Compartilho com os Extensionistas do Brasil e do Acre o texto abaixo sobre o nossa instituição sexagenária, mas com tudo funcionando, que saiu publicado no jornal Página 20, na edição de hoje.
Hur Ben (Presidente da Aber), Marcos Antonio( membro da ABER por Alagoas) e José Silva (Presidente da ASBRAER e da EMATER-MG. Nosso anfitrião.)
EXTENSÃO RURAL -60 ANOS
UMA INSTITUIÇÃO REPUBLICANA E UM SERVIÇO DE ESTADO
*Marcos Inácio Fernandes
José Ortega y Gasset – A Rebelião das Massas.
Fernando Pessoa (1888- 1935)
Somos, desde 1948, os “eternos carregadores de piano” de todas as políticas públicas para o meio rural brasileiro. Sempre tocamos as partituras que já vinham prontas dessas políticas, mas agora, queremos também participar do arranjo na construção da melodia, sermos co-autores, solistas, maestros e até professores/animadores/facilitadores desse processo de educação informal que é a extensão rural. Nessa perspectiva e na atual conjuntura da vida política do nosso país, o extensionista tem que se preparar para assessorar os agricultores/produtores familiares a serem, principalmente, PRODUTORES DE DECISÕES! Que eles sejam protagonistas nos processos de decisões políticas, na definição das políticas públicas, na afirmação de seus interesses enquanto classe social.
Cabe aos extensionistas como “como agente político de desenvolvimento” e como educador popular, contribuir no processo de tomada de decisões dos agricultores/produtores familiares e suas organizações. Decisões implicam em escolhas, fazer opções e definir alternativas. Na busca da melhor alternativa é necessário conhecimento, dispor de informações e capacidade política para construir alianças, aglutinar forças e minimizar os riscos inerentes aos processos, quase sempre conflituosos, das relações de poder e das tomadas de decisões políticas. Cabe a extensão, esse enorme desafio de fazer com que os agricultores/produtores familiares evoluam de uma consciência ingênua para uma consciência crítica e organizativa. A questão da organização dos produtores e da produção é central, o resto é “perfumaria” e vem como conseqüência do nível organizativo.
Produtores organizados significa a construção de sua VONTADE COLETIVA, como protagonista de um drama histórico real e efetivo como nos ensina Gramsci na sua obra de referência: “Maquiavel a Política e o Estado Moderno”. A vontade coletiva, portanto, é algo mais profundo do que interesses individuais e imediatos. Ela será descoberta e organizada num processo coletivo e continuado de consulta/confronto a respeito da origem e superação de problemas em todos os campos da realidade social dos produtores familiares. O grande desafio da Extensão é saber, como neste campo, prestar um serviço que defenda e afirme os interesses dos agricultores/produtores familiares, razão da nossa existência institucional.
Vivemos um bom momento na Extensão Pública Oficial no Brasil e no Acre. Este bom momento é conseqüência do CICLO VIRTUOSO que o país atravessa onde três fenômenos ocorrem concomitantes e simultaneamente – DEMOCRACIA, CRESCIMENTO ECONÔMICO, E INFLAÇÃO BAIXA.
Neste momento histórico e nessa conjuntura política, quando se pretende que o desenvolvimento seja sustentável, que o crescimento econômico seja com distribuição de renda e com respeito ao meio ambiente, a extensão pode e deve cumprir um papel essencial.
Considero que o nosso serviço é de caráter ESTRATÉGICO, não é simplesmente um serviço de governo, mas um serviço e uma CARREIRA DE ESTADO, pois lidamos com uma questão de SOBERANIA NACIONAL, que é a SEGURANÇA ALIMENTAR e a EDUCAÇÃO do nosso povo. Um povo onde muitos “Severinos ainda morrem de velhice antes dos 30/ de emboscada antes dos 20/ e de FOME um pouco por dia” como registra João Cabral de Melo Neto no seu poema FUNERAL DE UM LAVRADOR.
Enquanto a chaga social da FOME e do ANALFABETISMO perdurar no Brasil, não poderemos falar de democracia plena, de cidadania, de desenvolvimento e, também, não se poderá prescindir do serviço público da Extensão Rural Oficial para atuar com outros parceiros governamentais e não governamentais no combate a fome, a miséria e a exclusão social. Parabéns Extensionistas do Acre e do Brasil pelo o seu dia, com a certeza de que dias melhores virão. Como educadores e construtores de utopias, sejamos sensatos, queiramos o impossível ! E, Já que dizem que o nosso serviço é um sacerdócio, miremo-nos no exemplo e nas palavras de São Francisco de Assis (que bem podia ser o padroeiro da Extensão Rural): “Inicie por fazer o necessário, então o que é possível e, de repente, você estará fazendo o impossível.”
· *Marcos Inácio Fernandes (Marcão), é Extensionista, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural-ABER.
Trecho do poema "Só de Sacanagem" de Elisa Lucinda, lido por completo numa palestra de Protógenes Queiroz em Brasília (do site do PHA):
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro,
do meu dinheiro, que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais,
esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz,
mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", Esse apontador não é seu, minha filhinha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha ouvido falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar. Só de sacanagem!"
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COINCIDÊNCIAS
Atualizado e Publicado em 06 de novembro de 2008 às 18:50
por Bob Fernandes, no Terra Magazine
Os intestinos do Brasil.
Não existem coincidências.
Hoje à tarde, se não optar por um pedido de vistas, o Supremo Tribunal Federal julga o mérito do habeas corpus concedido pelo presidente do Tribunal, Gilmar Mendes, ao banqueiro Daniel Dantas. Decide, em resumo, se Daniel Dantas volta para a cadeia ou se fica solto. Terra Magazine tem informações que levam a esta crônica de um resultado anunciado: se o julgamento se concretizar, prevalecerá o habeas corpus. Daniel Dantas continuará solto.
Como sabe qualquer calouro de Direito, um julgamento desse porte é, será sempre, acima de tudo político, uma vez que argumentos jurídicos para prender ou soltar sempre existirão. Aos magotes.
Julgamento político tendo-se em conta o mais amplo sentido da expressão. Não existem coincidências nesse profundíssimo e já longo mergulho nos intestinos do Brasil.
Ou terá sido coincidência a batida policial da PF contra o delegado Protógenes Queiroz na véspera do julgamento?
Será coincidência? Exatamente no dia em que o STF de Gilmar Mendes se reúne para decidir se prende ou deixa solto Dantas, a mídia ganha como manchete uma investigação contra o delegado que prendeu Dantas, Naji Nahas, Celso Pitta & Cia?
É conhecida a posição do ministro do STF Joaquim Barbosa no caso, ainda que intramuros. O ministro foi contrário à concessão do habeas corpus naqueles termos e daquela forma. Duramente contrário. É coincidência Joaquim Barbosa estar fora do Brasil no dia em que se vota se Dantas fica solto ou preso?
Terra Magazine sabe que o julgamento deveria, a princípio, ter se dado há mais de um mês, no final de setembro. Se dará, no entanto, exatamente quando Barbosa se encontra nos Estados Unidos, acompanhando a eleição que levou Barack Obama à Casa Branca.
Terra Magazine informa, e assegura: o ministro Joaquim Barbosa não soube, não foi informado antes de sua viagem, do julgamento marcado para hoje. O ministro Joaquim Barbosa foi surpreendido nos Estados Unidos pela notícia do julgamento.
Alguém dirá que tanto foi apenas uma infeliz coincidência. O julgamento do mérito se dar exatamente quando não está no tribunal, em Brasília, no país, a pedra no sapato do habeas corpus.
Terá sido coincidência que o mandado para vasculhar Protógones, sua casa e os meios onde guarda informações tenha sido expedido pelo juiz Ali Mazloum?
Em 2004 o STF considerou Ali inocente numa acusação, formulada no rastro da Operação Anaconda, de formação de quadrilha. Gilmar Mendes, Ellen Gracie, Carlos Velloso e Celso de Mello votaram pela absolvição, enquanto Joaquim Barbosa, relator da matéria, foi o único voto contrário.
O também juiz federal, Casem Mazloum, irmão de Ali, também envolvido pela mesma Anaconda admitiu à época: "Cometi um erro ético", sem ser preciso quanto à natureza do erro.
Casem era acusado de pedir grampo telefônico para a ex-mulher de um prefeito e de uso de influência.
A "Anaconda" se deu à época em que Paulo Lacerda dirigia a Polícia Federal e, então, nos desdobramentos do julgamento, adversários de Lacerda na PF e na mídia tentaram atingi-lo.
Coincidência que agora, quando Lacerda segue afastado da Abin à espera do resultado de investigações sobre suposto grampo ilegal, a PF vasculhe a vida de Protógenes com base em um mandado assinado pelo juiz que um dia foi investigado, como seu irmão, pela PF então sob comando de Lacerda?
Coincidência a virulência do delegado Marcelo Itagiba, hoje deputado federal e presidente da CPI dos Grampos, contra Paulo Lacerda? Ele, Itagiba, que já foi Diretor de Inteligência da PF no mandarinato de Vicente Chelotti.
Coincidência Itagiba presidir a CPI dos Grampos? Ele, contraparente de Andrea Matarazzo, importantíssimo personagem na vida do PSDB e de José Serra? Coincidência histórica Marcelo Itagiba, ex-diretor de Inteligência da PF, ter ido trabalhar com Inteligência no ministério da Saúde na gestão do então ministro José Serra?
O que pensa - ou ao menos o que pensava à época de tudo isso - o senador e ex-presidente da República José Sarney? O que pensou e disse, ao menos reservadamente, José Sarney à época em que a PF flagrou uma montanha de dinheiro na campanha pré-presidencial de sua filha Roseana Sarney no célebre "Caso Lunus"?
Coincidências?
Coincidência a PF investigar o delegado Protógenes por vazamento e não investigar a cúpula da Polícia, a quem o mesmo Protógenes acusa pelo vazamento que levou a Folha de S.Paulo a publicar reportagem sobre a operação no dia 26 de abril, quase dois meses antes da Satiagraha?
Os dois maiores suspeitos pelo vazamento da Satiagraha dois meses antes estão sendo investigados pela PF? Serão? Ou tudo será tragado por esse mar de coincidências?
Coincidência que o julgamento do habeas corpus se dê quando o juiz De Sanctis esteja se preparando para anunciar sua sentença sobre o caso Daniel Dantas?
Coincidência que batida da Polícia Federal e tudo mais se dê horas depois de Protógenes dizer aos estudantes da PUC que "Dantas será condenado, e terá condenação pesada" na primeira instância?
Tudo isso é coincidência, ou o julgamento - se ele de fato se concretizar nas próximas horas desta quinta-feira, 6 de novembro de 2008 - terminará, ao final e ao cabo, atingindo a sentença do juiz De Sanctis?
Certamente existem razões jurídicas também para a decisão que deve ser tomada logo mais - se não houver adiamento -, mas não é isso que se discute aqui e, sim, esse extraordinário leque de coincidências e personagens.
Daniel Dantas seguirá livre em meio a esse mar de coincidências.