terça-feira, 28 de setembro de 2010

OS BARÕES DA IMPRENSA PAULISTA


Pinçado do blog CIDADANIA, do Eduardo Guimarães.

Dois dos maiores jornais do país tomaram uma decisão que, quando a história deste período for contada, explicará a decadência em que mergulharam aqueles que serão lembrados como “barões da imprensa”. Em 26 de setembro de 2010, os periódicos anunciaram, em editoriais, as suas respectivas posições políticas, ambas de confronto com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Os jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo surgiram em um Brasil que não existe mais. Naquele país-fazenda, ribombavam as vozes das famílias que os fundaram e que os tornaram multimilionários à custa do Estado, dos favores de governos amigos, alguns alçados ao poder por meio de ruptura da ordem constitucional que esses veículos apoiaram.

O Estado de São Paulo nasceu em 1875, sendo batizado como A Província de São Paulo. O jornal foi impulsionado pela venda avulsa. Um imigrante francês chamado Bernard Gregoire saía a cavalo pelas ruas da capital paulista soprando uma corneta e vendendo exemplares. A imagem do vendedor trombeteando em seu cavalo tornar-se-ia símbolo do jornal.

Em 1964, o jornal paulista, agora rebatizado como O Estado de São Paulo, perfilou-se à União Democrática Nacional (UDN) de Carlos Lacerda, fazendo oposição cerrada ao então presidente João Goulart. Dois anos antes do golpe, o diretor do jornal, Júlio de Mesquita Filho, redigiu o “Roteiro da Revolução”, editorial em que exortava a oposição civil a se unir aos militares, então chamados de “partido fardado”, que desde o limiar da República interferia na política.

Em 1964, o jornal O Estado de São Paulo pediria e apoiaria o golpe militar e a eleição indireta de Castello Branco. Em 1º de abril daquele ano, publicou texto de apoio à derrubada de João Goulart fazendo uma relação entre aquele momento político e o da Revolução Constitucionalista de 1932.

O jornal paulista só romperia com a ditadura quatro anos depois do golpe. Em 1968, com a sua redação ocupada por censores do regime, publicou editorial que seria censurado por meio de apreensão de seus exemplares que chegavam às ruas. A família Mesquita descobriria, então, que quando se viola a democracia nem os que ajudaram a fazê-lo podem se considerar a salvo dos chefes violadores.

A Folha de São Paulo, por sua vez, nasceu em 1921, 46 anos depois do Estadão. Então batizada como “Folha da Noite”, era dirigida por Olival Costa e Pedro Cunha. Durante a revolução de 1930, foi fechada por reação popular, que empastelou o jornal.

Voltou a funcionar em 1931 com novos donos e nova linha editorial, sob o nome de Folha da Manhã. Era dirigida por Alves de Lima, Diógenes de Lemos Azevedo, Guilherme de Almeida e Rubens do Amaral. Em 1962, o jornal foi vendido a Carlos Caldeira Filho e Octavio Frias de Oliveira e rebatizado como Folha de São Paulo.

Tal qual o Estadão, a Folha também apoiou o golpe militar de 1964 e a ditadura que estava sendo implantada no Brasil. Segundo o colunista Elio Gaspari, chegou a emprestar veículos para transporte de presos. Isso mesmo, o jornal que fala em censura à imprensa fez parte da estrutura de assassinato e tortura dos ditadores de plantão.

O apreço pela ditadura era tanto que em 1971, durante o governo do general-presidente Emílio Garrastasu Medici, o jornal publica editorial, assinado por Octavio Frias de Oliveira, que definia assim o governo ditatorial:

“(…)Um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social – realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama (…)”.

Hoje, sabe-se que a maior vítima da ditadura militar foi justamente a justiça social. Foi durante a ditadura, que Frias defendeu com tanto ardor, que o Brasil chegou a ser um dos cinco países com maior concentração de renda no mundo, perdendo a primeira colocação apenas para países africanos miseráveis.

A tomada de posição política em relação ao governo Lula que esses jornais publicaram em suas edições de 26 de setembro de 2010 – tendo a Folha publicado o texto em sua capa –, em pretensa resposta à crítica do presidente da República a uma conduta partidarizada desses veículos, vem sendo desprezada por uma maioria esmagadora da sociedade, como revelam as pesquisas de opinião sobre este governo e sua candidata.

Em todos os níveis de escolaridade, em todas as faixas etárias, em todas as regiões – com exceção, apenas, entre os mais ricos –, os brasileiros, em maioria avassaladora, ignoram as diatribes diárias desses jornais contra o governo mais respeitado – nacional e internacionalmente – e popular da história deste País. Suas denúncias contra um só lado são ignoradas, e o Brasil caminha para dar uma vitória histórica à candidata que rejeitam.

Todavia, há que fazer uma distinção entre as posturas adotadas pelo Estadão e pela Folha. Enquanto que o primeiro, como que atendendo a exortação do presidente da República, finalmente sai do armário, deixando claro, de forma tardia, que tem candidato, exatamente como o chefe da nação disse que tinha, o segundo continua tentando se esconder sob uma imparcialidade na qual só os seus controladores e empregados bajuladores dizem acreditar.

Por mais que os argumentos do Estadão para justificar que tenha se convertido em cabo eleitoral de José Serra sejam questionáveis e não resistam à menor exposição àquele contraditório que o jornal censura furiosamente, seus controladores não têm descido ao nível da família Frias.

Entre todas as barbaridades praticadas pela Folha, algumas das quais já lhe renderam sucessivas condenações na Justiça, uma delas jamais encontrou paralelo na dita “grande imprensa” nacional. O jornal publicou em sua primeira página a falsificação de uma ficha policial de Dilma Rousseff, adversária do candidato extra-oficial do veículo, José Serra.

A Folha publicou em sua primeira página o conteúdo de um e-mail apócrifo, sem ter verificado absolutamente nada sobre a veracidade do documento. Tanto é que, depois do malfeito, escreveu nota de esclarecimento dizendo que não tinha elementos para negar ou confirmar a veracidade de uma falsificação contra uma ministra de Estado que publicou em seu espaço de maior visibilidade, na primeira página.

Em seu editorial de 26 de setembro de 2010, em que reafirma ser “isenta”, a Folha chega a “advertir” o presidente da República e sua candidata de que não aceitará que tentem “censurar” a imprensa, esgrimindo com cláusula pétrea da Constituição que versa sobre liberdade de expressão. O Estadão vai pela mesma linha de confronto com este governo por ter as mesmas inclinações antidemocráticas que o seu congênere, ainda que tenha mais caráter.

Ambos, porém, carregam o suplício de inocentes em seus currículos fétidos. Sob essa trajetória conspurcada por um apreço patético e degenerado pelo estupro do Estado Democrático de Direito que Estadão e Folha agora se arvoram em sentinelas da democracia. E é por esse cinismo atroz que esses jornais terminarão na lata de lixo da história.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ATÉ ONDE CHEGA A SORDIDEZ

Eis a nova peça de propaganda política do Serra. É o desespero tomando conta da oposição, que tenta incutir o medo na população, reeditando, mais grosseiramente, a fala contristada da Regina Duarte ("Eu tenho medo") de 2002. Mas o povo não terá medo de ser feliz de novo e não mais servirá aos poderosos como eleitor.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

OLHA O NOVO MENSALÃO TUCANO, GENTE!!


Pinçado do CONVERSA AFIADA do Paulo Henrique Amorim;


O modo tucano de operar:
R$ 3 milhões mensais
Publicado em 22/09/2010 Compartilhe Imprima Vote (+14)Ary Rigo, um tucano de mão cheia (êpa !, êpa !)

Até o jornal nacional se curvou à força desse vídeo.

O Conversa Afiada reproduz e-mail de amigo navegante:

O deputado estadual Ary Rigo (PSDB), primeiro-secretário da Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul e principal operador político do governador serrista André Pucinelli, conta detalhes do esquema de corrupção.
Está tudo aí: a própria Assembléia, o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e o prefeito de Dourados (hoje incomunicável numa prisão estadual).
A grana era de R$ 3 milhões mensais.

Em Campo Grande e nas principais cidades do Estado a revolta toma conta da população. Em poucas horas mais de 50 mil pessoas viram no Youtube o vídeo abaixo, gravado sem que o tucano Ary Rigo soubesse.

Veja e se choque com o que os amigos de Serra fazem:

domingo, 19 de setembro de 2010

DA SÉRIE: É A ECONOMIA ESTÚPIDO!!

PARA QUE O POVO BRASILEIRO SE PONHA DE PÉ

Texto do Fábio Konder Comparato, pinçado do CONVERSA AFIADA do Paulo Henrique Amorim. Uma aula (MIF)

Publicado em 19/09/2010


PARA QUE O POVO
BRASILEIRO SE PONHA DE PÉ

Dentro de poucos dias realizaremos, mais uma vez, eleições em todo o país. Elas coincidirão com o 22º aniversário da promulgação da atual Constituição. Quer isto dizer que já vivemos em plena democracia?
Nada mais ilusório. Se o regime democrático implica necessariamente a atribuição de poder soberano ao povo, é forçoso reconhecer que este continua, como sempre esteve, em estado de menoridade absoluta.

Povo, o grande ausente
Quando Tomé de Souza desembarcou na Bahia, em 1549, munido do seu famoso Regimento do Governo, e flanqueado de um ouvidor-mor, um provedor-mor, clero e soldados, a organização político-administrativa do Brasil, como país unitário, principiou a existir. Tudo fora minuciosamente preparado e assentado, em oposição ao descentralismo feudal das capitanias hereditárias. Notava-se apenas uma lacuna: não havia povo. A população indígena, estimada na época em um milhão e meio de almas, não constituía, obviamente, o povo do novel Estado; tampouco o formavam os 1.200 funcionários – civis, religiosos e militares – que acompanharam o Governador Geral.

Iniciamos, portanto, nossa vida política de modo original: tivemos Estado, antes de ter povo. Quando este enfim principiou a existir, verificou-se desde logo que havia nascido privado de palavra.
Foi assim que o Padre Antonio Vieira o caracterizou, no Sermão da Visitação de Nossa Senhora, pregado em Salvador em junho de 1640. Tomando por mote a palavra latina infans, assim discorreu o grande pregador:
“Bem sabem os que sabem a língua latina, que esta palavra, infans, infante, quer dizer o que não fala. Neste estado estava o menino Batista, quando a Senhora o visitou, e neste permaneceu o Brasil muitos anos, que foi, a meu ver, a maior ocasião de seus males. Como o doente não pode falar, toda a outra conjectura dificulta muito a medicina. (…) O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência; e se alguma vez chegou algum gemido aos ouvidos de quem o devera remediar, chegaram também as vozes do poder, e venceram os clamores da razão”.
Quase às vésperas de nossa Independência, esse estado de incapacidade absoluta do povo afigurava-se, paradoxalmente, não como um defeito político, mas como uma exigência de ordem pública. Em maio de 1811, o nosso primeiro grande jornalista, Hipólito José da Costa, fez questão de lançar nas páginas do Correio Braziliense, editado em Londres, uma severa advertência contra a eventual adoção no Brasil do regime de soberania popular:
“Ninguém deseja mais do que nós as reformas úteis; mas ninguém aborrece mais do que nós, que essas reformas sejam feitas pelo povo; pois conhecemos as más conseqüências desse modo de reformar; desejamos as reformas, mas feitas pelo governo; e urgimos que o governo as deve fazer enquanto é tempo, para que se evite serem feitas pelo povo.”
A nossa independência, que paradoxalmente não foi o resultado de uma revolta do povo brasileiro contra o rei de Portugal, mas, ao contrário, do povo português contra o rei no Brasil, não suscitou o menor entusiasmo popular. O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire pôde testemunhar: “A massa do povo ficou indiferente a tudo, parecendo perguntar como o burro da fábula: – Não terei a vida toda de carregar a albarda ? ”
A mesma cena, com personagens diferentes, é repetida 67 anos depois, na proclamação da república. “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava“, lê-se na carta, tantas vezes citada, de Aristides Lobo a um amigo. “Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada.”

O disfarce partidário-eleitoral

Mas afinal, era preciso pelo menos fazer de conta que o povo existia politicamente. Para tanto, os grupos dominantes criaram partidos e realizaram eleições. Mas tudo sob forma puramente teatral. O povo tem o direito de escolher alguns atores, mas nunca as peças a serem exibidas. Os atores não representam o povo, como proclamam as nossas Constituições. Eles tampouco representam seu papel perante o povo (sempre colocado na platéia), mas atuam de ouvidos atentos aos bastidores, onde se alojam os “donos do poder”.
No Império, Joaquim Nabuco qualificava a audácia com que os partidos assumiam suas pomposas denominações como estelionato político. Analogamente no início da República, o fato de a lei denominar oficialmente eleições as “mazorcas periódicas”, como disse Euclides da Cunha, constituia “um eufemismo, que é entre nós o mais vivo traço das ousadias de linguagem”.
A Revolução de 1930 foi feita justamente para pôr cobro às fraudes eleitorais. Mas desembocou, alguns anos depois, na ditadura do “Estado Novo”, que suprimiu as eleições, sem no entanto dispensar a clássica formalidade da outorga à nação (já não se falava em povo) de uma nova “Constituição”.
Após o término da Segunda Guerra Mundial, em que muitos dos nossos pracinhas tiveram suas vidas ceifadas na luta contra o nazifascismo, fomos moralmente constrangidos a iniciar uma nova vida política, sob o signo da democracia representativa. Mas a legitimidade desta durou pouco tempo. Já em 7 de março de 1947, ou seja, menos de cinco meses depois de promulgada a nova Constituição, o Partido Comunista foi extinto por decisão judicial ( nesta terra, a balança da Justiça sempre cedeu aos golpes da espada). Em fevereiro de 1954, com o “manifesto dos coronéis”, teve início a preparação do golpe militar de 1964. O estopim para deflagrá-lo foi a iminência de que as forças de esquerda chegassem eleitoralmente ao poder e executassem o programa das “reformas de base”, com o desmantelamento econômico da oligarquia.
Obviamente, para os nossos grupos dominantes, os cidadãos podem votar como quiserem nas eleições, mas desde que se lembrem de que “nasceram para mandados e não para mandar”, segundo a saborosa expressão camoniana.
O regime autoritário, instaurado em 1964 pela caserna, com o apoio do empresariado, dos latifundiários e da Igreja Católica, sob a proteção preventiva do governo norte-americano, reconheceu que a assim chamada “Revolução Democrática” não poderia suprimir as eleições e os partidos. Manteve-os, portanto, mas reduzidos à condição de simples fantoches. Era a “democracia à brasileira”, como a qualificou o General que prendeu o grande Advogado Sobral Pinto. Ao que este retrucou simplesmente: “General, eu prefiro o peru à brasileira”.
O regime de terrorismo de Estado foi devidamente lavado pelo Poder Judiciário, que decidiu anistiar, com as lamentações protocolares, os agentes públicos que mataram, torturaram e estupraram milhares de oponentes políticos.
Chegamos à fase atual, em que as eleições já não incomodam os oligarcas, porque mantém tudo exatamente como dantes no velho quartel de Abrantes. O povo pode até assistir, indiferente ou risonho, uma campanha presidencial, em que os principais candidatos dão-se ao luxo de não discutir um só projeto ou programa de governo, preferindo ocupar todos os espaços da propaganda oficial com chalaças ou sigilos.
Tudo parece, assim, ter entrado definitivamente nos eixos. Um olhar atento para a realidade política, porém, não deixará de notar que a nossa tão louvada democracia carece exatamente do essencial: a existência de um povo soberano.
Iniciamos nossa vida política, sem povo. Alcançamos agora a maturidade, como se o povo continuasse politicamente a não existir.
Sem dúvida, a Constituição oficial declara, solenemente, que “todo poder emana do povo”, acrescentando que ele o exerce “por meio de representantes eleitos ou diretamente” (art. 1º, parágrafo único). Mas toda a classe política sabe – e o Poder Judiciário finge ignorar – que na realidade “todo poder emana dos grupos oligárquicos, que o exercem em nome do povo, por meio dos representantes por este eleitos”.
Daí a questão inevitável: o que fazer para mudar esse triste estado de coisas?
A emancipação política do povo brasileiro
É preciso atacar desde logo o ponto principal.

A soberania, na Idade Moderna, consiste, antes de tudo, em aprovar a Lei das Leis, isto é, a Constituição. Trata-se de uma prerrogativa que só pode ser exercida diretamente. Quem delega o seu exercício a outrem está, na realidade, procedendo à sua alienação. O chamado “poder constituinte derivado” é, portanto, um claro embuste.
Ora, neste país, Constituição alguma, em tempo algum, jamais foi aprovada pelo povo. Todas elas foram votadas e promulgadas por aqueles que se diziam, abusivamente, representantes do povo; quando não foram simplesmente decretadas pelos ocupantes do governo.
O mesmo ocorre com as emendas constitucionais. A Constituição Federal em vigor, por exemplo, já foi emendada (ou remendada) 70 (setenta) vezes em 22 anos; o que perfaz a apreciável média de mais de 3 emendas por ano. Em nenhuma dessas ocasiões, o povo foi convocado para dizer se aceitava ou não tais emendas.
Isto, sem falar no fato absurdo de que a Constituição Federal, ao contrário de várias Constituições Estaduais, não admite a iniciativa popular de emendas ao seu texto.
É preciso, pois, começar a reforma política (alguns preferem dizer a “Revolução”), reservando ao povo o poder nuclear de toda soberania. No nosso caso, ele consiste em aprovar, diretamente, não só a Constituição Federal, como também as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais, bem como suas subsequentes alterações respectivas.
Em segundo lugar, é indispensável reconhecer ao povo o direito de decidir, por si mesmo, mediante plebiscitos e referendos, as grandes questões que dizem respeito ao bem comum de todos. A Constituição Federal declara, em seu art. 14, que o plebiscito e o referendo, tal como o sufrágio eleitoral, são formas de exercício da soberania popular. Mas determina, no art. 49, inciso XV, que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar plebiscitos e convocar referendos”. Ou seja, o mandante somente pode manifestar validamente a sua vontade, se houver concordância dos mandatários. Singular originalidade do direito brasileiro!
Para corrigir esse despautério, a Ordem dos Advogados do Brasil, por proposta do autor destas linhas, apresentou anteprojetos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (transformados no projeto de lei nº 4.718/2004 na Câmara dos Deputados e projeto de lei nº 001/2006 no Senado), pelos quais o plebiscito e o referendo podem ser realizados mediante iniciativa do próprio povo, ou por requerimento de um terço dos membros da Câmara ou do Senado.
A proposta da OAB procurou harmonizar os dispositivos antagônicos da Constituição Federal, interpretando a autorização e a convocação de plebiscitos e referendos, pelo Congresso Nacional, como atribuições meramente formais e não de mérito.
Previram ainda os anteprojetos da OAB novos casos de obrigatoriedade na realização de plebiscitos e referendos.
Assim é que, para impedir a repetição da “privataria” do governo FHC, passaria a ser obrigatório o plebiscito para “a concessão, pela União Federal, a empresas sob controle direto ou indireto de estrangeiros, da pesquisa e da lavra de recursos minerais e do aproveitamento de potenciais de energia hidráulica”; bem como para a concessão administrativa, pela União, de todas as atividades ligadas à exploração do petróleo.
Quanto aos referendos, a fim de evitar o absurdo da legislação eleitoral em causa própria, determinam os projetos de lei citados a obrigatoriedade de serem referendadas pelo povo todas as leis sobre matéria eleitoral, cujo projeto não tenha sido de iniciativa popular.
Inútil dizer que tais projetos de lei acham-se devidamente paralisados e esquecidos em ambas as Casas do Congresso.
Para completar o quadro de transformação da soberania popular retórica em poder supremo efetivo, tive também ocasião de propor duas medidas indispensáveis em matéria eleitoral. De um lado, o financiamento público das campanhas; de outro lado, a introdução do recall ou referendo revocatório de mandatos eletivos, proposta também pela OAB e objeto da emenda constitucional nº 073/2005 no Senado Federal. Assim, o povo assumiria plenamente a posição de mandante soberano: ele não apenas elegeria, mas também teria o direito de destituir diretamente os eleitos. Para os que se assustam com tal “excesso”, permito-me lembrar que o recall já existe e é largamente praticado em 19 Estados da federação norte-americana.
Não sei se tais medidas tornar-se-ão efetivas enquanto eu ainda estiver neste mundo. O que sei, porém, com a mais firme das convicções, é que sem elas o povo brasileiro continuará a viver “deitado eternamente em berço esplêndido”, sem condições de se pôr de pé, para exigir o respeito devido à sua dignidade.


(*) Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.

A VELHA MÍDIA VAI AFUNDAR COM SERRA

Pinçado do Blog do Luis Nassif.
O fim um ciclo em que a velha mídia foi soberana
Enviado por luisnassif, sab, 18/09/2010 - 07:20

Dia após dia, episódio após episódio, vem se confirmando o cenário que traçamos aqui desde meados do ano passado: o suicídio do PSDB apostando as fichas em José Serra; a reestruturação partidária pós-eleições; o novo papel de Aécio Neves no cenário político; o pacto espúrio de Serra com a velha mídia, destruindo a oposição e a reputação dos jornais; os riscos para a liberdade de opinião, caso ele fosse eleito; a perda gradativa de influência da velha mídia.
O provável anúncio da saída de Aécio Neves marca oficialmente o fim do PSDB e da aliança com a velha mídia carioca-paulista que lhe forneceu a hegemonia política de 1994 a 2002 e a hegemonia sobre a oposição no período posterior.
Daqui para frente, o outrora glorioso PSDB, que em outros tempos encarnou a esperança de racionalidade administrativa, de não-sectarismo, será reduzido a uma reedição do velho PRP (Partido Republicano Paulista), encastelado em São Paulo e comandado por um político – Geraldo Alckmin – sem expressão nacional.
Fim de um período odioso
Restarão os ecos da mais odiosa campanha política da moderna história brasileira – um processo que se iniciou cinco anos atrás, com o uso intensivo da injúria, o exercício recorrente do assassinato de reputações, conseguindo suplantar em baixaria e falta de escrúpulos até a campanha de Fernando Collor em 1989.
As quarenta capas de Veja – culminando com a que aparece chutando o presidente – entrarão para a história do anti-jornalismo nacional. Os ataques de parajornalistas a jornalistas, patrocinados por Serra e admitidos por Roberto Civita, marcarão a categoria por décadas, como símbolo do período mais abjeto de uma história que começa gloriosa, com a campanha das diretas, e se encerra melancólica, exibindo um esgoto a céu aberto.
Levará anos para que o rancor seja extirpado da comunidade dos jornalistas, diluindo o envenenamento geral que tomou conta da classe.
A verdadeira história desse desastre ainda levará algum tempo para ser contada, o pacto com diretores da velha mídia, a noite de São Bartolomeu, para afastar os dissidentes, os assassinatos de reputação de jornalistas e políticos, adversários e até aliados, bancados diretamente por Serra, a tentativa de criar dossiês contra Aécio, da mesma maneira que utilizou contra Roseana, Tasso e Paulo Renato.
O general que traiu seu exército
Do cenário político desaparecerá também o DEM, com seus militantes distribuindo-se pelo PMDB e pelo PV.
Encerra-se a carreira de Freire, Jungman, Itagiba, Guerra, Álvaro Dias, Virgilio, Heráclito, Bornhausen, do meu amigo Vellozo Lucas, de Márcio Fortes e tantos outros que apostaram suas fichas em uma liderança destrambelhada e egocêntrica, atuando à sombra das conspirações subterrâneas.
Em todo esse período, Serra pensou apenas nele. Sua campanha foi montada para blindá-lo e à família das informações que virão à tona com o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr e da exposição de suas ligações com Daniel Dantas.
Todos os dias, obsessivamente, preocupou-se em vitimizar a filha e a ele, para que qualquer investigação futura sobre seus negócios possa ser rebatida com o argumento de perseguição política.
A interrupção da entrevista à CNT expôs de maneira didática essa estratégia que vinha sendo cantada há tempos aqui, para explicar uma campanha eleitoral sem pé nem cabeça. Seu argumento para Márcia Peltier foi: ocorreu um desrespeito aos direitos individuais da minha filha; o resto é desculpa para esconder o crime principal.
Para salvar a pele, não vacilou em destruir a oposição, em tentar destruir a estabilidade política, em liquidar com a carreira de seus seguidores mais fiéis.
Mesmo depois que todas as pesquisas qualitativas falavam na perda de votos com o denuncismo exacerbado, mesmo com o clima político tornando-se irrespirável, prosseguiu nessa aventura insana, afundando os aliados a cada nova pesquisa e a cada nova denúncia.
Com isso, expôs de tal maneira a filha, que não será mais possível varrer suas estripulias para debaixo do tapete.
A marcha da história
Os episódios dos últimos dias me lembram a lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim. Dejetos, lixo, figuras soturnas, almas penadas, todos sendo varridos pela água abundante e revitalizadora da marcha da história.
Dia após dia, mês após mês, quem tem sensibilidade analítica percebia movimentos tectônicos irresistíveis da história.
Primeiro, o desabrochar de uma nova sociedade de consumo de massas, a ascensão dos novos brasileiros ao mercado de consumo e ao mercado político, o Bolsa Família com seu cartão eletrônico, libertando os eleitores dos currais controlados por coronéis regionais.
Depois, a construção gradativa de uma nova sociedade civil, organizando-se em torno de conselhos municipais, estaduais, ONGs, pontos de cultura, associações, sindicatos, conselhos de secretários, pela periferia e pela Internet, sepultando o velho modelo autárquico de governar sem conversar.
Mesmo debaixo do tiroteio cerrado, a nova opinião pública florescia através da blogosfera.
Foi de extremo simbolismo o episódio com o deputado do interior do Rio Grande do Sul, integrante do baixo clero, que resolveu enfrentar a poderosa Rede Globo.
Durante dias, jornalistas vociferantes investiram contra UM deputado inexpressivo, para puni-lo pelo atrevimento de enfrentar os deuses do Olimpo. Matérias no Jornal Nacional, reportagens em O Globo, ataques pela CBN, parecia o exército dos Estados Unidos se valendo das mais poderosas armas de destruição contra um pequeno povoado perdido.
E o gauchão, dando de ombros: meus eleitores não ligam para essa imprensa. Nem me lembro do seu nome. Mas seu desprezo pela força da velha mídia, sem nenhuma presunção de heroísmo, de fazer história, ainda será reconhecido como o momento mais simbólico dessa nova era.
Os novos tempos
A Rede Record ganhou musculatura, a Bandeirantes nunca teve alinhamento automático com a Globo, a ex-Manchete parece querer erguer-se da irrelevância.
De jornal nacional, com tiragem e influência distribuídas por todos os estados, a Folha foi se tornando mais e mais um jornal paulista, assim como o Estadão. A influência da velha mídia se viu reduzida à rede Globo e à CBN. A Abril se debate, faz das tripas coração para esconder a queda de tiragem da Veja.
A blogosfera foi se organizando de maneira espontânea, para enfrentar a barreira de desinformação, fazendo o contraponto à velha mídia não apenas entre leitores bem informados como também junto à imprensa fora do eixo Rio-São Paulo. O fim do controle das verbas publicitárias pela grande mídia, gradativamente passou a revitalizar a mídia do interior. Em temas nacionais, deixou de existir seu alinhamento automático com a velha mídia.
Em breve, mudanças na Lei Geral das Comunicações abrirão espaço para novos grupos entrarem, impondo finalmente a modernização e o arejamento ao derradeiro setor anacrônico de um país que clama pela modernização.
As ameaças à liberdade de opinião
Dia desses, me perguntaram no Twitter qual a probabilidade da imprensa ser calada pelo próximo governo. Disse que era de 25% - o percentual de votos de Serra. Espero, agora, que caia abaixo dos 20% e que seja ultrapassado pela umidade relativa do ar, para que um vento refrescante e revitalizador venha aliviar a política brasileira e o clima de São Paulo.

A LEGIÃO DOS DEGENERADOS




Pinçado do Blog Cidadania do Eduardo Guimarães




A legião dos degenerados (Eduardo Guimarães)

Se alguém disser aos barões da mídia que “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”, será chamado de tudo que a máfia da comunicação usa para desqualificar críticos. Contudo, o autor da frase é Joseph Pulitzer. Caso alguém não saiba quem foi ele, clique aqui para ler a sua biografia.
Pulitzer foi homenageado postumamente com a criação do Prêmio Pulitzer, a mais ambicionada premiação jornalística do mundo. Quem não se lembra da namorada do Super-homem, a repórter Lois Lane, arriscando a vida em reportagens perigosas na tentativa obstinada de ganhar o prêmio ao custo da própria integridade física?
Como previu o visionário, parte da imprensa brasileira está corrompendo seu público fiel. Essa “imprensa cínica, mercenária e corrupta” foi edificada por empresários gananciosos como Roberto Marinho ou Otávio Frias de Oliveira, entre outros de triste memória que, para encurtar, lembro que fundaram e sustentaram a ditadura mais sangrenta e longeva que este país conheceu.
Hoje, depois de décadas e décadas em que Globos, Folhas, Vejas e Estadões perverteram a comunicação no Brasil, formou-se um público ainda minoritário mas que ameaça crescer até contaminar toda a sociedade.
As taras inoculadas por esses impérios de comunicação em certa parcela dos brasileiros se tornam mais evidentes entre os mais ricos, que não são necessariamente os mais cultos, mas que detêm recursos para pagar pelo jornalismo traficante de mediocridade e degeneração.
Venho tendo tais reflexões durante a leitura eventual de colunas de cartas de leitores dos jornais supra mencionados. A desonestidade intelectual de alguns desses leitores mostra no que aqueles veículos estão transformando o seu público. Reproduzo, abaixo, exemplo frugal do que essas pessoas cometem. Sua retórica pervertida revela a legião de degenerados que uma autoproclamada “imprensa” está parindo. E com financiamento dos impostos de todos os brasileiros.
Não importa o tamanho do escândalo: nada atingirá o PT, na medida em que a eleição se faz por meio de votos de pessoas que não sabem ler ou escrever. Se ao menos no Estado de São Paulo fosse dada mais atenção à educação nos últimos 16 anos, talvez fosse diferente o quadro atual. A criança pobre de 16 anos atrás hoje é uma analfabeta por ter passado de ano sem saber ler ou escrever. Que o PSDB não culpe a ignorância do povo como se fosse consequência do acaso. MARCOS COSME PORTO (Campinas, SP)
Essa carta basta como exemplo. Foi publicada na última edição dominical da Folha e encerra o potencial necessário para exemplificar a corrupção moral que habita os dois lados – o do leitor e o de quem editou e publicou o que ele escreveu.Tanto a Folha quanto o leitor certamente lêem as pesquisas do instituto Datafolha e, portanto, sabem que é mentira que só “pessoas que não sabem ler ou escrever” pretendem votar em Dilma Rousseff. Pelo contrário: ampla maioria dos mais escolarizados não só declara voto na nela como é o público mais decidido a fazê-lo.
Essa é uma tentativa do jornal e de seu leitor de disseminarem uma mentira, portanto. E para embeber esse ato vil em alguma verossimilhança, deixam o malandrão, ali, beliscar os tucanos. Mas ele sugere que o voto “ético” seria em alguma alternativa a Dilma, mesmo que seja em Marina Silva. Tem sido uma tática recorrente da “imprensa”, nos últimos tempos. Acredita-se que o voto na laranja verde de José Serra levará a eleição ao segundo turno e que o tucano estaria nele, teoria que desconsidera a hipótese de que uma subida de Marina às custas de Dilma poderia levar a candidata do PV ao segundo lugar no pleito.
Mas esse foi só um exemplo. Há outros muito piores. Os próprios trolls que infectam a blogosfera são produtos dessa “imprensa”. São anônimos que passam os dias na internet insuflando brigas, disseminando mentiras como a de que Dilma seria proibida de entrar nos EUA, de que seria “lésbica”, de que teria assassinado ou roubado bancos, de que teria sido “prostituta de terroristas” etc.
Essas pessoas que, gratuitamente – ou nem tanto –, afirmam haver provas das novas acusações pré-eleitorais da “imprensa”, são produtos da doutrinação de homens como Roberto Marinho ou Otávio Frias de Oliveira, que, por vias indiretas, assassinaram centenas de inocentes durante a ditadura militar.
A legião dos degenerados midiática é uma ameaça ao processo civilizatório, mas não é a causa. Donde se concluí que os democratas não devem gastar energia com sintomas da doença como os trolls ou o leitor da Folha acima, mas com a causa. O foco, antes ou depois da eleição, deve ser o de desmascarar a natureza “cínica, corrupta e mercenária” dos barões da mídia.

OS PISTOLEIROS DA VEJA

Mainardi e Reinaldo Azevedo comemoram a derrota de Lula
17 de setembro de 2010 às 9:49 6 Comentários
Em 2006, quando o primeiro turno se aproximava, o incansável Diogo Mainardi, que atualiza seu tuiter a cada cinco meses, e o blogueiro mais limpo do país, Reinaldo Azevedo, gravaram um podcast revelador.

Alexandre Porto acaba de publicá-lo no seu blogue.

É uma pérola.

Eles discutem o fim do período Lula porque as pesquisas já anunciavam que haveria segundo turno.

Na opinião dos espertos, Lula seria derrotado porque “não resistira a mais um mês de jornalismo livre”.

Também pediam que o PSDB não fizesse acordo após a posse, cassasse os direitos políticos de Lula e o levasse à cadeia.

Ainda comemoravam o que Reinaldo Azevedo julgava uma vitória pessoal da dupla.

Vejam só.

É com essa gente que estamos lidando.

Não deixe de ouvir o áudio.

Chega a ser impressionante de tão ridículo que é.

PS: A dica foi do leitor Márcio Silva, que me apresentou o aúdio num comentário.

O pistoleiro de aluguel, Diogo Mainardi, está "foragido" e o Reinaldo está tentando, mais uma vez, levar a eleição para o 2º turno. Essa turma não aprende. (MIF)