Valeu Zumbi - "O grito forte dos palmares";
Valeu João Cândido - "O Almirante Negro"
Valeu Luís Gama - "Todo escravo que matar o seu senhor, seja em que circunstâncias for, mata em legítima defesa."
Valeu João Cândido - "O Almirante Negro"
Valeu Luís Gama - "Todo escravo que matar o seu senhor, seja em que circunstâncias for, mata em legítima defesa."
A história de Zumbi dos Palmares é a história da bravura e da tenacidade do povo negro. Dentre os que mais se destacaram nessa guerra de vida ou morte, travada entre a escravidão e a liberdade, um gênio negro militar se destaca. Zumbi, nascido em Palmares pelos idos de 1656 é um dos sobreviventes de um massacre e que foi raptado e entregue aos cuidados do Padre Melo, em Porto Calvo, com quem conviveu até os 15 anos e aprendeu astronomia, matemática, história da Bíblia e latim, chegando a coroinha. Padre Melo lhe batizou com o nome de Francisco, que mais tarde parte em busca de seu destino, indo parar em Palmares, quando adota o nome de Zumbi. Ativo e muito instruído para a época, ganhou a confiança de todos e é nomeado o comandante das armas pelo seu tio Ganga Zumba, na ocasião o Rei Supremo de Palmares. Em seguida sucede o próprio Ganga Zumba se tornando o líder de Palmares, por sua capacidade de comandar e resistir às inúmeras tentativas de destruição daquele reduto de homens e mulheres livres, encravado nos sertões do Nordeste brasileiro, mais precisamente numa região que abrangia os estados de Pernambuco e Alagoas. Nos quilombos haviam negros e negras em sua grande maioria, mas havia também índios e brancos, todos unidos na luta pela liberdade em combate contra o regime de escravidão. Contra o Quilombo dos Palmares foram enviadas expedições com o objetivo de exterminá-lo, sem que tais propósitos fossem alcançados, em virtude dos lances de coragem dos palmarinos e das táticas militares postas em prática por seus comandantes contra os invasores e escravocratas brancos. A Coroa Portuguesa se viu na obrigação de formar o maior contingente imperial de soldados e militares para socorrer a região do Nordeste, onde era fragorosamente derrotada cada vez que tentava enfrentar os guerreiros negros do Quilombo dos Palmares. E a guerra se estabeleceu com utilização de canhões, pela primeira vez em território nacional. Depois de vencer dezenas e dezenas de batalhas contra os invasores brancos, Zumbi acabou assassinado em 20 de novembro de 1695. O tempo passou e muito do que vivemos hoje é reflexo das opressões passadas. É necessário saber do passado para compreender o presente e lutarmos pelo futuro mais justo.
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No início do século XX, precisamente no ano de 1910, durante alguns dias, mais de dois mil marujos movimentaram a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, ao tomarem posse de navios de guerra para exigir o fim dos castigos corporais na Marinha do Brasil. Mas, qual a relação do termo chibatada com um movimento realizado por integrantes da Marinha brasileira? Por incrível que pareça, nessa época a Marinha do Brasil era uma das maiores potências mundiais, pois, comprou três couraçados (navios blindados de guerra), três cruzadores, seis caças-torpedeiros, seis torpedeiros, três submarinos e um transporte, para reaparelhar a nossa Marinha de Guerra (plano de compra aprovado no Congresso Nacional em 14 de novembro de 1904), assim, o Brasil passou a ter a terceira esquadra militar do mundo. Entretanto, dos três navios blindados, apenas dois foram realmente adquiridos: o “Minas Gerais” e o “São Paulo”.Em abril de 1910, o “Minas Gerais” chegou à Baia da Guanabara, era o navio mais bem equipado do mundo, mas, as questões de regime de trabalho, o recrutamento dos marujos, as normas disciplinares e a alimentação deixavam a desejar. O retardamento das reformas nessas áreas fazia lembrar os anos dos navios negreiros. Tudo na Marinha, Código Disciplinar e recrutamento, principalmente, ainda eram iguais ao da monarquia. Homens de bem, criminosos, marginais eram juntamente recrutados para servirem obrigatoriamente durante 10 a 15 anos e, a desobediência ao regulamento tinha a punição de chibatadas e outros castigos conforme nos relata Marília Trindade Barbosa, 1999 (fonte de pesquisa). Mas, em 16 de novembro de 1889, Deodoro da Fonseca, através do Decreto nº 3 – um dia depois da Proclamação da República – acabou com os castigos corporais na Marinha do Brasil mas, um ano depois tornou a legalizá-los: “Para as faltas leves, prisão e ferro na solitária, a pão e água; faltas leves repetidas, idem idem por seis dias; faltas graves 25 chibatadas”. Os marujos não aceitaram e começaram a conspirar, principalmente alguns que estiveram na Inglaterra e viram a diferença de tratamento dos que lá eram recrutados. Além disso, corria notícia no mundo da revolta do encouraçado Potemkim. Em novembro de 1910 o marinheiro Marcelo Rodrigues foi punido com 250 chibatadas deixando evidente o sistema escravocrata ainda no país, ou seja, as duras punições impostas aos escravos antes da Lei Áurea em 1888. Sendo assim, em 22 de novembro de 1910, comandado por João Cândido Felisberto, a Revolta da Chibata eclodiu: “O comitê geral resolveu, por unanimidade, deflagrar o movimento no dia 22. Naquela noite o clarim não pediria silêncio e sim combate. Cada um assumiu o seu posto e os oficiais de há muito já estavam presos em seus camarotes. Não houve afobação. Cada canhão ficou guarnecido por cinco marujos, com ordem de atirar para matar contra todo aquele que tentasse impedir o levante. Às 22:50, quando cessou a luta nos convés, mandei disparar um tiro de canhão, sinal combinado para chamar à fala os navios comprometidos. Quem primeiro respondeu foi o ‘São Paulo', seguido do ‘Bahia’. O ‘Deodoro’, a princípio, ficou mudo. Ordenei que todos os holofotes iluminassem o Arsenal da Marinha, as praias e as fortalezas. Expedi um rádio para Catete, informando que a Esquadra estava levantada para acabar com os castigos corporais.Os mortos na luta foram guardados numa improvisada câmara mortuária e, no outro dia, manhã cedo, enviei os cadáveres para a terra. O resto foi rotina de um navio em guerra”. (Marília Trindade Barboza, João Cândido, o almirante negro, Rio de Janeiro:Gryphus/Museu da Imagem e do Som, 1999).Nesse ínterim, João Cândido assumiu a esquadra de “Minas Gerais”. No combate morreram o Comandante Batista das Neves, alguns oficiais e muitos marinheiros. Conforme relato anterior, foram tomados também os navios “São Paulo”, o “Bahia” e o “Teodoro”, sendo colocados em pontos estratégicos da cidade da Guanabara, logo em seguida foi enviado um comunicado ao Presidente da República solicitando a revogação do Código Disciplinar, o fim das chibatadas e “bolos” e outros castigos, o aumento dos soldos e a preparação e educação dos marinheiros. Como não tinha outro jeito a dar – eram 2.379 rebeldes – e estavam com as mais modernas armas que existiam na época, o Marechal Hermes da Costa e o parlamento cederam às exigências, aprovaram um projeto idealizado por Rui Barbosa – que tinha apoiado o retorno dos castigos anteriormente – pondo fim aos castigos e concedendo anistia aos revoltosos. Portanto, com esse ato, termina vitoriosa a revolta, cuja duração foi de cinco dias. Finalmente é colocado um ponto final na punição escravocrata disciplinar na Marinha de Guerra do Brasil.A Revolta da Chibata não pode ser esquecida, a lembrança de João Cândido, o “Almirante Negro” deve perpetuar por toda história. Esse marinheiro gaúcho, nascido em 24 de janeiro de 1880, demonstrou mais uma vez a coragem herdada dos seus descendentes negros. Morreu aos 89 anos mas, deixou um legado de luta como exemplo para todos os negros e afros-decendentes do Brasil. Eis mais um testemunho de sangue derramado, por um ideal de transformação.
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