MÃE, 365 DIAS POR ANO
Elizabeth Mafra Cabral Nasser
Antropóloga
Elizabeth Mafra Cabral Nasser
Antropóloga
O Dia das Mães começou nos Estados Unidos, em maio de 1905, em uma pequena cidade do Estado da Virgínia Ocidental. Foi lá que Anna Marie Reeves Jarvis e algumas amigas iniciaram um movimento para criar um dia em que todas as crianças se lembrassem e homenageassem suas mães. O esforço delas foi reconhecido quando em 1910 o governador daquele Estado colocou o Dia das Mães no calendário oficial. Posteriormente, todos os estados americanos e inúmeros países começaram também a comemorar o segundo domingo de maio como a data dedicada às mães.
Nesta data, todos – DOS MAIS POBRES AOS MAIS RICOS - querem dar algo a sua mãe ou esposa. É indiscutível que a mãe, como rainha do lar, sempre existiu desde que um bípede implume começou a caminhar pelas savanas africanas (há pelo menos 6 milhões de anos). Assim, a mãe não é o que é apenas um dia, mas 365/66 por ano. Lavando, amamentando, cozinhando, engomando, passando noites acordadas, chorando as dores e tristezas dos filhos, esperando ansiosas as notas do colégio ou o resultado do vestibular. Em todos os momentos ela é mãe. Por que escolher um dia para celebrar essa realidade? Seria melhor que todo o carinho que lhe devotam neste único dia fosse distribuído por todo o ano.
Quantas mães só recebem amor, carinho, afeto e abraços neste dia? Será que nos outros seu desempenho no lar não é visto apenas como uma obrigação? Até que ponto a homenagem do Dia das Mães não é somente o cumprimento de um compromisso, tornado obrigatório pelo peso simbólico da data? È possível que o(a) filho(a) ou o marido ao derramar seu afeto sinta apenas que pagou num dia o que esqueceu de fazer em todos os outros. Ele é um bom filho, ou um bom marido; deixou de ir à praia ao futebol, a companhia dos amigos e passou o dia com a mãe. E os dias e as noites que ela passou sozinha? Muitas vezes apreensiva, pedindo que nada aconteça aos filhos e filhas que se divertem.
Os presentes que são dados na ocasião são bem significativos (embora variem de acordo com a situação financeira de cada um). Tanto o filho como o marido em geral imaginam que os presentes que as mulheres gostam de receber são aqueles que, afinal, vão servir a família. (Ou seja, vão aliviar um pouco a consciência dos presenteadores maridos e filhos), que por norma jamais participam do trabalho doméstico, ou se o fazem é de forma episódica.
Com freqüência os presentes são itens utilitários, cuja função é encher o reino da “rainha do lar” com algumas utilidades eletrônicas. É uma parafernália eletrodoméstica que lhe vai aumentar o trabalho. Dão-lhe um moderníssimo aparelho de fazer sucos ou uma batedeira, e imediatamente - após ler as complicadíssimas instruções – ela começa a fazer sucos, bolos e doces para mostrar o quanto gostou do presente e, também o quanto a maquina é maravilhosa. Se o presente é uma bonita maquina de costura, último modelo, certamente ela ouvirá “você agora poderá costurar as roupas da família”. E a mãe incansável, esquecendo até as dores lombares, cada vez mais constantes, começará a costurar, particularmente à noite e nos fins de semana.
E em sua casa, ou seja, “no seu reino”, vão se acumulando as máquinas, geladeiras, freezers, máquinas que cortam, picam, trituram, congelam, lavam e secam. E as mães “rainhas” cada vez mais eficientes. E pendurada no pescoço dos maridos e filhos (as) agradecem emocionadas os mimos, pois elas estão ganhando e tendo o que sempre sonharam na vida. Mas será que este era o verdadeiro sonho delas ou dos presenteadores? “Ingratas”, “mal agradecidas”, dizem muitos quando as mães começam a reclamar dos presentes, pois não era aquilo que desejavam.
Deveriam essas mulheres, como fez uma aluna minha, ao receber tais presentes reunir toda a família, acender uma vela e cantar parabéns, pois estas são dádivas para a casa, para a família como um todo e não especificamente para a mãe. O que a mulher quer mesmo é algo bem pessoal: uma rosa, um perfume, uma camisola, um passeio a dois... Ela quer, pelo menos neste dia, receber os carinhos já sepultados, o afeto já esquecido. Ela quer voltar a ser a namorada tão amada que o casamento acabou.
Publicado no “Jornal de Hoje” de 08 de maio de 2009.
Texto enviado por Erinalda Galvão, por e-mail.
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