00
Total,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, R$ 910,00
Recauchutagem no Corola- 2006:
Pintura e polimento.......................... R$ 500,00
5 pneus novos (com montagem,alinhamento e balanceamento...R$ 550,00
1 Suporte para bagageiro, olhos de gato e porta-placa,,,,,,,,,R$ 400,00
Agora o carro está "uma moça no banho" e eu com os dentes novos. Natal me aguarde. Amanhã coloco uma foto do carro.
Percurso Rio Branco / Natal
Dia 1º estaremos pegando a estrada para Natal. As providências já foram todas tomadas com recauchutagem pessoal e no carro. Depois de mais de 10 anos sem ir a dentista, criei um poquinho de coragem e fui com a Dra. Tanira, uma amiga da família, que a gente conhece desde menina. Ficou assim:
Recauchutagem pessoal:
Tratamento dentário (limpeza, restaurações e a extração do denteciso) R$ 610,00
Mudança dos dentes das pererecas (proteses superior e inferior) R$ 300,00
Total,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, R$ 910,00
Recauchutagem no Corola- 2006:
Pintura e polimento.......................... R$ 500,00
Revisão de freio e suspensão (peças e serviço)........ R$ 720,00
5 pneus novos (com montagem,alinhamento e balanceamento...R$ 550,00
1 Sensor ........................................................................R$ 190,00
1 Suporte para bagageiro, olhos de gato e porta-placa,,,,,,,,,R$ 400,00
Total..........................................................................R$ 2.369,00
Agora o carro está "uma moça no banho" e eu com os dentes novos. Natal me aguarde. Amanhã coloco uma foto do carro.
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
O NATAL DOS FERNANDES
Lia, Brenda Talita, Ana e Rosilda
Reunimos a família e alguns amigos para a tradicional ceia de Natal, no dia 24 . O cardápio foi assinado por Eró, Katiane e Ana e constou dos seguintes pratos: um picadinho metido a besta, que chamam de estrogonofe, filé ao molho madeira, uma salada marroquina e outra de verão, Bobó de camarão e arroz soltinho. A sobremesa foi uma torta Prestígio tamanho família, que a Katiane encomendou. E tudo isso puxado a uma cervejinha. Eis a memória fotográfica,
Reunimos a família e alguns amigos para a tradicional ceia de Natal, no dia 24 . O cardápio foi assinado por Eró, Katiane e Ana e constou dos seguintes pratos: um picadinho metido a besta, que chamam de estrogonofe, filé ao molho madeira, uma salada marroquina e outra de verão, Bobó de camarão e arroz soltinho. A sobremesa foi uma torta Prestígio tamanho família, que a Katiane encomendou. E tudo isso puxado a uma cervejinha. Eis a memória fotográfica,
sábado, 25 de dezembro de 2010
LULA, UM HOMEM COMUM
Luís Inácio fala ao povo brasileiro. Confira o discurso de despedida do Presidente Lula, o melhor da nossa história.
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
2º OPEN DE TÊNIS DE MESA DA RUA DA LINHA
O comandante Barca Furada, Rogério, já providenciou a premiação do torneio com trófeus e medalhas para os três primeiros colocados. O torneio ainda vai oferecer uma vasta premiação aos participantes a ser definida pela Comissão Organizadora presidida por Marcos Roberto. Na segunda feira os ricos trófeus e medalhas estarão seguindo para Parnamirim por via terrestre, sendo conduzidas por mim e Rogério, dois dos mais cotados para finalista do torneio. Nos aguardem.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
O GLOBO MENTE
Do Blog do Miro Teixeira. (MIF)
Transcrevo descaradamente o post do Blog do Planalto, que é um soco no fígado do jornal O Globo.
Este veículo (?) fez o balanço da Oposição ao Governo Lula, e não o balanço jornalístico de um veículo da imprensa, que deveria ser minimamente isento.
Leiam e divulguem
***
Quem leu ou vier a ler o caderno especial do jornal O Globo sobre a Era Lula não terá dúvida: a direção do jornal, seus editores e analistas estão entre os 3% a 4% de brasileiros que consideram o Governo Lula ruim ou péssimo.
Para eles, a aprovação de mais de 80% alcançada pelo presidente Lula e seu governo ao final de oito anos de mandato é um mistério. Talvez uma ilusão ou uma hipnose coletiva, que estaria impedindo o povo de enxergar a realidade. Para O Globo e seus analistas, o Brasil avançou muito pouco na Era Lula e os poucos avanços teriam sido apesar do governo e não por causa de suas ações.
Como disse o presidente Lula no dia em que registrou em cartório o seu legado, a imprensa não tem interesse nas ações construtivas do governo, ela prefere focalizar as destrutivas. Cabe ao próprio governo fazer chegar à sociedade o contraponto.
Por isso, o Blog do Planalto consolida aqui as contestações feitas pelo governo ao balanço da Era Lula publicado pelo Globo no último domingo. Os textos tiveram a colaboração dos ministros Celso Amorim, das Relações Exteriores, Luiz Paulo Barreto, da Justiça, José Gomes Temporão, da Saúde, Fernando Haddad, da Educação, e Paulo Passos, dos Transportes, da Subchefe de Acompanhamento e Monitoramento da Casa Civil e futura ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, Maurício Muniz da Casa Civil, Marcia Quadrado do Ministério do Desenvolvimento Agrario, e Yuri Rafael Della Giustina, Ministério das Cidades.
A edição final é da chefe do Gabinete Adjunto de Informações em Apoio à Decisão do Gabinete Pessoal do Presidente, Maya Takagi.
Aqui está o ponto de vista do governo que O Globo se recusa a considerar e transmitir aos seus leitores. São os avanços reais do Brasil na Era Lula. Um Brasil que avançou muito, mas precisa avançar mais. Um Brasil que continuará avançando com a presidenta Dilma, que a maioria do País elegeu para continuar a era de transformações e de desenvolvimento com justiça social e altivez, iniciada por Lula.
- Introdução: Resolvendo problemas seculares
- O eixo da mudança: a inclusão social é o motor do crescimento
- Entrando no trilho do conhecimento: da creche ao doutorado
- O paciente precisa melhorar, mas já respira sem aparelhos
- A liberação de recursos destravou e o Brasil voltou a ter obras de saneamento
- Mais crédito e mais famílias assentadas do que todos os outros governos juntos
- Porta de saída da miséria e de entrada na cidadania
- O caminho da paz, com justiça e cidadania
- Destravando as engrenagens do crescimento
- Reduzindo o custo Brasil
- Ninguém respeita quem não se respeita
- Recuperando a capacidade de orientar o desenvolvimento e servir a toda população
- Transportando gente e tecnologia na velocidade do futuro
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
VOTOS DE FELIZ 2011 DO BARÃO
A PRESIDENTA DILMA É DIPLOMADA
Também me sinto diplomado pois ajudei nessa conquista (MIF)
“Pela vontade do povo brasileiro, expressa nas urnas em 31 de outubro de 2010, a candidata pela Coligação Para o Brasil Seguir Mudando Dilma Vana Rousseff foi eleita presidente da República do Brasil.
Em testemunho desse fato, a Justiça Eleitoral expediu-lhe o presente diploma, que a habilita à investidura no cargo perante o Congresso Nacional em 1º de janeiro de 2011, nos termos da Constituição.
Brasília, 17 de dezembro de 2010,
189º da Independência e 122º da República
Ministro Ricardo Lewandowski
Presidente”
Dilma é diplomada a primeira mulher presidente do Brasil
Publicado em 17/12/2010 Compartilhe.
Dilma é a primeira presidente mulher do Brasil
Pinçado do Conversa Afiada do Paulo Henrique Amorim.
“É uma imensa emoção”, afirma Dilma durante diplomação em Brasília
Camila Campanerut
Do UOL Notícias
Em Brasília
A presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), e seu vice, Michel Temer (PMDB), recebem no fim da tarde desta sexta-feira (17) os diplomas que atestam a vitória nas urnas e o mandato de quatro anos. Os documentos são assinados pelo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Ricardo Lewandowski.
“Sem sombra de dúvida é uma imensa emoção. É uma grande emoção tanto do ponto de vista da minha trajetória política e de minha situação como mulher brasileira. Nós conquistamos no Brasil um processo excepcional”, disse Dilma durante seu discurso. “As eleições continuam sendo um momento rico e proporciona o debate das grandes questões, o debate e confronto de projetos para o futuro do país.”
“Estes mesmos sentimentos de mudança e avanço fizeram o povo eleger uma mulher presidente. Para além da minha pessoa isso demonstra uma crescente maturidade da nossa democracia”, completou.
(…)
O diploma da futura presidente vem com a seguinte inscrição:
Publicado em 17/12/2010 Compartilhe.
Dilma é a primeira presidente mulher do Brasil
Pinçado do Conversa Afiada do Paulo Henrique Amorim.
“É uma imensa emoção”, afirma Dilma durante diplomação em Brasília
Camila Campanerut
Do UOL Notícias
Em Brasília
A presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), e seu vice, Michel Temer (PMDB), recebem no fim da tarde desta sexta-feira (17) os diplomas que atestam a vitória nas urnas e o mandato de quatro anos. Os documentos são assinados pelo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Ricardo Lewandowski.
“Sem sombra de dúvida é uma imensa emoção. É uma grande emoção tanto do ponto de vista da minha trajetória política e de minha situação como mulher brasileira. Nós conquistamos no Brasil um processo excepcional”, disse Dilma durante seu discurso. “As eleições continuam sendo um momento rico e proporciona o debate das grandes questões, o debate e confronto de projetos para o futuro do país.”
“Estes mesmos sentimentos de mudança e avanço fizeram o povo eleger uma mulher presidente. Para além da minha pessoa isso demonstra uma crescente maturidade da nossa democracia”, completou.
(…)
O diploma da futura presidente vem com a seguinte inscrição:
“Pela vontade do povo brasileiro, expressa nas urnas em 31 de outubro de 2010, a candidata pela Coligação Para o Brasil Seguir Mudando Dilma Vana Rousseff foi eleita presidente da República do Brasil.
Em testemunho desse fato, a Justiça Eleitoral expediu-lhe o presente diploma, que a habilita à investidura no cargo perante o Congresso Nacional em 1º de janeiro de 2011, nos termos da Constituição.
Brasília, 17 de dezembro de 2010,
189º da Independência e 122º da República
Ministro Ricardo Lewandowski
Presidente”
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
SOLTEI AS CORUJAS
Hoje desencaxotei as corujas e o pavão francês que herdei de D.Lia. Elas estão todas serelepes espalhadas pelo escritório. Em breve vou arrumá-las num armário com porta de vidro para as bichinhas não pegarem tanta poeira. Elas parecem demais com D. Lia, principalmente, as dos olhos tristes. Vou continuar a coleção que ela iniciou e cuidar bem das bichinhas.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
ORQUESTRAS FAMOSAS
Uma homenagem a Glenn Miller e sua orquestra
No dia 15 de Dezembro de 1944 o avião que conduzia Glenn Miller desapareceu durante a sua viagem entre a Inglaterra e a França.
Um dos artistas mais populares dos Estados Unidos, líder de vendas de discos entre 1939 a 1943, Miller nasceu em Clarinda, Iowa, EUA, em 1904. Aos 11 anos, com o dinheiro conseguido ordenhando vacas, conseguiu comprar seu primeiro trombone e entrou para a orquestra da cidade de Grant City, no estado de Missouri.
No dia 15 de Dezembro de 1944 o avião que conduzia Glenn Miller desapareceu durante a sua viagem entre a Inglaterra e a França.
Um dos artistas mais populares dos Estados Unidos, líder de vendas de discos entre 1939 a 1943, Miller nasceu em Clarinda, Iowa, EUA, em 1904. Aos 11 anos, com o dinheiro conseguido ordenhando vacas, conseguiu comprar seu primeiro trombone e entrou para a orquestra da cidade de Grant City, no estado de Missouri.
E AGORA BRASIL?
Eu Quero É Sossego reproduz artigo do professor Fábio Konder Comparato sobre o julgamento dos crimes do Araguia pela OEA:
E AGORA, BRASIL?
Fábio Konder Comparato
A Corte Interamericana de Direitos Humanos acaba de decidir que o Brasil descumpriu duas vezes a Convenção Americana de Direitos Humanos. Em primeiro lugar, por não haver processado e julgado os autores dos crimes de homicídio e ocultação de cadáver de mais 60 pessoas, na chamada Guerrilha do Araguaia. Em segundo lugar, pelo fato de o nosso Supremo Tribunal Federal haver interpretado a lei de anistia de 1979 como tendo apagado os crimes de homicídio, tortura e estupro de oponentes políticos, a maior parte deles quando já presos pelas autoridades policiais e militares.
O Estado brasileiro foi, em conseqüência, condenado a indenizar os familiares dos mortos e desaparecidos.
Além dessa condenação jurídica explícita, porém, o acórdão da Corte Interamericana de Direitos Humanos contém uma condenação moral implícita.
Com efeito, responsáveis morais por essa condenação judicial, ignominiosa para o país, foram os grupos oligárquicos que dominam a vida nacional, notadamente os empresários que apoiaram o golpe de Estado de 1964 e financiaram a articulação do sistema repressivo durante duas décadas. Foram também eles que, controlando os grandes veículos de imprensa, rádio e televisão do país, manifestaram-se a favor da anistia aos assassinos, torturadores e estupradores do regime militar. O próprio autor destas linhas, quando ousou criticar um editorial da Folha de S.Paulo, por haver afirmado que a nossa ditadura fora uma “ditabranda”, foi impunemente qualificado de “cínico e mentiroso” pelo diretor de redação do jornal.
Mas a condenação moral do veredicto pronunciado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos atingiu também, e lamentavelmente, o atual governo federal, a começar pelo seu chefe, o presidente da República.
Explico-me. A Lei Complementar nº 73, de 1993, que regulamenta a Advocacia-Geral da União, determina, em seu art. 3º, § 1º, que o Advogado-Geral da União é “submetido à direta, pessoal e imediata supervisão” do presidente da República. Pois bem, o presidente Lula deu instruções diretas, pessoais e imediatas ao então Advogado-Geral da União, hoje Ministro do Supremo Tribunal Federal, para se pronunciar contra a demanda ajuizada pela OAB junto ao Supremo Tribunal Federal (argüição de descumprimento de preceito fundamental nº 153), no sentido de interpretar a lei de anistia de 1979, como não abrangente dos crimes comuns cometidos pelos agentes públicos, policiais e militares, contra os oponentes políticos ao regime militar.
Mas a condenação moral vai ainda mais além. Ela atinge, em cheio, o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República, que se pronunciaram claramente contra o sistema internacional de direitos humanos, ao qual o Brasil deve submeter-se.
E agora, Brasil?
Bem, antes de mais nada, é preciso dizer que se o nosso país não acatar a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, ele ficará como um Estado fora-da-lei no plano internacional.
E como acatar essa decisão condenatória?
Não basta pagar as indenizações determinadas pelo acórdão. É indispensável dar cumprimento ao art. 37, § 6º da Constituição Federal, que obriga o Estado, quando condenado a indenizar alguém por culpa de agente público, a promover de imediato uma ação regressiva contra o causador do dano. E isto, pela boa e simples razão de que toda indenização paga pelo Estado provém de recursos públicos, vale dizer, é feita com dinheiro do povo.
É preciso, também, tal como fizeram todos os países do Cone Sul da América Latina, resolver o problema da anistia mal concedida. Nesse particular, o futuro governo federal poderia utilizar-se do projeto de lei apresentado pela Deputada Luciana Genro à Câmara dos Deputados, dando à Lei nº 6.683 a interpretação que o Supremo Tribunal Federal recusou-se a dar: ou seja, excluindo da anistia os assassinos e torturadores de presos políticos. Tradicionalmente, a interpretação autêntica de uma lei é dada pelo próprio Poder Legislativo.
Mas, sobretudo, o que falta e sempre faltou neste país, é abrir de par em par, às novas gerações, as portas do nosso porão histórico, onde escondemos todos os horrores cometidos impunemente pelas nossas classes dirigentes; a começar pela escravidão, durante mais de três séculos, de milhões de africanos e afrodescendentes.
Viva o Povo Brasileiro!
Sobre o mesmo tema, texto de Celso Lungarete, pinçado do Blog Vi o Mundo do Luis Carlos Azenha:
Anistia não beneficiou torturadores, decide OEA
15/12/2010
por Celso Lungaretti, do Náufrago da Utopia, via Vermelho
Foi exemplar a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos (vinculada à OEA), que, 15 anos após a apresentação a denúncia por parte de ONG’s defensoras dos DH, finalmente condenou o Brasil pelo “desaparecimento forçado” de 62 inimigos da ditadura militar, assassinados durante a repressão à guerrilha do Araguaia, na década de 1970.
Sabe-se que muitos foram aprisionados com vida e covardemente executados tendo as forças repressivas dado sumiço nos seus restos mortais.
Além desses 62 guerrilheiros seguramente mortos, a Corte afirmou existirem pelo menos mais oito desaparecidos no confronto.
De acordo com a sentença:
• contrariamente à aberrante decisão do Supremo Tribunal Federal, a anistia de 1979 não desobriga o Estado brasileiro da apuração desses casos, pois suas disposições “carecem de efeitos jurídicos e não podem seguir representando um obstáculo para a investigação”, “nem para a identificação e punição dos responsáveis” pelas mortes;
• a Lei de Anistia também não garante a impunidade dos responsáveis por “outros casos de graves violações de direitos humanos” durante a ditadura de 1964/85;
• o Estado brasileiro é “responsável pelo desaparecimento forçado” dos guerrilheiros mortos;
• deverá, portanto, promover uma investigação sobre os desaparecimentos, “a fim de esclarecê-los, determinar as correspondentes responsabilidades penais e aplicar efetivamente as sanções e consequências que a lei preveja”;
• também lhe cabe desenvolver “todos os esforços” para encontrar ossadas dos combatentes, realizar um “ato público de reconhecimento de suas responsabilidades” e criar “um programa ou curso permanente e obrigatório sobre direitos humanos”, dirigido a “todos os níveis hierárquicos das Forças Armadas”.
Finalmente, a sentença estimula a implementação da Comissão Nacional da Verdade, proposta do Programa Nacional dos Direitos Humanos que até agora não saiu do papel.
O Itamaraty confirmou que, pelas regras do direito internacional, o Brasil, na condição de signatário da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, é obrigado a cumprir a decisão.
Já o ministro da Defesa Nelson Jobim, manifestando-se sempre como representante da caserna e não do governo, levantou a possibilidade de o Brasil invocar a Lei de Anistia para continuar acobertando os culpados.
Ou seja, agora está também na contramão do Direito internacional, comprovando que sua manutenção na Pasta foi a pior de todas as escolhas ministeriais de Dilma Rousseff.
Quanto ao STF, ficou com a imagem em cacos, ao receber um puxão de orelhas explícito de uma corte internacional. Suas presidências reacionárias — a anterior e a atual — o desmoralizam e nos desmoralizam aos olhos do mundo.
Na prática, a morte chega antes
Mesmo que, em termos práticos, a decisão tenha vindo tarde demais para que os homicidas e torturadores venham a ser efetivamente punidos — os remanescentes estão no fim da vida e tendem a beneficiar-se da morosidade e infinitos recursos protelatórios possibilitados pela Justiça brasileira –, pelo menos a página da História será virada como se deve, com os culpados inculpados e as vítimas reconhecidas.
Quem sentir-se futuramente tentado a incorrer nas mesmas práticas hediondas e genocidas, vai estar sabendo que, já existindo um entendimento definitivo e inequívoco da questão, será grande a possibilidade de receber em vida o merecido castigo.
E que teses falaciosas como a da contrarrevolução preventiva e a da anistia recíproca jamais prevalecerão no longo prazo, acabando por ser varridas juntamente com o restante do entulho autoritário.
* Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político
domingo, 12 de dezembro de 2010
CASARÃO, TOMBADO E REVITALIZADO
Pinçado do Blog do Altino Machado. Uma bela crônica de Leila Jalul sobre o Casarão e seus personagens. O Casarão era o reduto etílico/cultural da esquerda acreana nos anos 80 e 90. estive lá, muitas vezes. (MIF)
ADOREI TER VIVIDO
Leila Jalul
Prezado Altino,
Desse Casarão aí, ainda bem, fico sem saudades. Entanto, com sinceridade, desejo que não tenha o mesmo fim do Bar Municipal e do Café do Theatro, que estão a mais ou menos 100 metros. Será uma lástima se vier a acontecer.
Responda-me uma coisa: teria o Abrahim Farhat tomado um chá de champignons? Ou Viagra vencido? Rapaz, o cabra tava doidão! Quase ou mais que o Pia Vila. Esse Brachula não tem mais idade para essas emoções. Fiquei apreensiva, acredite.
A revitalização é um belo gesto do governador Binho Marques. Devo-lhe desculpas pelo comentário sobre as casinhas populares. Meu pensamento é aquele mesmo. O comentário é que chegou numa hora bem difícil para sua pessoa. Coisas da vida.
Voltando ao Casarão, fiquei deveras emocionada com a homenagem prestada ao Chico Pop. Esse menino era um visionário, um lutador e um bom amigo de muita gente boa. Ainda assim, teve dificuldades para ser levado a sério. Coisas da vida. E da época.
Amei ter visto os amiguinhos Elson Martins e Marcos Afonso. Os dois ficaram bem na fita. Não somente eles: o menino Jorge Viana, serelepe como nunca o havia visto, foi um espetáculo à parte. O cara é danado demais da conta. Acho que até agora deve estar com dor na lombar e coceiras na garganta, de tanto que dançou e cantou. Viva Jorge! Nasceu para brilhar. Muitos que estavam ali, por mais que se esforcem, não brilharão jamais. Não são estrelas, apenas coadjuvantes.
Por um minuto, parei de escrever para voltar no tempo. Voltei ao Casarão do coronel Fontenele de Castro. Ele estava lá, refestelado em sua cadeira de balanço de vime. Cadeira personalizada, diga-se. Quase um trono, saliente-se. Conversava com seu ajudante de ordens, cujo nome não lembro e com o Waldemar Maciel. O assunto era o de sempre: fuxicos e boatos políticos. Estavam sérios.
Cheguei numa hora imprópria e fui para a cozinha ter com a dona Guiomar. O coronel Fontenele vestia farda, mas, mandar de verdade, era privativo de dona Guiomar. Não sei se coronel de Guarda Territorial tinha estrelas. Se tivesse, vamos dizer que cinco, dona Guiomar tinha dez. Por baixo.
Guiomar era mulher forte, de cabelos na venta e moral de aço. Sua palavra era lei. Que o digam o Chico e o Fontenelinho Gato, seus filhos vivos e que moram no Acre. E a Cezarinete, que mora no Rio, creio. Aquela senhora, de fala áspera, tinha sobejas razões de vestir armaduras. Viver no Acre era difícil e as funções do marido obrigavam-na a ser assim. Na essência, na pura essência, era uma Maria-Mole, de coração derretido e sentimentos puros.
Minhas confabulações com dona Guiomar iam além do tomado de conta da piscina, então utilizada pelas crianças da rua. No dinheiro da época, uma hora de uso equivaleria, hoje, a R$ 1,00. Seus filhos haviam crescido e não mais faziam loucuras com os primos e amigos. E foram muitas as loucuras.
Gilberto Castro, sobrinho do coronel, não raras vezes pulava de um grande pé de manga fazendo de paraquedas um guardachuvas todo picotado. Gilberto virou homem e tornou-se militar da Aeronáutica, servindo na Esquadrilha da Fumaça e em caças, acho.
A piscina onde habitaram o Jack Fontenele e sua namorada Clara Crocodilo foi palco de muitas tiradas de sarro entre meninos e meninas da sociedade. Para não ficar perdida, minhas afinidades com dona Guiomar ficaram mais fortes por conta de uma tia de minha mãe, moradora da mesma rua, hoje Avenida Brasil.
A maldita, também mulher de militar, vivia a encrencar com minha amigona, aparentemente por motivos políticos. Nada disso. Acho que ela queria mesmo era "coisar" com o coronel. Não só acho. Mais que acho. E ficou assim. O coronel não dava margens a prevaricações. Homem sério não joga honra no lixo. Assim ensinou aos seus filhos, quando dizia: "Se engravidarem uma mulher, seja pobre, seja rica, negra, branca, saudável ou aleijada, tem que assumir". Tudo ratificado pela matrona.
Morto o coronel, lembrei, nunca havia visto tanta comoção. No velório e no enterro. Fiquei encarregada de encomendar missa de sétimo dia. Minha casa ficava no caminho da catedral. A missa foi outro momento de consternação. O homem era querido, quase venerado.
Na revitalização, percebi, eliminaram a sala de visitas da casa, onde ficou o corpo. O espaço ficou mais livre para os eventos. Enquanto for point, evidentemente. Bem, isso passou. Poderiam ser tão somente velhos retratos na parede. Apenas.
Do Casarão do tempo do Pedro Vicente, lembro da Livraria e Café da Silene. Um ideia das boas, enquanto durou. Do Casarão de qualquer que fosse o tempo, lembrei do Lhé. Ao dançarmos uma parte, fui por ele avisada que tinha piolhos na barba. Quase morri.
Do ultimo Casarão, do tempo do Walter e da Graça, estanquei na lembrança do sambista João Nogueira, já quase em fase terminal. Estávamos os dois, frente à frente, pouco antes do meio dia. Pedi uma cerveja. A dele estava no fim. Bebemos mais duas e, sem uma única palavra, ele chorou. Eu também. Ele me disse: "É". Eu lhe respondi: "É".
Nunca mais voltei ao Casarão. O do tempo do Coronel, o do Jack Fontenele e da Clara Crocodilo, o da Graça e do Walter e o do João Nogueira, não são motivos de saudades. Adorei ter vivido. Não são apenas retratos amarelecidos. São imagens vivas penduradas no coração.
Muito agradecida ao camarada Binho. Valeu.
Leila Jalul é cronista acreana
Leila Jalul
Prezado Altino,
Desse Casarão aí, ainda bem, fico sem saudades. Entanto, com sinceridade, desejo que não tenha o mesmo fim do Bar Municipal e do Café do Theatro, que estão a mais ou menos 100 metros. Será uma lástima se vier a acontecer.
Responda-me uma coisa: teria o Abrahim Farhat tomado um chá de champignons? Ou Viagra vencido? Rapaz, o cabra tava doidão! Quase ou mais que o Pia Vila. Esse Brachula não tem mais idade para essas emoções. Fiquei apreensiva, acredite.
A revitalização é um belo gesto do governador Binho Marques. Devo-lhe desculpas pelo comentário sobre as casinhas populares. Meu pensamento é aquele mesmo. O comentário é que chegou numa hora bem difícil para sua pessoa. Coisas da vida.
Voltando ao Casarão, fiquei deveras emocionada com a homenagem prestada ao Chico Pop. Esse menino era um visionário, um lutador e um bom amigo de muita gente boa. Ainda assim, teve dificuldades para ser levado a sério. Coisas da vida. E da época.
Amei ter visto os amiguinhos Elson Martins e Marcos Afonso. Os dois ficaram bem na fita. Não somente eles: o menino Jorge Viana, serelepe como nunca o havia visto, foi um espetáculo à parte. O cara é danado demais da conta. Acho que até agora deve estar com dor na lombar e coceiras na garganta, de tanto que dançou e cantou. Viva Jorge! Nasceu para brilhar. Muitos que estavam ali, por mais que se esforcem, não brilharão jamais. Não são estrelas, apenas coadjuvantes.
Por um minuto, parei de escrever para voltar no tempo. Voltei ao Casarão do coronel Fontenele de Castro. Ele estava lá, refestelado em sua cadeira de balanço de vime. Cadeira personalizada, diga-se. Quase um trono, saliente-se. Conversava com seu ajudante de ordens, cujo nome não lembro e com o Waldemar Maciel. O assunto era o de sempre: fuxicos e boatos políticos. Estavam sérios.
Cheguei numa hora imprópria e fui para a cozinha ter com a dona Guiomar. O coronel Fontenele vestia farda, mas, mandar de verdade, era privativo de dona Guiomar. Não sei se coronel de Guarda Territorial tinha estrelas. Se tivesse, vamos dizer que cinco, dona Guiomar tinha dez. Por baixo.
Guiomar era mulher forte, de cabelos na venta e moral de aço. Sua palavra era lei. Que o digam o Chico e o Fontenelinho Gato, seus filhos vivos e que moram no Acre. E a Cezarinete, que mora no Rio, creio. Aquela senhora, de fala áspera, tinha sobejas razões de vestir armaduras. Viver no Acre era difícil e as funções do marido obrigavam-na a ser assim. Na essência, na pura essência, era uma Maria-Mole, de coração derretido e sentimentos puros.
Minhas confabulações com dona Guiomar iam além do tomado de conta da piscina, então utilizada pelas crianças da rua. No dinheiro da época, uma hora de uso equivaleria, hoje, a R$ 1,00. Seus filhos haviam crescido e não mais faziam loucuras com os primos e amigos. E foram muitas as loucuras.
Gilberto Castro, sobrinho do coronel, não raras vezes pulava de um grande pé de manga fazendo de paraquedas um guardachuvas todo picotado. Gilberto virou homem e tornou-se militar da Aeronáutica, servindo na Esquadrilha da Fumaça e em caças, acho.
A piscina onde habitaram o Jack Fontenele e sua namorada Clara Crocodilo foi palco de muitas tiradas de sarro entre meninos e meninas da sociedade. Para não ficar perdida, minhas afinidades com dona Guiomar ficaram mais fortes por conta de uma tia de minha mãe, moradora da mesma rua, hoje Avenida Brasil.
A maldita, também mulher de militar, vivia a encrencar com minha amigona, aparentemente por motivos políticos. Nada disso. Acho que ela queria mesmo era "coisar" com o coronel. Não só acho. Mais que acho. E ficou assim. O coronel não dava margens a prevaricações. Homem sério não joga honra no lixo. Assim ensinou aos seus filhos, quando dizia: "Se engravidarem uma mulher, seja pobre, seja rica, negra, branca, saudável ou aleijada, tem que assumir". Tudo ratificado pela matrona.
Morto o coronel, lembrei, nunca havia visto tanta comoção. No velório e no enterro. Fiquei encarregada de encomendar missa de sétimo dia. Minha casa ficava no caminho da catedral. A missa foi outro momento de consternação. O homem era querido, quase venerado.
Na revitalização, percebi, eliminaram a sala de visitas da casa, onde ficou o corpo. O espaço ficou mais livre para os eventos. Enquanto for point, evidentemente. Bem, isso passou. Poderiam ser tão somente velhos retratos na parede. Apenas.
Do Casarão do tempo do Pedro Vicente, lembro da Livraria e Café da Silene. Um ideia das boas, enquanto durou. Do Casarão de qualquer que fosse o tempo, lembrei do Lhé. Ao dançarmos uma parte, fui por ele avisada que tinha piolhos na barba. Quase morri.
Do ultimo Casarão, do tempo do Walter e da Graça, estanquei na lembrança do sambista João Nogueira, já quase em fase terminal. Estávamos os dois, frente à frente, pouco antes do meio dia. Pedi uma cerveja. A dele estava no fim. Bebemos mais duas e, sem uma única palavra, ele chorou. Eu também. Ele me disse: "É". Eu lhe respondi: "É".
Nunca mais voltei ao Casarão. O do tempo do Coronel, o do Jack Fontenele e da Clara Crocodilo, o da Graça e do Walter e o do João Nogueira, não são motivos de saudades. Adorei ter vivido. Não são apenas retratos amarelecidos. São imagens vivas penduradas no coração.
Muito agradecida ao camarada Binho. Valeu.
Leila Jalul é cronista acreana
A MÍDIA INDEPENDENTE DEPOIS DAS ELEIÇÕES
Pinçado do Maria Fro.
A mídia independente depois das eleições
Por: Tadeu Breda (@tadeubreda) , Latitude Sul
22/11/2010
foto: Marc Ferréz
Foi bastante compreensiva, para não dizer providencial, a postura combativa dos meios de comunicação alternativos durante o segundo turno das eleições presidenciais brasileiras. Muitas revistas e jornais de pequena circulação, blogues e iniciativas digitais, como o 48hdemocracia, simplesmente não titubearam em vestir a camisa de Dilma Rousseff. O objetivo era claro: defender a candidata do PT contra as investidas da campanha de José Serra e as manipulações da chamada grande imprensa – para muitos, favorável ao tucano.
Pudera. Menos de um mês depois da apuração, virou clichê dizer que o processo eleitoral de 2010 ficará marcado como um dos mais pobres em discussões e ideias desde a redemocratização. A disputa pela sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva talvez tenha sido o ponto álgido do marketing político e do oportunismo eleitoreiro. Nunca se viu marqueteiros tão poderosos a ponto de dobrar convicções ideológicas e apequená-las diante da sanha pelo poder e da caça indiscriminada de votos. Até quem nunca tinha ido à igreja ajoelhou-se e rezou para os padroeiros da opinião pública.
Na tevê, no rádio e sobretudo na internet, a campanha demo-tucana e seus apoiadores (voluntários ou não) preferiram apelar para os mais profundos preconceitos da sociedade brasileira como estratégia para angariar, através do medo, um apoio popular que nunca tiveram e reverter, pela pobreza do discurso moralista, o resultado das pesquisas, que vinham anunciando mais uma vitória do petismo.
A tática foi bastante parecida com a estratégia derrotada de 2002. Faltou apenas colocar uma estrela de novela confessando seu temor eleitoral diante das câmeras. Desta vez, porém, o PSDB resolveu ir mais fundo em seu conservadorismo e pedir socorro aos representantes de Jesus Cristo na Terra.
Todos nos lembraremos – e não devemos nos esquecer jamais – que José Serra convocou para a batalha das urnas o apoio dos setores mais retrógrados do país e pactuou com as alas extremistas tanto da igreja católica como das evangélicas. Apesar de autoelogiar seu desempenho como ministro da Saúde, o candidato aliou-se com gente que desconsidera a epidemia de aids que paira pelo mundo, a importância social do planejamento familiar e que, ainda hoje, se presta a fazer campanha contra o uso de preservativos.
José Serra praticou deliberadamente o obscurantismo em torno de temas tão polêmicos quanto importantes para o bem-estar da população, como é o caso do aborto e da união civil de homossexuais, aferrando-se ao medievalismo cristão para angariar votos entre os poucos fiéis que ainda fazem o que o padre diz. Também manipulou o papel histórico desempenhado pela resistência armada durante a ditadura militar. Sua guerrilha digital vestiu Dilma Rousseff de verde oliva e impôs-lhe um charutão a la Fidel Castro entre os dentes.
No auge da empulhação, o tucano simulou uma agressão física que nunca existiu. Tanto que sua calva seguiu lustrosa e radiante durante toda a passeata que realizou no Rio de Janeiro. A bolinha de papel pode ter doído no brio, mas não lhe feriu a cabeça.
Por fim, é digno de nota – e despreço – o renascimento da xenofobia no Brasil. Desta vez o bairrismo paulista e o ódio contra nordestinos transcendeu os ambientes privados e escapou pelo twitter. É certo que a onda de manifestações preconceituosas foi desencadeada pelas declarações de José Serra e seus asseclas, que endossaram a tese de que as eleições dividiram o país entre indivíduos pobres e incapacitados, que moram no Nordeste e votam em Dilma, versus cidadãos conscientes, que habitam as regiões mais prósperas e apertaram 45 para presidente.
Lá como cá
Muitas análises compararam a postura anti-argumentativa e preconceituosa da Coligação Brasil Pode Mais (PSDB, DEM, PPS) ao discurso revisionista do Tea Party, a grande sensação política do momento nos Estados Unidos. Nitidamente, a principal semelhança entre um e outro é a opção por fugir do debate sério e aprofundado, livre de lugares-comuns, sobre as questões mais prementes para o futuro do país.
O movimento Tea Party surgiu na esteira da vitória de Barack Hussein Obama, em 2008. A musa do movimento, Sarah Palin, foi então candidata a vice na chapa derrotada, encabeçada por John McCain. Ambos pertencem ao Partido Republicano, e foi exatamente entre seus membros que se acomodou o Tea Party. No seio conservador da América, não precisou de muito esforço para crescer. Afinal, um objetivo comum unificou os interesses da direita ianque: derrocar o primeiro negro a assumir a Casa Branca, que, não bastasse a cor da pele, ainda tem sobrenome árabe.
Na mesma semana em que o Brasil escolhia seu próximo chefe-de-estado, os estadunidenses eram chamados a definir a composição da Câmara e do Senado para os próximos quatro anos. E as eleições legislativas impuseram uma profunda derrota ao governo democrata. Mais que um mero fracasso político de Barack Obama, o evento significou o maior fiasco de um presidente em influenciar a composição do parlamento desde 1938. Os democratas perderam a maioria entre os deputados, que haviam conseguido durante a administração George W. Bush, e viram sua vantagem minguar a um empate técnico entre os senadores.
A estratégia dos republicanos, capitaneados pelo Tea Party, foi bastante clara. Acusaram o presidente de ser um marxista empedernido, de praticar secretamente o Islã, de querer aumentar o poder e a influência do estado na vida dos cidadãos e de internalizar valores tribais herdados de seus antepassados quenianos. Para a direita, Barack Obama não está imbuído dos princípios americanos.
O Tea Party abominou a reforma democrata no sistema de saúde e rechaçou o pacote econômico lançado pela Casa Branca para aliviar os efeitos da crise no país. Aliás, num enorme esforço de desinformação, a ala mais conservadora dos conservadores estadunidenses atribuiu ao presidente toda a responsabilidade pela recessão – senão pelas suas causas, pelo fracasso em paliar suas consequências.
Na terra do Tio Sam, portanto, o Tea Party já conseguiu colher expressivos resultados eleitorais e ninguém duvida que sua retórica tresloucada imporá novas derrotas políticas ao governo democrata. Com a guinada republicana e a ascensão dos radicais de direita, Barack Obama ficou engessado na presidência.
A reforma no sistema de saúde corre o risco de morrer de inanição pelo boicote anunciado à assignação de recursos. E a política externa obamista, que tem buscado mais diálogo do que Washington estava acostumado e que rendeu ao presidente um prematuro prêmio Nobel da Paz, pode voltar a adotar o bordão “nós ganhamos, eles perdem”.
O esperançoso bordão Yes We Can, que uniu forças progressistas em torno da figura de Obama e de suas promessas de mudança, fatalmente se transformará num lema inócuo quando encontrar a barreira montada pela oposição no Congresso.
Risco de retrocesso
O caso dos Estados Unidos demonstra que as táticas de manipulação e preconceito político sim podem influenciar no resultado das eleições e destruir, do dia para a noite, projetos nacionais que levaram décadas para serem postos em prática.
No Brasil ainda não existe um movimento conservador com tanto apelo popular, mas o PSDB se aproximou perigosamente da baixaria do Tea Party neste segundo turno. Basta lembrar que José Serra saiu por aí frequentando missas, beijando santos, lendo a Bíblia e distribuindo panfletos com os dizeres “Jesus é a verdade e a justiça”. Enquanto encarnava o papel de missionário, dava sermões sobre seu papel de redentor das liberdades civis no país, sobretudo da liberdade de imprensa, que estaria em risco no caso de mais uma vitória do PT.
Entre seus cabos eleitorais, estava o bispo de Guarulhos, dom Luiz Bergonzini. Por intermédio de um militante da causa monarquista, o religioso mandou imprimir folhetos com o logo da CNBB condenando o aborto e sugerindo o voto no tucano. O papa Bento 16, às vésperas do pleito e com ampla cobertura dos meios de comunicação, também deu um empurrãozinho na candidatura do PSDB. No flanco evangélico, o apóstolo Renê Terra Nova não poupou esforços para viajar o Brasil com seu jatinho semeando a palavra de deus travestida de propaganda serrista.
O segundo turno forjou um cenário eleitoral em que os avanços sociais e democráticos alcançados durante o governo Lula foram repentinamente laçados à berlinda das urnas. Dois caminhos estavam à disposição dos brasileiros. Com Dilma, poderíamos seguir uma rota semelhante à trilhada nos últimos 8 anos e, por ventura, aprofundar as mudanças. Com Serra, o retrocesso batia à porta, exposto pelas alianças costuradas pelo PSDB na tentativa de vencer a qualquer custo.
Foi então que a imprensa alternativa reagiu prontamente. Cada ataque da campanha de José Serra ou do noticiário tucanófilo era acompanhado de uma enxurrada de contrapontos, argumentos, fatos e imagens, veiculados pela internet, por jornais ou revistas de esquerda. Talvez o maior exemplo da capacidade de resposta dos meios alternativos tenha sido a determinação dos blogues em destruir a farsa montada pela Rede Globo ao redor da bolinha de papel.
Houve vítimas pelo caminho, claro. A psicoanalista Maria Rita Kehl, que até o segundo turno escreveu para o jornal O Estado de S. Paulo, foi demitida após defender o Bolsa-Família e criticar as correntes anti-nordestinas que pipocavam nas caixas de e-mail pelo Brasil afora. O semanário CartaCapital foi chamado a explicar perante a Justiça os contratos de publicidade que mantém com o governo federal. A Revista do Brasil foi censurada pelo TSE após estampar o rosto de Dilma Rousseff na capa de sua edição de outubro, publicada uma semana depois do primeiro turno.
A polarização era tanta que teve jornalista demitido até no Ceará. Seu pecado foi publicar um caderno especial sobre o intelectual franco-brasileiro Michael Löwy e dois livros de sua autoria: Revoluções e Aviso de Incêndio. Também houve repórteres hostilizados durante o exercício da profissão. Foi com um raivoso “pelego filho da puta” que Aloysio Nunes Ferreira, senador eleito por São Paulo, recebeu um trabalhador da imprensa alternativa por demais insolente ao ponto de querer entrevistá-lo.
Depois da militância
A mídia alternativa desempenhou um duplo papel durante as eleições: não só cumpriu com suas obrigações jornalísticas ao desfazer manipulações, combater preconceitos e oferecer diferentes pontos de vista sobre os fatos, como também atuou política e partidariamente com o objetivo de garantir a vitória de uma candidatura que, a seu juízo – e o segundo turno deixou poucas dúvidas disso –, representava a melhor opção para governar o país. Na maioria das vezes, foi feliz e matou estes dois coelhos com uma cajadada só.
Contudo, passado o susto de uma ressaca conservadora que não aconteceu, talvez seja o momento de jornalistas independentes e meios de comunicação alternativos reavaliarem seu posicionamento no teatro do bem e do mal da política brasileira. Afinal, qual é a linha que separa o chapa-branquismo da defesa do interesse público?
No segundo turno de polarizações eleitorais, criticar as vicissitudes do governo Lula ou as deficiências de Dilma Rousseff era dar munição à violenta campanha montada pela oposição. Por isso, às vésperas do pleito, a corrida presidencial ganhou ares de jogo de futebol. Se os brasileiros deixamos de ser cidadãos e fomos transformados em torcida organizada, o jornalismo seguiu o mesmo rumo: era PT ou PSDB, Gaviões da Fiel ou Mancha Verde, sem meio termo.
Qualquer desconfiança quanto à própria escolha significava ceder à “superioridade” do adversário. A política deu lugar à paixão. E, entre apaixonados, no esporte ou nas eleições, não há diálogo nem entendimento. Tampouco autocrítica: afinal, não se critica o próprio time na final de um campeonato. O atacante pode estar fora de forma e o técnico, ser um energúmeno. O que importa é ganhar.
Dilma ganhou e, felizmente, a peleja chegou ao fim. Como sempre, depois de um processo eleitoral, agora há um país a construir e que tem que dar certo para a maioria. Em tempos de paz, talvez não seja papel do jornalismo – nem do tradicional nem do alternativo – vestir a camisa deste ou daquele partido. Isso não quer dizer que temos de ressuscitar os mitos enterrados da imparcialidade. Tomar partido em épocas de polarização, como vimos, é saudável. Porém, submeter-se aos ditames de um grupo político a tempo completo pode ser danoso.
Em última análise, não há qualquer mal intrínseco em transformar-se no porta-voz de um projeto de poder. Nas democracias mais maduras, as forças partidárias estão bem representadas na imprensa. Na Espanha, o El País mantém relações com o PSOE. Nos Estados Unidos, os democratas estão mais presentes no New York Times. O Il Manifesto, da Itália, não esconde sua preferência comunista. Esta é uma opção legítima para externar à sociedade como uma agremiação política vê o mundo e interpreta a realidade. Da mesma maneira que, no Brasil, os grandes meios de comunicação se identificam com as pautas liberais e com as candidaturas mais conservadoras, como as do PSDB, é saudável que o PT e todos os demais partidos, à medida que ganhem força, também tenham aliados na trincheira midiática.
Entretanto, já passou da hora de jornalistas e meios de comunicação independentes (ou pelo menos os que desejem denominar-se como tais) assumirem papel protagônico no cenário informativo brasileiro. Entre blogueiros e profissionais que ganham a vida fora do eixo tradicional, há capacidade de sobra em braços e cabeças para elaborar uma cobertura livre das amarras mercadológicas e da estreiteza temática da opinião pública.
A internet oferece milhões de possibilidades para a criação de novos paradigmas informativos em áudio, texto, vídeo e imagens, ou na fusão simultânea de todas as mídias, tudo a baixo custo. E há pautas suficientes para preencher um novo noticiário permanente que consiga abarcar, com qualidade técnica e estética, os temas de maior interesse à sociedade nacional e internacional – sobretudo os que não estão ou não encontram na imprensa de massa o espaço que merecem.
Não há razões, portanto, para que os jornalistas independentes se restrinjam ao papel subalterno de combater as infinitas distorções da grande mídia. Estar atento para o que acontece no main stream sempre foi e continuará sendo importante. Afinal, é através do Jornal Nacional, da Veja e dos jornalões que se constrói o senso comum no país. E, ao desconstruir a visão de mundo que diariamente penetra nos lares brasileiros, o jornalismo alternativo oferece novas maneiras de enxergar os fatos, as fotos e as declarações.
Continuar nesta trilha, porém, é ficar à reboque da pauta tradicional – ainda que seja um reboque às avessas. Assim, os veículos da imprensa alternativa correm o risco de se transformar em observatórios de mídia: darão um passo para fora do jornalismo e assumirão funções de críticos, o que já é feito há muito tempo por alguns acadêmicos e, claro, pelo Observatório da Imprensa.
O salto da reportagem
Chegamos ao limite da crítica. O jornalismo alternativo precisa mudar de patamar se quiser continuar existindo de maneira independente e cercar-se de legitimidade social. Porque o melhor combate à grande imprensa se dá oferecendo ao público um conteúdo melhor, que traz em cada manchete o ideal que se revela nas entrelinhas da crítica: opiniões menos superficiais, matérias mais completas, pautas que problematizem a realidade ao invés de simplesmente reproduzi-la ou contrapô-la pelo automatismo cotidiano.
O grande filão do jornalismo independente é a reportagem, que hoje em dia foi colocada em segundo plano pela imensa maioria dos meios de comunicação tradicionais. E por um motivo bastante simples: realizar investigações jornalísticas é muito caro e traz pouco resultado comercial. Aliás, uma boa reportagem muitas vezes atenta contra o mercado publicitário, pois tem a nobre vocação de chafurdar fundo nas mazelas sociais que via de regra põem em xeque o interesse de empresas, instituições ou governos — enfim, os anunciantes em potencial. A reportagem precisa de dinheiro tanto quanto tem o potencial de repeli-lo. Eis a grande sinuca de bico do jornalismo independente hoje.
Assumir uma postura governista durante a gestão do PT pode dar sobrevida econômica aos meios de comunicação alternativos. Não foi à toa que, durante o governo Lula, o Brasil assistiu à diversificação política da imprensa. Antes dominado por conglomerados empresariais, hoje o noticiário brasileiro é mais plural. Os últimos 8 anos ampliaram a liberdade de comunicação e expressão no país, o que é motivo de comemoração, mas ainda estamos longe do ideal.
Nenhum cidadão ficará satisfeito com a divisão da comunicação social entre veículos pró-PT, pró-PSDB ou pró-qualquer-coisa. O jornalismo independente é um serviço público e deve advogar em causa própria. E a causa da imprensa livre foi e sempre será o interesse da maioria da população — ou da fatia social que ela se diz representar. Direitos humanos, justiça social, preservação do meio-ambiente, bem-estar coletivo e liberdades civis são alguns dos valores que podem nortear o ofício de informar.
É a partir deles – e, eventualmente, de sua ampliação e radicalização – que o jornalismo pode escolher criticar ou elogiar governos e desgovernos pelo mundo afora. Elogiar, porém, me parece bastante complicado, já que sempre é possível para a administração pública fazer mais e melhor. Talvez seja a sina do jornalista independente estar permanentemente na oposição, não porque desprecie tudo o que existe ou não seja capaz de reconhecer avanços, mas porque não deve descansar enquanto houver qualquer rastro de injustiça e desigualdade no planeta. É longo o trabalho que tem pela frente: revelar o que está escondido, trazer à tona o que foi submerso pela indiferença cotidiana, discutir o que normalmente não se discute.
Felizmente, a internet está aí para servir-nos. O grande desafio, quem sabe, seja saber como podemos remunerar e possibilitar vida digna aos jornalistas capazes e dispostos a serem independentes. Afinal, por mais autônomo que consiga ser, ninguém escapa da ditadura das contas. –tadeu breda (cc)
Por: Tadeu Breda (@tadeubreda) , Latitude Sul
22/11/2010
foto: Marc Ferréz
Foi bastante compreensiva, para não dizer providencial, a postura combativa dos meios de comunicação alternativos durante o segundo turno das eleições presidenciais brasileiras. Muitas revistas e jornais de pequena circulação, blogues e iniciativas digitais, como o 48hdemocracia, simplesmente não titubearam em vestir a camisa de Dilma Rousseff. O objetivo era claro: defender a candidata do PT contra as investidas da campanha de José Serra e as manipulações da chamada grande imprensa – para muitos, favorável ao tucano.
Pudera. Menos de um mês depois da apuração, virou clichê dizer que o processo eleitoral de 2010 ficará marcado como um dos mais pobres em discussões e ideias desde a redemocratização. A disputa pela sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva talvez tenha sido o ponto álgido do marketing político e do oportunismo eleitoreiro. Nunca se viu marqueteiros tão poderosos a ponto de dobrar convicções ideológicas e apequená-las diante da sanha pelo poder e da caça indiscriminada de votos. Até quem nunca tinha ido à igreja ajoelhou-se e rezou para os padroeiros da opinião pública.
Na tevê, no rádio e sobretudo na internet, a campanha demo-tucana e seus apoiadores (voluntários ou não) preferiram apelar para os mais profundos preconceitos da sociedade brasileira como estratégia para angariar, através do medo, um apoio popular que nunca tiveram e reverter, pela pobreza do discurso moralista, o resultado das pesquisas, que vinham anunciando mais uma vitória do petismo.
A tática foi bastante parecida com a estratégia derrotada de 2002. Faltou apenas colocar uma estrela de novela confessando seu temor eleitoral diante das câmeras. Desta vez, porém, o PSDB resolveu ir mais fundo em seu conservadorismo e pedir socorro aos representantes de Jesus Cristo na Terra.
Todos nos lembraremos – e não devemos nos esquecer jamais – que José Serra convocou para a batalha das urnas o apoio dos setores mais retrógrados do país e pactuou com as alas extremistas tanto da igreja católica como das evangélicas. Apesar de autoelogiar seu desempenho como ministro da Saúde, o candidato aliou-se com gente que desconsidera a epidemia de aids que paira pelo mundo, a importância social do planejamento familiar e que, ainda hoje, se presta a fazer campanha contra o uso de preservativos.
José Serra praticou deliberadamente o obscurantismo em torno de temas tão polêmicos quanto importantes para o bem-estar da população, como é o caso do aborto e da união civil de homossexuais, aferrando-se ao medievalismo cristão para angariar votos entre os poucos fiéis que ainda fazem o que o padre diz. Também manipulou o papel histórico desempenhado pela resistência armada durante a ditadura militar. Sua guerrilha digital vestiu Dilma Rousseff de verde oliva e impôs-lhe um charutão a la Fidel Castro entre os dentes.
No auge da empulhação, o tucano simulou uma agressão física que nunca existiu. Tanto que sua calva seguiu lustrosa e radiante durante toda a passeata que realizou no Rio de Janeiro. A bolinha de papel pode ter doído no brio, mas não lhe feriu a cabeça.
Por fim, é digno de nota – e despreço – o renascimento da xenofobia no Brasil. Desta vez o bairrismo paulista e o ódio contra nordestinos transcendeu os ambientes privados e escapou pelo twitter. É certo que a onda de manifestações preconceituosas foi desencadeada pelas declarações de José Serra e seus asseclas, que endossaram a tese de que as eleições dividiram o país entre indivíduos pobres e incapacitados, que moram no Nordeste e votam em Dilma, versus cidadãos conscientes, que habitam as regiões mais prósperas e apertaram 45 para presidente.
Lá como cá
Muitas análises compararam a postura anti-argumentativa e preconceituosa da Coligação Brasil Pode Mais (PSDB, DEM, PPS) ao discurso revisionista do Tea Party, a grande sensação política do momento nos Estados Unidos. Nitidamente, a principal semelhança entre um e outro é a opção por fugir do debate sério e aprofundado, livre de lugares-comuns, sobre as questões mais prementes para o futuro do país.
O movimento Tea Party surgiu na esteira da vitória de Barack Hussein Obama, em 2008. A musa do movimento, Sarah Palin, foi então candidata a vice na chapa derrotada, encabeçada por John McCain. Ambos pertencem ao Partido Republicano, e foi exatamente entre seus membros que se acomodou o Tea Party. No seio conservador da América, não precisou de muito esforço para crescer. Afinal, um objetivo comum unificou os interesses da direita ianque: derrocar o primeiro negro a assumir a Casa Branca, que, não bastasse a cor da pele, ainda tem sobrenome árabe.
Na mesma semana em que o Brasil escolhia seu próximo chefe-de-estado, os estadunidenses eram chamados a definir a composição da Câmara e do Senado para os próximos quatro anos. E as eleições legislativas impuseram uma profunda derrota ao governo democrata. Mais que um mero fracasso político de Barack Obama, o evento significou o maior fiasco de um presidente em influenciar a composição do parlamento desde 1938. Os democratas perderam a maioria entre os deputados, que haviam conseguido durante a administração George W. Bush, e viram sua vantagem minguar a um empate técnico entre os senadores.
A estratégia dos republicanos, capitaneados pelo Tea Party, foi bastante clara. Acusaram o presidente de ser um marxista empedernido, de praticar secretamente o Islã, de querer aumentar o poder e a influência do estado na vida dos cidadãos e de internalizar valores tribais herdados de seus antepassados quenianos. Para a direita, Barack Obama não está imbuído dos princípios americanos.
O Tea Party abominou a reforma democrata no sistema de saúde e rechaçou o pacote econômico lançado pela Casa Branca para aliviar os efeitos da crise no país. Aliás, num enorme esforço de desinformação, a ala mais conservadora dos conservadores estadunidenses atribuiu ao presidente toda a responsabilidade pela recessão – senão pelas suas causas, pelo fracasso em paliar suas consequências.
Na terra do Tio Sam, portanto, o Tea Party já conseguiu colher expressivos resultados eleitorais e ninguém duvida que sua retórica tresloucada imporá novas derrotas políticas ao governo democrata. Com a guinada republicana e a ascensão dos radicais de direita, Barack Obama ficou engessado na presidência.
A reforma no sistema de saúde corre o risco de morrer de inanição pelo boicote anunciado à assignação de recursos. E a política externa obamista, que tem buscado mais diálogo do que Washington estava acostumado e que rendeu ao presidente um prematuro prêmio Nobel da Paz, pode voltar a adotar o bordão “nós ganhamos, eles perdem”.
O esperançoso bordão Yes We Can, que uniu forças progressistas em torno da figura de Obama e de suas promessas de mudança, fatalmente se transformará num lema inócuo quando encontrar a barreira montada pela oposição no Congresso.
Risco de retrocesso
O caso dos Estados Unidos demonstra que as táticas de manipulação e preconceito político sim podem influenciar no resultado das eleições e destruir, do dia para a noite, projetos nacionais que levaram décadas para serem postos em prática.
No Brasil ainda não existe um movimento conservador com tanto apelo popular, mas o PSDB se aproximou perigosamente da baixaria do Tea Party neste segundo turno. Basta lembrar que José Serra saiu por aí frequentando missas, beijando santos, lendo a Bíblia e distribuindo panfletos com os dizeres “Jesus é a verdade e a justiça”. Enquanto encarnava o papel de missionário, dava sermões sobre seu papel de redentor das liberdades civis no país, sobretudo da liberdade de imprensa, que estaria em risco no caso de mais uma vitória do PT.
Entre seus cabos eleitorais, estava o bispo de Guarulhos, dom Luiz Bergonzini. Por intermédio de um militante da causa monarquista, o religioso mandou imprimir folhetos com o logo da CNBB condenando o aborto e sugerindo o voto no tucano. O papa Bento 16, às vésperas do pleito e com ampla cobertura dos meios de comunicação, também deu um empurrãozinho na candidatura do PSDB. No flanco evangélico, o apóstolo Renê Terra Nova não poupou esforços para viajar o Brasil com seu jatinho semeando a palavra de deus travestida de propaganda serrista.
O segundo turno forjou um cenário eleitoral em que os avanços sociais e democráticos alcançados durante o governo Lula foram repentinamente laçados à berlinda das urnas. Dois caminhos estavam à disposição dos brasileiros. Com Dilma, poderíamos seguir uma rota semelhante à trilhada nos últimos 8 anos e, por ventura, aprofundar as mudanças. Com Serra, o retrocesso batia à porta, exposto pelas alianças costuradas pelo PSDB na tentativa de vencer a qualquer custo.
Foi então que a imprensa alternativa reagiu prontamente. Cada ataque da campanha de José Serra ou do noticiário tucanófilo era acompanhado de uma enxurrada de contrapontos, argumentos, fatos e imagens, veiculados pela internet, por jornais ou revistas de esquerda. Talvez o maior exemplo da capacidade de resposta dos meios alternativos tenha sido a determinação dos blogues em destruir a farsa montada pela Rede Globo ao redor da bolinha de papel.
Houve vítimas pelo caminho, claro. A psicoanalista Maria Rita Kehl, que até o segundo turno escreveu para o jornal O Estado de S. Paulo, foi demitida após defender o Bolsa-Família e criticar as correntes anti-nordestinas que pipocavam nas caixas de e-mail pelo Brasil afora. O semanário CartaCapital foi chamado a explicar perante a Justiça os contratos de publicidade que mantém com o governo federal. A Revista do Brasil foi censurada pelo TSE após estampar o rosto de Dilma Rousseff na capa de sua edição de outubro, publicada uma semana depois do primeiro turno.
A polarização era tanta que teve jornalista demitido até no Ceará. Seu pecado foi publicar um caderno especial sobre o intelectual franco-brasileiro Michael Löwy e dois livros de sua autoria: Revoluções e Aviso de Incêndio. Também houve repórteres hostilizados durante o exercício da profissão. Foi com um raivoso “pelego filho da puta” que Aloysio Nunes Ferreira, senador eleito por São Paulo, recebeu um trabalhador da imprensa alternativa por demais insolente ao ponto de querer entrevistá-lo.
Depois da militância
A mídia alternativa desempenhou um duplo papel durante as eleições: não só cumpriu com suas obrigações jornalísticas ao desfazer manipulações, combater preconceitos e oferecer diferentes pontos de vista sobre os fatos, como também atuou política e partidariamente com o objetivo de garantir a vitória de uma candidatura que, a seu juízo – e o segundo turno deixou poucas dúvidas disso –, representava a melhor opção para governar o país. Na maioria das vezes, foi feliz e matou estes dois coelhos com uma cajadada só.
Contudo, passado o susto de uma ressaca conservadora que não aconteceu, talvez seja o momento de jornalistas independentes e meios de comunicação alternativos reavaliarem seu posicionamento no teatro do bem e do mal da política brasileira. Afinal, qual é a linha que separa o chapa-branquismo da defesa do interesse público?
No segundo turno de polarizações eleitorais, criticar as vicissitudes do governo Lula ou as deficiências de Dilma Rousseff era dar munição à violenta campanha montada pela oposição. Por isso, às vésperas do pleito, a corrida presidencial ganhou ares de jogo de futebol. Se os brasileiros deixamos de ser cidadãos e fomos transformados em torcida organizada, o jornalismo seguiu o mesmo rumo: era PT ou PSDB, Gaviões da Fiel ou Mancha Verde, sem meio termo.
Qualquer desconfiança quanto à própria escolha significava ceder à “superioridade” do adversário. A política deu lugar à paixão. E, entre apaixonados, no esporte ou nas eleições, não há diálogo nem entendimento. Tampouco autocrítica: afinal, não se critica o próprio time na final de um campeonato. O atacante pode estar fora de forma e o técnico, ser um energúmeno. O que importa é ganhar.
Dilma ganhou e, felizmente, a peleja chegou ao fim. Como sempre, depois de um processo eleitoral, agora há um país a construir e que tem que dar certo para a maioria. Em tempos de paz, talvez não seja papel do jornalismo – nem do tradicional nem do alternativo – vestir a camisa deste ou daquele partido. Isso não quer dizer que temos de ressuscitar os mitos enterrados da imparcialidade. Tomar partido em épocas de polarização, como vimos, é saudável. Porém, submeter-se aos ditames de um grupo político a tempo completo pode ser danoso.
Em última análise, não há qualquer mal intrínseco em transformar-se no porta-voz de um projeto de poder. Nas democracias mais maduras, as forças partidárias estão bem representadas na imprensa. Na Espanha, o El País mantém relações com o PSOE. Nos Estados Unidos, os democratas estão mais presentes no New York Times. O Il Manifesto, da Itália, não esconde sua preferência comunista. Esta é uma opção legítima para externar à sociedade como uma agremiação política vê o mundo e interpreta a realidade. Da mesma maneira que, no Brasil, os grandes meios de comunicação se identificam com as pautas liberais e com as candidaturas mais conservadoras, como as do PSDB, é saudável que o PT e todos os demais partidos, à medida que ganhem força, também tenham aliados na trincheira midiática.
Entretanto, já passou da hora de jornalistas e meios de comunicação independentes (ou pelo menos os que desejem denominar-se como tais) assumirem papel protagônico no cenário informativo brasileiro. Entre blogueiros e profissionais que ganham a vida fora do eixo tradicional, há capacidade de sobra em braços e cabeças para elaborar uma cobertura livre das amarras mercadológicas e da estreiteza temática da opinião pública.
A internet oferece milhões de possibilidades para a criação de novos paradigmas informativos em áudio, texto, vídeo e imagens, ou na fusão simultânea de todas as mídias, tudo a baixo custo. E há pautas suficientes para preencher um novo noticiário permanente que consiga abarcar, com qualidade técnica e estética, os temas de maior interesse à sociedade nacional e internacional – sobretudo os que não estão ou não encontram na imprensa de massa o espaço que merecem.
Não há razões, portanto, para que os jornalistas independentes se restrinjam ao papel subalterno de combater as infinitas distorções da grande mídia. Estar atento para o que acontece no main stream sempre foi e continuará sendo importante. Afinal, é através do Jornal Nacional, da Veja e dos jornalões que se constrói o senso comum no país. E, ao desconstruir a visão de mundo que diariamente penetra nos lares brasileiros, o jornalismo alternativo oferece novas maneiras de enxergar os fatos, as fotos e as declarações.
Continuar nesta trilha, porém, é ficar à reboque da pauta tradicional – ainda que seja um reboque às avessas. Assim, os veículos da imprensa alternativa correm o risco de se transformar em observatórios de mídia: darão um passo para fora do jornalismo e assumirão funções de críticos, o que já é feito há muito tempo por alguns acadêmicos e, claro, pelo Observatório da Imprensa.
O salto da reportagem
Chegamos ao limite da crítica. O jornalismo alternativo precisa mudar de patamar se quiser continuar existindo de maneira independente e cercar-se de legitimidade social. Porque o melhor combate à grande imprensa se dá oferecendo ao público um conteúdo melhor, que traz em cada manchete o ideal que se revela nas entrelinhas da crítica: opiniões menos superficiais, matérias mais completas, pautas que problematizem a realidade ao invés de simplesmente reproduzi-la ou contrapô-la pelo automatismo cotidiano.
O grande filão do jornalismo independente é a reportagem, que hoje em dia foi colocada em segundo plano pela imensa maioria dos meios de comunicação tradicionais. E por um motivo bastante simples: realizar investigações jornalísticas é muito caro e traz pouco resultado comercial. Aliás, uma boa reportagem muitas vezes atenta contra o mercado publicitário, pois tem a nobre vocação de chafurdar fundo nas mazelas sociais que via de regra põem em xeque o interesse de empresas, instituições ou governos — enfim, os anunciantes em potencial. A reportagem precisa de dinheiro tanto quanto tem o potencial de repeli-lo. Eis a grande sinuca de bico do jornalismo independente hoje.
Assumir uma postura governista durante a gestão do PT pode dar sobrevida econômica aos meios de comunicação alternativos. Não foi à toa que, durante o governo Lula, o Brasil assistiu à diversificação política da imprensa. Antes dominado por conglomerados empresariais, hoje o noticiário brasileiro é mais plural. Os últimos 8 anos ampliaram a liberdade de comunicação e expressão no país, o que é motivo de comemoração, mas ainda estamos longe do ideal.
Nenhum cidadão ficará satisfeito com a divisão da comunicação social entre veículos pró-PT, pró-PSDB ou pró-qualquer-coisa. O jornalismo independente é um serviço público e deve advogar em causa própria. E a causa da imprensa livre foi e sempre será o interesse da maioria da população — ou da fatia social que ela se diz representar. Direitos humanos, justiça social, preservação do meio-ambiente, bem-estar coletivo e liberdades civis são alguns dos valores que podem nortear o ofício de informar.
É a partir deles – e, eventualmente, de sua ampliação e radicalização – que o jornalismo pode escolher criticar ou elogiar governos e desgovernos pelo mundo afora. Elogiar, porém, me parece bastante complicado, já que sempre é possível para a administração pública fazer mais e melhor. Talvez seja a sina do jornalista independente estar permanentemente na oposição, não porque desprecie tudo o que existe ou não seja capaz de reconhecer avanços, mas porque não deve descansar enquanto houver qualquer rastro de injustiça e desigualdade no planeta. É longo o trabalho que tem pela frente: revelar o que está escondido, trazer à tona o que foi submerso pela indiferença cotidiana, discutir o que normalmente não se discute.
Felizmente, a internet está aí para servir-nos. O grande desafio, quem sabe, seja saber como podemos remunerar e possibilitar vida digna aos jornalistas capazes e dispostos a serem independentes. Afinal, por mais autônomo que consiga ser, ninguém escapa da ditadura das contas. –tadeu breda (cc)
sábado, 11 de dezembro de 2010
NOEL - A INVENÇÃO DO SAMBA CARIOCA
Pinçado do IG. (MIF)
Quando Noel Rosa nasceu, há cem anos (em 11 de dezembro de 1910), o samba ainda não era instituição brasileira – e carioca – por excelência. À época, a indústria fonográfica, ainda em seus primeiros passos, tinha o hábito de colocar nos rótulos dos discos o nome do ritmo de cada música, e só em 1917 o termo “samba” apareceria inscrito pela primeira vez num rótulo de disco. "Pelo Telefone", composto por Donga e Mauro de Almeida e interpretado por Baiano, entraria para a história como o primeiro fonograma oficialmente classificado como “samba”.
Durante a infância de Noel, o gênero vinha se construindo nas reuniões festivas nas casas operárias das “tias” baianas, em especial no bairro da Cidade Nova, erguido numa antiga região alagadiça na confluência entre o centro e a zona norte da cidade. Sinhô e Pixinguinha eram nomes cruciais daquela movimentação regada a piano, flauta, clarineta, cordas e metais. A música que faziam (e que hoje chamamos de samba) trazia fortes características de ritmos anteriores como maxixe e lundu.
Contíguo à Cidade Nova ficava o bairro de Estácio de Sá, também proletário, situado entre Rio Comprido, Catumbi, morro de São Carlos e a zona do mangue (e do meretrício). Nesse outro ambiente se desenvolvia, ao longo da década de 1920, uma nova modalidade musical - aquela que seduziria o adolescente de classe média baixa nascido não na Cidade Nova nem no Estácio, mas na Vila Isabel.
No Estácio, homens negros e, portanto, identificados com o estigma e o estereótipo da “malandragem”, como Ismael Silva, Nilton Bastos, Bide, Baiaco e Brancura, forjavam o futuro, erguido sob a égide da pobreza. Ali não havia o luxo dos pianos e metais, e a batucada acontecia em instrumentos manufaturados, a maioria deles de percussão: tamborim, surdo, cuíca, pandeiro. No Estácio, nasceria em 1928 o bloco carnavalesco Deixa Falar, muitas vezes referido como a primeira escola de samba de que se tem notícia (o atual Sambódromo, a propósito, se localiza na Cidade Nova, perto do Estácio).
Foto: Reprodução
Noel Rosa compôs um punhado assombroso de sambas históricos até hoje lembrados e cantados
Noel era branco como a neve, tinha uma pronunciada deformação no maxilar decorrente de um parto acidentado, e tentava se adaptar ao sonho da família, de que se tornasse médico. Atraía-se, no entanto, por estilos de vida menos obedientes e mais transgressores, e preferiu desde cedo o refúgio do Estácio e de localidades pelas quais aquela nova modalidade musical se espalhava, como os morros da Mangueira (de onde vinha Cartola, seu futuro parceiro) e do Salgueiro. Lançado em disco quando Noel tinha 19 anos, seu primeiro sucesso, "Com Que Roupa?" (1930), colaborava para amplificar o alcance inicialmente restrito do “samba do Estácio”.
Os “almofadinhas” Francisco Alves e Mário Reis, dois dos mais importantes cantores de então, logo se deram conta da batida percussiva contagiante das criações de Ismael & companhia, que se tornaram fornecedores cruciais para seus repertórios. "Gosto, mas Não É Muito" (1931), "Para Me Livrar do Mal" (1932) e "A Razão Dá-Se a Quem Tem" (1932) foram alguns dos sambas de modelo novo que a dupla Noel & Ismael entregou para o sucesso radiofônico pelas cordas vocais de Francisco Alves (que, por sinal, comprou parceria de Ismael em vários sambas dos quais não havia composto uma linha sequer).
"Com Que Roupa?" conquistou um público ainda em formação, seduzindo-o numa trama engenhosa conduzida por um narrador proletário que não possui vestes adequadas para se jogar às festas da sociedade da capital da República. E delimitou modificações não apenas musicais, mas também socioeconômicas – a crítica social gaiata de Noel espelhava um país em plena transformação, com a chegada a presidência de Getúlio Vargas. Deliberadamente, Noel compôs o primeiro verso do samba (“agora vou mudar minha conduta”) usando as mesmíssimas notas do “ouviram do Ipiranga as margens plácidas” do Hino Nacional Brasileiro. “Eu vou pra luta/ pois eu quero me aprumar”, prosseguia noutra direção o sambinha de Noel, tão ambíguo quanto o próprio Brasil.
Noel ascendeu com Getúlio e compôs um punhado assombroso de sambas históricos, até hoje lembrados e cantados, e sempre dispostos num meio termo entre o irônico e o amoroso, o político e o romântico: "Gago Apaixonado" (1931), "Coisas Nossas" (1932), "Positivismo" (1933), "Conversa de Botequim" (1935)… A voz da cantora Aracy de Almeida, jovem, arrojada, proletária e suburbana (do Encantado), definiu o sucesso de "Palpite Infeliz" (1935), "Triste Cuíca" (1935), "O X do Problema" (1936), "O Século do Progresso" (1937), "Último Desejo" (1937).
Como deixam entrever as dolorosíssimas letras criadas de 1935 em diante, a essa altura Noel já se consumia por dentro do mal (romântico) do século passado, a tuberculose. Morreu em 1937, aos 26 anos, ao mesmo tempo em que o ditador Getúlio instalava no Brasil o Estado Novo. “A gíria que o nosso morro criou/ bem cedo a cidade aceitou e usou/ mais tarde o malandro deixou/ de sambar dando pinote/ e só querendo dançar fox-trote”, ele ironizava tristemente em 1933, no samba "Não Tem Tradução". Não esperou para assistir à Segunda Guerra Mundial e à política de alinhamento do Brasil com os Estados Unidos, que pregaria uma “boa vizinhança” hollywoodiana e propagandearia o samba como marca brasileira distintiva perante o mundo.
“Amor lá no morro é amor pra chuchu/ as rimas do samba não são ‘I love you’/ e esse negócio de alô, ‘alô, boy’, ‘alô, Johnny’/ só pode ser conversa de telefone”, concluía o samba de Noel, lançado em 1933 por Francisco Alves – que, seis anos depois, estaria divulgando o paraíso idílico de "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, em compasso ufanista de samba-exaltação. Noel não esperou para ver essa e, menos ainda, as incontáveis outras direções pelas quais se espraiariam o samba e a música brasileira. Mas nenhuma dessas direções teria se consumado se, antes, o garoto branco de Vila Isabel não tivesse se jogado à farra com os homens negros do Estácio de Sá.
Quando Noel Rosa nasceu, há cem anos (em 11 de dezembro de 1910), o samba ainda não era instituição brasileira – e carioca – por excelência. À época, a indústria fonográfica, ainda em seus primeiros passos, tinha o hábito de colocar nos rótulos dos discos o nome do ritmo de cada música, e só em 1917 o termo “samba” apareceria inscrito pela primeira vez num rótulo de disco. "Pelo Telefone", composto por Donga e Mauro de Almeida e interpretado por Baiano, entraria para a história como o primeiro fonograma oficialmente classificado como “samba”.
Durante a infância de Noel, o gênero vinha se construindo nas reuniões festivas nas casas operárias das “tias” baianas, em especial no bairro da Cidade Nova, erguido numa antiga região alagadiça na confluência entre o centro e a zona norte da cidade. Sinhô e Pixinguinha eram nomes cruciais daquela movimentação regada a piano, flauta, clarineta, cordas e metais. A música que faziam (e que hoje chamamos de samba) trazia fortes características de ritmos anteriores como maxixe e lundu.
Contíguo à Cidade Nova ficava o bairro de Estácio de Sá, também proletário, situado entre Rio Comprido, Catumbi, morro de São Carlos e a zona do mangue (e do meretrício). Nesse outro ambiente se desenvolvia, ao longo da década de 1920, uma nova modalidade musical - aquela que seduziria o adolescente de classe média baixa nascido não na Cidade Nova nem no Estácio, mas na Vila Isabel.
No Estácio, homens negros e, portanto, identificados com o estigma e o estereótipo da “malandragem”, como Ismael Silva, Nilton Bastos, Bide, Baiaco e Brancura, forjavam o futuro, erguido sob a égide da pobreza. Ali não havia o luxo dos pianos e metais, e a batucada acontecia em instrumentos manufaturados, a maioria deles de percussão: tamborim, surdo, cuíca, pandeiro. No Estácio, nasceria em 1928 o bloco carnavalesco Deixa Falar, muitas vezes referido como a primeira escola de samba de que se tem notícia (o atual Sambódromo, a propósito, se localiza na Cidade Nova, perto do Estácio).
Foto: Reprodução
Noel Rosa compôs um punhado assombroso de sambas históricos até hoje lembrados e cantados
Noel era branco como a neve, tinha uma pronunciada deformação no maxilar decorrente de um parto acidentado, e tentava se adaptar ao sonho da família, de que se tornasse médico. Atraía-se, no entanto, por estilos de vida menos obedientes e mais transgressores, e preferiu desde cedo o refúgio do Estácio e de localidades pelas quais aquela nova modalidade musical se espalhava, como os morros da Mangueira (de onde vinha Cartola, seu futuro parceiro) e do Salgueiro. Lançado em disco quando Noel tinha 19 anos, seu primeiro sucesso, "Com Que Roupa?" (1930), colaborava para amplificar o alcance inicialmente restrito do “samba do Estácio”.
Os “almofadinhas” Francisco Alves e Mário Reis, dois dos mais importantes cantores de então, logo se deram conta da batida percussiva contagiante das criações de Ismael & companhia, que se tornaram fornecedores cruciais para seus repertórios. "Gosto, mas Não É Muito" (1931), "Para Me Livrar do Mal" (1932) e "A Razão Dá-Se a Quem Tem" (1932) foram alguns dos sambas de modelo novo que a dupla Noel & Ismael entregou para o sucesso radiofônico pelas cordas vocais de Francisco Alves (que, por sinal, comprou parceria de Ismael em vários sambas dos quais não havia composto uma linha sequer).
"Com Que Roupa?" conquistou um público ainda em formação, seduzindo-o numa trama engenhosa conduzida por um narrador proletário que não possui vestes adequadas para se jogar às festas da sociedade da capital da República. E delimitou modificações não apenas musicais, mas também socioeconômicas – a crítica social gaiata de Noel espelhava um país em plena transformação, com a chegada a presidência de Getúlio Vargas. Deliberadamente, Noel compôs o primeiro verso do samba (“agora vou mudar minha conduta”) usando as mesmíssimas notas do “ouviram do Ipiranga as margens plácidas” do Hino Nacional Brasileiro. “Eu vou pra luta/ pois eu quero me aprumar”, prosseguia noutra direção o sambinha de Noel, tão ambíguo quanto o próprio Brasil.
Noel ascendeu com Getúlio e compôs um punhado assombroso de sambas históricos, até hoje lembrados e cantados, e sempre dispostos num meio termo entre o irônico e o amoroso, o político e o romântico: "Gago Apaixonado" (1931), "Coisas Nossas" (1932), "Positivismo" (1933), "Conversa de Botequim" (1935)… A voz da cantora Aracy de Almeida, jovem, arrojada, proletária e suburbana (do Encantado), definiu o sucesso de "Palpite Infeliz" (1935), "Triste Cuíca" (1935), "O X do Problema" (1936), "O Século do Progresso" (1937), "Último Desejo" (1937).
Como deixam entrever as dolorosíssimas letras criadas de 1935 em diante, a essa altura Noel já se consumia por dentro do mal (romântico) do século passado, a tuberculose. Morreu em 1937, aos 26 anos, ao mesmo tempo em que o ditador Getúlio instalava no Brasil o Estado Novo. “A gíria que o nosso morro criou/ bem cedo a cidade aceitou e usou/ mais tarde o malandro deixou/ de sambar dando pinote/ e só querendo dançar fox-trote”, ele ironizava tristemente em 1933, no samba "Não Tem Tradução". Não esperou para assistir à Segunda Guerra Mundial e à política de alinhamento do Brasil com os Estados Unidos, que pregaria uma “boa vizinhança” hollywoodiana e propagandearia o samba como marca brasileira distintiva perante o mundo.
“Amor lá no morro é amor pra chuchu/ as rimas do samba não são ‘I love you’/ e esse negócio de alô, ‘alô, boy’, ‘alô, Johnny’/ só pode ser conversa de telefone”, concluía o samba de Noel, lançado em 1933 por Francisco Alves – que, seis anos depois, estaria divulgando o paraíso idílico de "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, em compasso ufanista de samba-exaltação. Noel não esperou para ver essa e, menos ainda, as incontáveis outras direções pelas quais se espraiariam o samba e a música brasileira. Mas nenhuma dessas direções teria se consumado se, antes, o garoto branco de Vila Isabel não tivesse se jogado à farra com os homens negros do Estácio de Sá.
CENTENÁRIO DE NOEL 2 - AS SUAS MELHORES INTÉRPRETES
Aracy de Almeida e Marília Batista
Pinçado do blog do Luiz Nassif (MIF)
Noel Rosa e suas Intérpretes Preferidas. Postado por Laura Macedo
À direita, Aracy de Almeida e à esquerda, Marília Batista (observada por Noel) – as intérpretes preferidas do Poeta da Vila.
Aracy de Almeida e Marília Batista disputaram o coração do Poeta da Vila como suas intérpretes favoritas e gravaram, respectivamente, dez e seis músicas de sua autoria, antes de sua morte (maio de 1937).
01- Riso de criança (1930) – Noel Rosa
02- Triste cuíca (1934) – Noel / Hervé Cordovil
03- O maior castigo que te dou (1934) – Noel Roa
04- Cansei de pedir (1935) – Noel Rosa
05- Amor de parceria (1933) – Noel Rosa
06- Palpite infeliz (1935) – Noel Rosa
07- Que baixo (1935) – Noel Rosa / Antônio Nássara
08- Só pode ser você (Ilustre visita) (1935) – Noel Rosa / Vadico
09- O X do problema (1936) – Noel Rosa)
10- Eu sei sofrer (1937) – Noel Rosa
“Amor de parceria” – samba choro (1933) (Noel Rosa), com Aracy de Almeida e Regional RCA Victor. VICTOR (33.973b) – junho/1935.
“Palpite infeliz” – samba (1935) (Noel Rosa), com Aracy de Almeida e Conjunto Regional RCA Victor. VICTOR (34.007A) – dezembro/1935.
“O X do problema” – samba (1936) (Noel Rosa), com Aracy de Almeida e Conjunto RCA Victor. VICTOR (34.009A) – setembro/1936.
Aracy de Almeida nasceu e cresceu no Encantado, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro.
Ainda jovem, cantava no coro da igreja Batista. Menina pobre, desde os tempos de criança sonhava em ser cantora de rádio.
Os que conviviam com ela, na intimidade ou profissionalmente, a viam como uma mulher lida e esclarecida. Tratada por amigos pelo apelido de "Araca", dela Noel Rosa disse, em 1933, numa entrevista a Orestes Barbosa, para "A Hora": "Aracy de Almeida é, na minha opinião, a pessoa que interpreta com exatidão o que eu produzo. (Dicionário Cravo Albin).
01- Cem mil réis (1936) – Noel Rosa / Vadico
02- Provei (1936) – Noel Rosa / Vadico
03- Você vai se quiser (1936) – Noel Rosa
04- Quem ri melhor (1936) – Noel Rosa
05- Quantos beijos (1936) – Noel Rosa / Vadico
06- De babado (1936) – Noel Rosa / João Mina
“Provei” – samba (1936) (Noel Rosa – Vadico), com Noel Rosa, Marília Batista e Conjunto Regional de Benedito Lacerda. ODEON (11.422A) – novembro/1936.
“Você vai se quiser” – samba (1936) (Noel Rosa), com Noel Rosa, Marília Batista e Conjunto Regional de Benedito Lacerda. ODEON (11.422B) – novembro/1936.
“Quem ri melhor” – samba (1936) (Noel Rosa), com Noel Rosa, Marília Batista e Reis do Ritmo. VICTOR (34.104A)- novembro/1936.
Marília Batista estudou no Instituto Nacional de Música (atual Escola de Música da UFRJ), onde formou-se em teoria, solfejo e harmonia, apesar de abandonar o curso de piano no 4º ano. Começou a estudar violão com Josué de Barros e depois com o virtuoso José Rabelo intencionando tornar-se uma concertista.
Depois da morte de Noel Rosa, foi a ela que D. Marta, a mãe do compositor, deu os manuscritos do filho. Entregou-os às mãos de Almirante, que os conservou cuidadosamente. (Dicionário Cravo Albin).
O certo é que as vozes de Aracy de Almeida e Marília Batista imortalizaram o repertório de Noel Rosa.
À direita, Aracy de Almeida e à esquerda, Marília Batista (observada por Noel) – as intérpretes preferidas do Poeta da Vila.
Aracy de Almeida e Marília Batista disputaram o coração do Poeta da Vila como suas intérpretes favoritas e gravaram, respectivamente, dez e seis músicas de sua autoria, antes de sua morte (maio de 1937).
01- Riso de criança (1930) – Noel Rosa
02- Triste cuíca (1934) – Noel / Hervé Cordovil
03- O maior castigo que te dou (1934) – Noel Roa
04- Cansei de pedir (1935) – Noel Rosa
05- Amor de parceria (1933) – Noel Rosa
06- Palpite infeliz (1935) – Noel Rosa
07- Que baixo (1935) – Noel Rosa / Antônio Nássara
08- Só pode ser você (Ilustre visita) (1935) – Noel Rosa / Vadico
09- O X do problema (1936) – Noel Rosa)
10- Eu sei sofrer (1937) – Noel Rosa
“Amor de parceria” – samba choro (1933) (Noel Rosa), com Aracy de Almeida e Regional RCA Victor. VICTOR (33.973b) – junho/1935.
“Palpite infeliz” – samba (1935) (Noel Rosa), com Aracy de Almeida e Conjunto Regional RCA Victor. VICTOR (34.007A) – dezembro/1935.
“O X do problema” – samba (1936) (Noel Rosa), com Aracy de Almeida e Conjunto RCA Victor. VICTOR (34.009A) – setembro/1936.
Aracy de Almeida nasceu e cresceu no Encantado, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro.
Ainda jovem, cantava no coro da igreja Batista. Menina pobre, desde os tempos de criança sonhava em ser cantora de rádio.
Os que conviviam com ela, na intimidade ou profissionalmente, a viam como uma mulher lida e esclarecida. Tratada por amigos pelo apelido de "Araca", dela Noel Rosa disse, em 1933, numa entrevista a Orestes Barbosa, para "A Hora": "Aracy de Almeida é, na minha opinião, a pessoa que interpreta com exatidão o que eu produzo. (Dicionário Cravo Albin).
01- Cem mil réis (1936) – Noel Rosa / Vadico
02- Provei (1936) – Noel Rosa / Vadico
03- Você vai se quiser (1936) – Noel Rosa
04- Quem ri melhor (1936) – Noel Rosa
05- Quantos beijos (1936) – Noel Rosa / Vadico
06- De babado (1936) – Noel Rosa / João Mina
“Provei” – samba (1936) (Noel Rosa – Vadico), com Noel Rosa, Marília Batista e Conjunto Regional de Benedito Lacerda. ODEON (11.422A) – novembro/1936.
“Você vai se quiser” – samba (1936) (Noel Rosa), com Noel Rosa, Marília Batista e Conjunto Regional de Benedito Lacerda. ODEON (11.422B) – novembro/1936.
“Quem ri melhor” – samba (1936) (Noel Rosa), com Noel Rosa, Marília Batista e Reis do Ritmo. VICTOR (34.104A)- novembro/1936.
Marília Batista estudou no Instituto Nacional de Música (atual Escola de Música da UFRJ), onde formou-se em teoria, solfejo e harmonia, apesar de abandonar o curso de piano no 4º ano. Começou a estudar violão com Josué de Barros e depois com o virtuoso José Rabelo intencionando tornar-se uma concertista.
Depois da morte de Noel Rosa, foi a ela que D. Marta, a mãe do compositor, deu os manuscritos do filho. Entregou-os às mãos de Almirante, que os conservou cuidadosamente. (Dicionário Cravo Albin).
O certo é que as vozes de Aracy de Almeida e Marília Batista imortalizaram o repertório de Noel Rosa.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
MAIS DOCUMENTOS SOBRE O BRASIL NO WIKlLEAKS
Clinton pediu informações pessoais sobre integrantes do governo
Posted on 10/12/2010 by Natalia Viana 3 Comentários
Dentre os quase 3 mil documentos obtidos pelo WikiLeaks que tratam de Brasil há um de especial interesse.
Trata-se de um telegrama confidencial enviado no dia 23 de abril de 2009 ao departamento politico da embaixada em Brasília e assinado pela própria Secretária do Departamento de Estado americano, Hillary Clinton (CLIQUE AQUI – 203847).
Ele mostra que tipos de informações Hillary demanda para melhor negociar com o governo brasileiro.
Todo escrito em letras garrafais, o documento – produzido dois meses e meio depois da posse de Clinton no cargo – mostra que ela pediu informações detalhadas sobre membros do governo.
Ela agradece pelos detalhes biográficos enviados a respeito do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e da negociadora do Itamaraty, embaixadora Vera Machado.”Essa informação ajuda a preencher vácuos biográficos sobre atores-chave na política ambiental e de mudanças climáticas – um tema bilateral muito importante”.
Em especial, os oficiais de Washington valorizam informações sobre “o jeito de atuar dos líderes, motivações, qualidades e defeitos, relações com superiores, sensibilidades, visões de mundo, hobbies e proficiência em linguas”.
Relatos sobre divergências e convergências entre os líderes brasileiros em relação a temas econômicos, políticos e de relações exteriores,também serviriam para os americanos identificarem “interlocutores favoráveis ou obstáculos” nos temas prioritário como energia e comércio/protecionismo.
Washington também pede que o corpo diplomático reúna informações sobre “divisões dentro do núcleo do governo Lula” em relação às políticas usadas para atenuar os efeitos da crise econômica – em especial aquelas que pudessem afetar o comércio bilaterial entre os dois países.
Por fim, Clinton agradece informações sobre “a relativa influência de assessores econômicos, seus estilos de negociação e sua autoridade” e pede mais detalhes sobre a pesonalidade dos membros do executivo que elaboram projetos de lei.
Eles ajudariam a Casa Branca a “avaliar a influência, as visões de mundo e a linha política” desses indivíduos.
Espalhe: → 3 Comentários
Publicado em Do Wiki
Dilma Rousseff, na saúde e na doença
Posted on 10/12/2010 by Natalia Viana 19 Comentários
Não foi só a saúde da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que foi alvo da curiosidade do governo americano. A presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, também teve detalhes do seu estado de saúde investigados pela embaixada americana em meados do ano passado, quando sofreu de câncer linfático.
Documentos publicados hoje pelo WikiLeaks também revelam que o ex-embaixador americano em Brasília, John Danilovich, relatou que ela havia planejado três assaltos quando era integrante da organização VAR-Palmares.
Dilma Rousseff nega qualquer participação em ações armadas durante o regime militar.
Ao todo, o WikiLeaks publica hoje 9 documentos que mostram como a representação americana acompanhou de perto a trajetória de Dilma e o processo eleitoral brasileiro – que, aliás, a própria Hillary Clinton classificou de “bizantino”.
Joana D´Arc
Dilma Rousseff começou a chamar a atenção da embaixada quando tomou posse como Ministra-Chefe da Casa Civil. Um relatório especial a seu respeito foi elaborado e enviado em 22 de maio de 2005. Apesar de “não classificado”, o telegrama traz uma porção de temas sensíveis e algumas gafes. Um dos títulos é, por exemplo, “Joana D’Arc da Subversão se torna Chefe da Casa Civil” – uma referência à alcunha dada pelos agentes da repressão.
O documento afirma que ela teria planejado o “legendário” roubo ao cofre do corrupto prefeito de São Paulo, Adhemar de Barros, no qual a VAR-Palmares obteve 2,5 milhões de dólares.
“Integrando vários grupos clandestinos, ela organizou três assaltos a banco e depois co-fundou o grupo guerrilheiro Vanguarda de Palmares”, diz.
Dilma sempre negou qualquer participação em ações armadas.
O documento escrito pelo embaixador John Danilovich observa que ela foi presa por mais de três anos e torturada de forma “brutal” com eletrochoques.
A seguir, entra em detalhes pessoais ao estilo de uma revista de celebridades: “Ela tem uma filha, Paula, em Porto Alegre, onde passa os fins-de-semana. Gosta de filmes e música cássica. Perdeu peso recentemente após ter adotado a dieta do presidente Lula”.
O documento diz ainda que Dilma é vista como “cabeça-dura, uma negociadora difícil e detalhista” e revela que as empresas americanas tiveram receio quando ela se tornou ministra de Minas e Energia, mas “agora admitem que ela fez um trabalho competente”.
Rumo à eleição
O assessor da embaixada em Brasília, Phillip Chicola, relatou a Washington que Dilma Rousseff aumentou muito as suas chances de ser a candidata do PT depois da sessão no Senado em 7 de maio de 2009.
Dilma foi chamada para explicar o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e acabou tendo que explicar o escândalo do vazamento de informações dos cartões de crédito do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Logo no começo, o senador do DEM José Agripino Maia perguntou como deveriam acreditar nela, já que ela havia mentido quando interrogada pelos militares.
Nas palavras de Chicola, “a performance de Rousseff perante o comitê poderia ter prejudicado ou afundado suas chances presidenciais, se tivesse ido mal”. Mas Jose Agripino Maia “mancou feio” ao fazer a pergunta.
“Rousseff respondeu que foi brutalmente torturada pelos militares e tinha orgulho de ter mentido sob tortura porque isso salvou as vidas de outros que lutavam contra a ditadura. Com essa resposta dramática e inquestionável, Rousseff permaneceu no controle durante a maior parte da sessão”, diz o telegrama.
Câncer
Em outro relatório, enviado em 20 de julho de 2009, a diplomata Lisa Kubiske comenta o aumento de Dilma nas pesquisas apontando como consequência da sua visibilidade nas obras do PAC e da sua luta contra o câncer.
“Enquanto Rousseff continuar parecendo uma lutadora que venceu o câncer, suas chances presidenciais vão aumentar”, diz ela.
O estado de saúde de Dilma já havia sido tema de um extenso relatório enviado a Washington em 19 de junho, sob o título “Quão doente está Dilma Rouseff?”.
Nele, o embaixador Clifford Sobel relata as informações coletadas em conversas sobre a saúde da futura presidente, incluindo detalhes sobre o câncer linfático do qual ela sofria.
“Seus médicos afirmam que o câncer foi diagnosticado cedo e ela tem 90% de chance de se recuperar totalmente. Ela tinha nódulos linfáticos debaixo do braço esquerdo e começou um programa de um mês de quimioterapia em abril. Em maio, foi hospitalizada emergencialmente com dores nas pernas, o que foi atribuído à interrupção abrupta de medicamentos associados à quimioterapia. Os médicos dizem que ela vai reduzir esses remédios para evitar uma recaída”, diz o telegrama.
“No começo de junho ela havia completado três sessões de quimioterapia. Em uma reunião no dia 18 com um visitante de Washington, Rouseff parecia bem, com boa cor natural e pouca maquiagem, e um assessor disse ao embaixador que Rousseff estava respondendo tão bem à quimioterapia que suas sessões deveriam ser reduzidas de seis para quatro”.
No documento, Sobel especula sobre as consequências da doença da pré-candidata. Dilma poderia estar bem mais doente do que foi revelado publicamente, o que seria pouco provável. Outra possibilidade seria a doença piorar, inviabilizando sua candidatura. Finalmente, Dilma poderia reagir bem à quimioterapia e se recuperar do câncer. O embaixador via essa possibilidade como a mais provável – foi o que acabou acontecendo.
“Alguns analistas notaram que uma ‘vitória’ sobre o câncer jogará a seu favor e impulsionará a imagem de uma lutadora e vencedora. Mas se ela parecer fraca e derrotada, os eleitores vão minguar”.
Caso de Dilma não pudesse mais ser a candidata, Sobel faz outra uma lista de cenários possiveis.
No primeiro, o candidato do PT seria Antônio Palocci ou Gilberto Carvalho. No segundo, Aécio Neves se mudaria para o PSB ou o PV e poderia ser o candiato com apoio petista. E finalmente, Sobel reproduz especulações sobre um terceiro mandato de Lula, ouvidas em especial do deputado federal PPbista George Hilton.
“A doença de Rousseff mostrou uma vulnerabilidade do PT que não existia alguns anos atrás, quando podia indicar diversos governadores e congressistas como estrelas do partido. Essas estrelas por uma razão ou por estão apagadas e o partido adotou Dilma Rousseff, a escolhida de Lula, seu maior líder, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, conclui Sobel.
Jornalistas
A embaixada acompanhou com informes regulares a contagem regressiva para a campanha eleitoral. Em outubro de 2009, a conselheira Lisa Kubiske já arriscava palpites sobre o pleito brasileiro. Um telegrama confidencial do dia 21 alertava Washington: “fiquem ligados!’
Nele, Kubiske dizia que o resultado dependeria da capacidade de Lula de transferir sua popularidade a Dilma, “ao mesmo tempo permitindo que ela se distingua como uma figura presidencial viável”.
Kubiske aponta em diversos telegramas a “falta de carisma” de Dilma.
Em fevereiro de 2010 ela conta que Dilma encostou em Serra nas pesquisas, e descreve a opinião de diversos jornalistas consultados pela representação americana.
“Os críticos mais ferrenhos de Rousseff frequentemente enfatizam que a campanha na TV e os comícios vão matar a sua candidatura”, afirma Kubiske, citando o apresentador da Globo William Waack.
Waak teria dito que em um fórum com empresários, Aécio Neves teria se mostado “o mais carismático”, Ciro Gomes “o mais forte”, Serra “claramente competente” e Dilma “a menos coerente”.
“Outros críticos usam um argumento mais sutil, dizendo de maneira racional que o desejo do Brasil por continuidade depois de anos de progresso na verdade beneficia Serra, visto como mais provável a seguir o caminho econômico iniciado por Cardoso e seguido por Lula”, escreveu Kubiske.
Bizantino
Os relatórios enviados pela embaixada americana em Brasília sobre as eleições foram muito apreciados em Washingon. Em um telegrama de 23 de abril de 2009, Clinton agradece pelo informe “estelar” sobre o candidato do PSDB José Serra.
Em outro telegrama, datado de 24 de julho, Clinton explica que as informações sobre Dilma foram usadas em reuniões de “briefing” com o alto escalão do governo dos EUA, inclusive o secretário do Tesouro Timothy Geithner. Hillary finaliza agradecendo o assessor para assuntos políticos Dale Prince por esclarecer sobre o sistema político brasileiro, “frequentemente bizantino”.
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