segunda-feira, 5 de abril de 2010

PASSARINHO ABRIU O BICO

Os ditadores Médice e Geisel

Do Blog "Conversa Afiada" do Paulo Henrique Amorim.


Médici e Geisel: já que é assim, por que não o Jango ?


“Eliminar fisicamente adversários seria uma decisão estrita de um presidente da República, segundo Passarinho. Ele reconhece que essa decisão foi tomada no fim do Governo Médici … Mas acha que, no caso de Geisel, as mortes e os desaparecimentos foram mais numerosos e menos justificáveis.”

“ … o Massacre da Lapa (chacina que, em 1976, praticamente dizimou o comitê central do PCdoB). Quem fez isso ? E quem matou o Comitê Central do Partidão ? Não foi o Médici, não. Isso foi uma política de Estado ? É lógico que foi !”

“Uma ordem para não fazer prisioneiros só podia vir do presidente da República, de mais ninguém.”

“ … no Governo Geisel houve uma política de Estado de extermínio dos adversários quando os militares já haviam feito, na gestão anterior, a limpeza da guerrilha urbana, que era o que efetivamente ameaçava o regime militar.

“ … a guerrilha do Araguaia (1969-1975, do PCdoB) foi utilizada como pretexto para continuar o regime autoritário. Era um movimento inexpressivo. … (n)uma área cercada, que poderia resultar até na morte por fome dos guerrilheiros … era um grupo de 60 pessoas completamente isolado …”

Trechos da entrevista de Jarbas Passarinho, ministro do Governo Médici, a Maria Inês Nassif e Paula Simas, e publicada no Valor, no caderno Fim de Semana, pág. 4.

Uma corrente subalterna da cobertura jornalística dos anos militares tentou transformar Ernesto Geisel em George Washington e Golbery do Couto e Silva em Thomas Jefferson, como se fossem os pais da Nova Democracia Brasileira.

Essa corrente de interpretação jornalística provocou três males.

Primeiro, deu as bases ideológicas para a teoria da “ditabranda”, ou seja, como diz a Folha (**) da província de S. P., o regime militar no Brasil foi uma trivialidade.

Segundo, armou a defesa dos que não querem punir os torturadores do regime militar.

Se Geisel e Golbery, com sabedoria e antevisão, criaram, solitariamente, a Nova Democracia, para que rever ?

Rever o quê ?

Essa impunidade, como demonstrou a mesma Maria Inês Nassif, no Valor faz com que a tortura no Brasil seja rotineira e aplicada, sempre, no lombo dos pobres.

Em terceiro lugar, a glorificação do Grande Stadista Ernesto Geisel passa mel na consciência da elite brasileira, cúmplice e beneficiária do regime militar.

Se eles eram tão bonzinhos, e se foram tão bonzinhos com os nossos negócios, vamos deixar isso para lá.

A anistia foi “mútua”.

É o que pensam o Farol de Alexandria – clique aqui para ler “Ele pensa que você é bobo, amigo navegante” – , o Zé Inacabado (o novo Carlo Lacerda, mas que não sabe fazer concordância ) e o Supremo Ex-Presidente do Supremo, Gilmar Dantas (***).

Foi Ele, o Supremo dos Supremos quem disse que rever a Lei da Anistia seria provocar, como provocou em muitos países (quais ?), graves distúrbios.

Só se fossem os distúrbios gástricos que acompanham a água da Sabesp na Baixada Santista.

A entrevista de Jarbas Passarinho puxa a brasa para a sardinha do Governo Médici.

Chega a dar a entender que, se Geisel tivesse sido Presidente antes de Médici, Médici iria para o Reino dos Céus.

Eles se merecem – Geisel e Médici.

E, como diz o Mino Carta, se o Brasil fosse uma democracia, Geisel Médici e os heróis da Nova Democracia seriam julgados in absentia.

Em tempo: se Geisel mandou matar os dirigentes do Partidão e do PCdoB, por que não haveria de mandar matar o Jango ?

Paulo Henrique Amorim

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