terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O AMIGO DA ONÇA



















Apresento alguns exemplares do Amigo da Onça do Péricles, que era publicado na revista O Cruzeiro. Herdei essa coleção do Amigo da Onça do amigo revolucionário, José Silton Pinheiro, assassinado pela ditadura militar, que se implantou no Brasil em 1964.


O personagem “Amigo da Onça” foi criado pelo cartunista Péricles e publicado pela primeira vez na revista “O Cruzeiro” em 23 de outubro de 1943, satirizando, ironizando e criticando os costumes, assim como desmascarando seus interlocutores ou colocando-os em situações muito constrangedoras.
Dizem que a idéia do personagem foi imaginada pelos próprios diretores da revista “O Cruzeiro” que desejavam ter um personagem fixo e disponibilizavam até um nome, que provavelmente foi adaptado da piada abaixo especificada, muito conhecida na época ou alguma outra semelhante.

Um caçador pergunta ao outro, num acampamento.

- O que você faria se aparecesse uma onça na sua frente?

- Eu dava um tiro nele, ora!

- E se você não tivesse um revolver?

- Então eu o cortava com meu facão!

- Mas se você não tivesse essa faca?

- Então apanhava um pau.

- E se não tivesse um pau por perto?

- Ah! Então eu saia correndo, oras!

- E se suas pernas travassem na hora?

Então o outro já enfurecido, com a insistência, retruca:

- Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça?

Péricles, cujo nome completo era Péricles de Andrade Maranhão, nasceu no dia 14 de agosto de 1924, no bairro do Espinheiro, em Recife, Pernambuco. Estudou no Colégio Marista e desde cedo já mostrava seu talento para o desenho. Quando criança gostava de ler os gibis de sucesso da época como "Dick Tracy", "Flash Gordon", entre outros e isso foi, provavelmente criando no garoto Péricles a vontade de se dedicar aos quadrinhos.

Não tardou muito para que esse garoto de muito talento e humor desenvolvesse suas próprias histórias. Conseguiu publicar suas primeiras charges, ainda em sua terra natal, no Diário de Pernambuco. Isso de uma certa maneira abriu as portas para o jovem Péricles, que conseguiu uma carta de recomendação endereçada a um grande executivo do Rio de Janeiro, Leão Gondim de Oliveira, dos Diários Associados, uma das maiores empresas de comunicação do Brasil, naquela época.

Iniciou na empresa no dia 6 de junho de 1942 e passou a publicar "As Aventuras de Oliveira Trapalhão" na revista "A Cigarra". Quase um ano depois, foi chamado pelos diretores da revista "O Cruzeiro" para desenvolver o projeto do personagem “Amigo da Onça”. Evidentemente que não sabemos se Péricles criou de sua cabeça o personagem e apresentou a direção da revista, ou se a história é da maneira como estamos narrando.

O fato real foi que personagem se tornou um grande sucesso na revista "O Cruzeiro" e passou a ser publicado semanalmente. Acabou até virando um sinônimo para denunciar um amigo não muito leal e que não passa a verdade, muitas vezes um sujeito falso ou hipócrita, a qual recomenda-se manter uma boa distância. Até os dias atuais é comum usar a expressão de que fulano ou cicrano é um “Amigo da Onça”.

O personagem "Amigo da Onça" também fez com a vida de seu criador se transformasse e possibilitasse um grande bem estar social e econômico. Péricles era um boêmio, adorava uma boa conversa, uma cervejinha, entre outras mais. Mas, segundo diversos autores que conheceram Péricles de perto, dizem que ele começou com o tempo, a ficar com a sua personalidade atormentada e passou a odiar até a sua criação maior, apesar de continuar a ilustrar o personagem semanalmente.

Sentindo-se perseguido pelo personagem, Péricles se suicidou no dia 31 de dezembro de 1961, em seu apartamento no Rio de Janeiro, abrindo o gás e deixando um aviso na porta com os dizeres: "não risquem fósforos". Também não sabemos se esse foi o verdadeiro motivo de sua morte, mas assim se conta sua história.

Depois de sua morte, o personagem continuou pelas mãos do cartunista Carlos Estevão, nascido no dia 16 de setembro de 1921, também em Recife, Pernambuco, filho de Estevão Pires de Souza e de Maria Salomé de Souza, ambos descendente de portugueses.

Carlos Estevão era um desenhista autodidata e começou a fazer seus primeiros desenhos na Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio na seção de arquitetura. Depois teve de se ausentar para o serviço militar obrigatório e quando retornou foi trabalhar nos Diários Associados, em 1948, onde entre outras coisas ilustrou os textos de Millôr Fernandes, que na época assinava seus trabalhos com o pseudônimo de “Vão Gôgo”, criando uma tira do contador de histórias “Ignorabus”.

Depois passou a fazer várias ilustrações e charges na revista “O Cruzeiro” em séries como “As aparências enganam”, “Perguntas inocentes”, “As duas faces do homem”, “Palavras que consolam”, “Acredite querendo”, entre outras. Também chegou a editar a revista “Dr. Macabra” que durou nove edições.

Com a morte de seu amigo Péricles, foi convidado pela revista “O Cruzeiro” a continuar a desenvolver as charges do “Amigo da Onça”. Carlos Estevão permaneceu criando as charges do personagem até sua morte em 1972. Depois disso o “Amigo da Onça” foi tentado ser reavivado novamente, mas todas as tentativas não deram o resultado esperado e parou de vez de ser publicada.

Principais Fontes Bibliográficas

http://pt.wikipedia.org/wiki/Amigo_da_Onça

Um comentário:

Anônimo disse...

Dr. Marcos Inácio - p.f., informe a data do charge do Amigo da Onça ( baixinho-careca-barrigudo), publicado em 7/12/2.010. Atenciosamente, Henrique ( henriqueluizcarlos@yahoo.com.br )