segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ELEIÇÕES - 2008. OLHA A BALSA AÍ GENTE!!!




A BALSA
(CRÔNICA DE UM USUÁRIO, ESTUDIOSO E COLECIONADOR DE BALSAS)

A balsa é a instituição mais democrática da política acreana. Ela se constitui no meio de transporte, que a cada eleição, abriga os derrotados pelas urnas, numa travessia dolorosa de Rio Branco, saindo do porto da gameleira, até a cidade amazonense de Manacapuru. Trata-se de uma viagem de "purgação" para se fazer a catarse das fortes emoções da campanha, chorar as mágoas da derrota e liberar as tensões reprimidas. Durante o percurso, os usuários da balsa são submetidos a uma rigorosa dieta a base de "chibé (pirão de agua morna com coentro e sal) e vão ouvindo o chõro dos surubins, que escoltam a balsa até Manacapuru.

Histórico:
Com a anexação do Acre ao Brasil, a Lei 1181 de 25/02/1904, organiza o Acre em Território Federal, dividindo-o em três departamentos autônomos: Alto Acre, Alto juruá e Alto Purus. Está decisão frustrou os chefes revolucionários, que esperavam que o Acre fosse constituido como Estado autõnomo e que eles pudessem influir nos mecanismos de poder. Com as nomeações dos Prefeitos Departamentais e dos Intendentes das sedes Departamentais, as disputas políticas se acentuaram. Os seringalistas se dividiram ente os "históricos", que haviam participado da campanha revolucionária e os "não-históricos", formando-se facções contra e pró Plácido de Castro, a principal liderança que emerge do processo revolucionário. Daí que os primeiros anos do Território se caracteriza por uma grande instabilidade política. Destaque´se que entre 1904 e 1912 se sucederam nada menos do que 14 Prefeitos Departamentais.
Uma matéria que sai publicada no periódico "O Rio Acre" de 5/12/1908, divulga uma carta do Dr. Gambino Bezouro que exercia o comando do Departamento do Alto Acre, a qual nos oferece alguns indícios sobre a instituição da balsa. Naquela matéria Gambino Bezouro descreve a situação do Acre e relata uma tentativa de Plácido de Castro para destituí-lo do cargo. Eis o trêcho, onde se faz pela 1ª vez, referência a "balsa". "(...) Feito isto, desceram o rio certos de que me surprenhenderiam com poucos soldados, estes mesmos disseminados em diversos serviços, me tomariam e me fariam descer na tal balsa de que já lhe falei no começo desta!! Em Caminho, porém, o Plácido soube do que ocorria, da chegada do reforço da Companhia Regional e da metralhadora, do pessoal que me cercava para defender-me, da fuga do Juiz e outros seus amigos e esmoreceu. Na lancha que tomou a força no caminho disse ao comandante: este prefeito é soldado, se o governo der-lhe força é para desatinos e eu terei de prendê-lo e fazê-lo descer na balsa. (...) Felizmente estou cercado de bons elementos de força e tenho esperança de que a tentativa do Sr.Plácido não se reproduzirá. É isto que muitos julgam um paraizo, uma comissão rendosa, levando em pouca conta os serviços aqui prestados, nestas regiões doentias, longe do mundo, sem conforto, sem sociedade, pondo em risco a todo momento vida e saúde! Finalmente tudo passou sem haver sangue, pelo que estou satisfeitíssimo."

Depois dessa primeira referência a balsa, há outro fato histórico ocorrido em 1910, que nos faz levantar a hipótese, que a instituição da balsa remonta aos primeiros anos daquele período. Num outro conflito entre as oligarquias seringalistas, o Prefeito Departamental, Leônidas Benício de Melo é destituido do cargo e foi conduzido preso numa lancha do Território com "ordens de ser desembarcado no primeiro barranco quando a embarcação atingisse o Estado do Amazonas." O Jornal Folha do Acre nº 15 de 11/12/1910 na sua página 2, refere-se a esse evento. "A VIAGEM DO EX-PREFEITO - Regressou a esta cidade no dia 2 deste mez a lancha Dias que conduziu o ex-Prefeito Leonidas Benício de Mello expulso deste Departamento peos revoltantes crimes que cometeu em pleno exerc´cio daquelle cargo. O exportado, no rio Purus, acima da cachoeira tomou a lancha Supremo com destino a Manaus." As "lanchas Dias e Supremo" foram, portanto, as primeiras balsas.Não sei ainda precisar se o barranco onde Benício de Melo foi "desembarcado" fazia parte do município de Manacapuru, destino do "exílio temporário e obrigatório" de todos que perdem eleições no Acre.

Na década de 50, um jornal da época, "Jornal do Povo" traz uma matéria assinada por Aluisio Queiroz, um truculento delegado de polícia, que perdeu a eleição e se recusa a embarcar na balsa. Eis um pequeno trecho do seu artigo "DE BALSA, NÃO!", datado de 12/09/1954, -"Esta é a segunda vez que somos gentilmente convidados para regressar em tão incômodo meio de transporte. Por ocasião da campanha passada, tivemos identico convite, o qual recusamos, pois achamos muito pouco amistoso o gesto dos nossos adversários. (...) O Acre inteiro já sabe que a Coligação Democrática Acreana defende a religião cristã, enquanto os nossos adversários desejam a expulsão dos padres e freiras de todo o Território. Se balsa houvesse, não seria só para nós, pois teríamos, em nossa campanhia, os Ministros de Deus. Mas, ainda não será desta vez que o compromisso anti-clerical e divorcista executará os seus planos criminosos e antipatrióticos." (Ass. Aluisio Queiróz).





Nos anos 70, o jornalista e advogado, Aluisio Macedo Maia, de saudosa memória e um contumaz passageiro de balsas (perdeu várias eleições para vereador e deputado Estadual) reintroduziu o tema ao nosso folclore político. Segundo o jornalista José Chalub Leite, o trajeto para Manacapuru foi uma invenção do Aluisio Maia "por ser bem distante do Acre, e onde os passageiros, da agonia pelo menos podiam carpir suas dores e mágoas ouvindo o choro do surubim. (...) Inicialmente esse percurso era restrito aos times de futebol derrotados no campeonato, principalmente o Atlético Acreano do doutor Aloisio Maia. Em 1972, apareceu a primeira crõnica esportiva por ele publicada no jornal O Rio Branco e a partir daí se incorporou a nossa cultura política transformando-se em tema obrigatório de cronistas, chargistas, jornalistas para "curtir" com os derrotados, de uma simples eleição de bairro, até as eleições presidenciais.

Aos balsistas, "majoritários da versão 2008", Petecão, Bocalom e, meu dileto aluno, Rocha, sejam benvindos a Manacapuru.

Balsa/1988 Charge do Dim.(A Gazeta Ilustrada de 23/11/88)




Manacapuru foi fundadada em 15 de fevereiro de 1786 e originou-se de uma aldeia indígena dos Muras. Está localizada as margens do rio Solimões e dista 68 km de Manaus. Suas coordenadas geográficas são: 3º18'14'' de latitude sul e 60º37'02'' de longitide W.Gr. Em 1932, Manacapuru foi elevada a categoria de cidade.







A minha balsa particular que saiu de ponta Negra, em Natal. Na época estava no meu Mestrado naquela cidade. Foi a derrota mais dolorosa. A eleição de 1996, quando Marcos Afonso (PT), perdeu a Prefeitura de Rio Branco para Mauri Sérgio (PMDB). Então fiz essa crônica:

CRÔNICA DE UM BALSISTA RETARDATÁRIO E SOLITÁRIO

Posso me considerar um veterano de balsas. Já fiz diversas vezes a longa e dolorosa travessia Rio Branco/Manacapuru nessa tosca embarcação, curtindo, ou melhor, carpindo todo o ritual que a democrática instituição da balsa estabeleceu para os seus passageiros - chorar as mágoas da derrota, ouvir o chôro dos surubins, cumprir uma rigorosa dieta alimentar a base de "chibé"(pirão d'água) e piranambu na agua e no sal, aguentar calado as gozações dos vitoriosos, além do trabalho de desencalhar a balsa inúmeras vezes ao longo do percurso. Afora as balsas sindicais (no Acre toda disputa comporta a instituição da balsa), já fiz essa viagem duas vezes com Lula, uma com Jorge Viana, outra com o Tião Viana e essa agora com o Marcos Afonso. Devo confessar que essa última foi a mais dolorosa, a mais sofrida, a mais solitária.

O meu embarque não se deu do histórico porto da Gameleira com os demais companheiros, onde osofrimento coletivo e o intercâmbio das mágoas atuam como um lenitivo para nossas dores individuais. Embarquei sózinho aqui no morro do Careca na praia de Ponta Negra em Natal. A minha travessia foi mais longa , mais dura e mais perigosa, pois a balsa é uma embarcação, eminentemente fluvial, não muito afeita as procelas do mar. Foi uma aventura dígna do Almir Klink( o navegador solitário). Sem a mesma sofisticação desse navegador, tive que fazer alguns preparativos para enfrentar a travessia "atlântico-fluvial". Aparelho de som e algumas fitas da MPB (incluí o dobrado "Avante Camaradas", composto para homenagear a Coluna Prestes na sua passagem pelo interior da bahia), muitos livros da bibliografia exigida no Mestrado, algumas obras literárias, principalmente poesias, além do rancho de mantimentos: muita farinha (pois sem farinha eu não almoço), rapadura, carne de bode salgada e "avoador"(um peixe de 3ª), pois só em Belém o cardapio oficial da balsa seria introduzido.

O medo e a solidão estavam presentes nessa empreitada. Manacapuru estava muito além do horizonte e quanto mais a balsa se distanciava da costa mais o horizonte também se afastava. Aí eu me lembrei dos versos de Eduardo Galeano, "Janela sobre a Utopia" em Palavras Andantes:Ela está no horizonte/Me aproximo dois passos,/Ela se afasta dois passos./Caminho dez passos/ E o horizonte corre dez passos/ Por mais que eu caminhe, jamais o alcançarei/ Para que serve a utopia?/ Serve para isso! Para caminhar."

A solidariedade e o compartilhamento da utopia com os companheiros da Frente Popular do Acre me fizeram superar o medo, enfrentar a solidão e navegar até Manacapuru. Cheguei são e salvo e com algumas leituras atualizadas. Relí, por exemplo, O Discurso da Servidão Voluntária de Etienne la Boétie, um texto clássico da Ciência Política datado de 1548, que permanece atualíssimo. Eis um trecho e tire suas conclusões: "Na verdade o natural da arraia miuda, cujo número é cada vez maior nas cidades, é que seja desconfiada para com aquele que a ama e crédula para com aquele que a engana, (...) Como se diz, todos os povos são prontamente logrados para a servidão, pela primeira pluma que lhe passou na boca; e é maravilhoso como cedem rápido, contanto que lhe façam cócegas,"

Durante o percurso Natal/Manacapuru tive que fazer muitas outras leituras para cumprir tarefas acadêmicas. Lí e pincei de A Rebelião das Elites de Christopher Lasch o seguinte tópico:"O dinheiro, mais ainda do que outras coisas agradáveis como a beleza, a elegância e o charme, tende a infiltrar-se pelas fronteiras e a comprar coisas que não deviam estar a venda: dispensa do serviço militar; amor e amizade; os próprios cargos políticos (graças ao custo exorbitante das campanhas). Soube que no dia 3 de outubro, Rio Branco amanheceu de azul e que foi caríssima essa pintura. O poder econômico é um fato nas campanhas eleitorais e sempre nos foi desfavorável, por isso não aceito a tese que essa nossa derrota aconteceu "no dia" em função da compra de votos, por cabos eleitorais e "boqueiros". O dinheiro é um fator a considerar mas não é o único e, talvez, não seja o mais importante. Em que pese a derrota em Rio Branco, a cidade que estávamos aprendendo a estimar, o PT cresceu no Estado e dobrou seus parlamentares na Câmara Municipal. Abrimos alguns flancos no interior e somos uma referência consolidada na capital. O PMDB, em Rio Branco, vai ter que se pautar pelo "jeito petista de governar" ou se desmoraliza de vez. Depois da nossa "maquiagem", como dizem nossos adversários, eles vão ter que fazer, pelo menos, uma plástica bem feita na cidade, principalmente na periferia.

Ao companheiro Marcos Afonso, para cuja campanha contribuí pouco, vai a minha solidariedade e minha palavra de estímulo nesse momento difícil. Você não ganhou, xará, mas quem perdeu foi Rio Branco. Para sua reflexão as palavras de de Marshall Berman no prefácio do seu livro"Tudo que é Sólido se Desmancha no Ar" (uma frase que ele pinçou do Manifesto Comunista) -"manter essa vida exige talvez esforços desesperados e heróicos, e as vezes perdemos. Ivan Karamazov diz que, acima de tudo o mais, a morte de uma criança lhe dá ganas de devolver ao universo o seu bilhete de entrada. Mas ele não o faz, Ele continua a lutar e a amar; ele continua a continuar." Continuaremos companheiro.

(Artigo publicado na página de Opinião do Jornal Página 20, em 12/11/1996)





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RESULTADOS ELEITORAIS:

PT ganha em 6 das 15 capitais definidas em 1º turno

Concluídas as apurações oficiais, as urnas consagraram, já no primeiro turno, 15 prefeitos de capitais. A maioria, seis, pertence aos quadros do PT.

PSDB, PMDB e PSB elegeram dois prefeitos cada um. PV, PP e PCdoB amealharam uma prefeitura cada.

Eis os nomes dos vitoriosos do PT: 1) Luizianne Lins (Fortaleza), 2) Raul Filho (Palmas), 3) Roberto Sobrinho (Porto Velho), 4) João da Costa (Recife), 5) Angelim (Rio Branco) e 6) João Coser (Vitória).

O PSDB reelegeu Beto Richa (Curitiba) e Silvio Mendes (Teresina). O PMDB elegeu Nelsinho Trad (Campo Grande) e Íris Resende (Goiânia).

Os eleitos do PSB são: Iradilson Sampaio (Boa Vista) e Ricardo Coutinho (João Pessoa). O PP reelegeu Cícero Almeida (Maceió). E o PCdoB, Edvaldo Nogueira (Sergipe).

Noutras 11 capitais, a disputa transbordou para o segundo turno. A lista inclui as cidades econômica e politicamente mais importantes.

No segundo round, o PT disputa três capitais. O PMDB está no páreo em seis capitais. O PSB, em três. PSDB e PTB, em duas. PV, DEM e PDT, em uma.

Vai abaixo a lista das capitais em que a definição foi adiada pelo eleitor:

1) São Paulo: Gilberto Kassab (DEM) X Marta Suplicy;
2) Rio: Eduardo Paes (PMDB) X Fernando Gbeira (PV);
3) Belo Horizonte: Márcio Lacerda (PSB) X Leonardo Quintão (PMDB);
4) Porto Alegre: José Fogaça (PMDB) X Maria do Rosário (PT);
5) Florianópolis: Dário Berger (PMDB) X Esperidião Amin (PP);
6) Manaus: Amazonino Mendes (PTB) X Serafino Corrêa (PSB);
7) Brlém: Duciomar Costa (PTB) X José Priante (PMDB);
8) Macapá: Camilo Capiberibe (PSB) X Roberto Goés (PDT);
9) Salvador: João Henrique (PMDB) X Walter Pinheiro (PT) ;
10) São Luiz: João Castelo (PSDB) X Flavio Dino (PCdoB);
11) Cuiabá: Wilson Santos (PSDB) X Mauro Mendes (PR);

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