sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A DIREITA VESTE VERDE





A DIREITA VESTE VERDE



Marcos Inácio Fernandes*



“A direita nunca me enganou. A esquerda, já”. (Daniel Cohn-Bendit)


A direita brasileira teve a sua maior expressão com a Ação Integralista Brasileira-AIB, que surgiu no Brasil, nos anos 30, na esteira do furacão totalitário nazi-fascista, que varreu a Europa naquele período. O Nazismo, na Alemanha; o Fascismo, na Itália; o Franquismo, na Espanha e o Salazarismo, em Portugal. A versão, tupiniquim, desses movimentos político-sociais foi o Integralismo. As falanges integralistas eram chamados dos “camisas verdes” e, mais pejorativamente, dos “galinhas verdes”, pelos comunistas, pois usavam camisas verdes com uma braçadeira na manga com a letra grega SIGMA. Eles imitavam os “camisas pardas” dos nazistas alemães e os “camisas negras” dos fascistas italianos. O lema integralista era “Deus, pátria e família” e também adotavam uma forma de se cumprimentar semelhante à nazista com o braço estendido, no estilo “heil Hitler” com a saudação ANAUÊ (“Eis-me aqui” em Tupi-guarani). A AIB foi proscrita por Getúlio Vargas em 1937, com o golpe do Estado Novo, e reapareceu com a redemocratização de 1945, transformado em partido político, Partido de Representação Popular – PRP, extinto com o golpe militar de 1964, através do AI-2. O seu líder maior, Plínio Salgado, conseguiu aglutinar milhões de brasileiros em torno de suas idéias, conservadoras e reacionárias. O nazi-fascismo foi derrotado na 2ª grande guerra, mas seus “zumbis” ainda assombram a Europa e seus primos distantes, no Brasil, ainda estão presentes no cenário político, embora sem a pompa e pujança, que desfrutaram nos anos 30 e 40. Hoje eles atuam através de uma “Frente Integralista Brasileira” - FIB, que proclama: “A Vitória É Nossa”. Nessas eleições, a FIB apresentou algumas razões para não votar em Dilma Rousseff, seguindo sua “coerência” conservadora e reacionária: Dilma é terrorista, marxista, mentirosa, é do PT, pertence ao (dês)governo Lula, apoiou, Manoel Zelaia, de Honduras; recebe apoio de Hugo Chaves e é a candidata predileta das FARC; apóia o PNDH-3, que eles consideram um programa de “implantação de uma ditadura bolivariana”, que defende o aborto, a união civil entre pessoas do mesmo sexo, a censura da imprensa, a retirada dos crucifixos de repartições públicas, etc, etc. São as mesmas acusações difamatórias, de baixo nível, que enchem as caixas de mensagens de milhões de brasileiros, via internet, que faz parte da engrenagem da campanha subterrânea do José Serra –PSDB, no estilo do Tea Party dos Republicanos dos Estados Unidos, que está montada desde 2009, e é coordenada por Eduardo Graeff. Segundo Mauro Carrara , no artigo: “Os segredos internacionais por trás da Revolução do Ódio no Brasil” “ é um sistema capaz de disparar diariamente mais de 152 milhões de e-mails para brasileiros de todas as regiões para disseminar peças de calúnia e difamação contra Dilma, Lula e qualquer figura pública que ouse tomar partido do projeto de esquerda no Brasil” O autor informa ainda que “há 15 anos, a internet vem sendo utilizada como ferramenta de sabotagem pelo poderoso National Endowment for Democracy –NED, criada em 1983 no governo Reagan, e pela United States Agency for International Development – USAID e inúmeras entidades parceiras, como a Fundação Soros. É nessa fonte que a nossa direita tradicional (FIB, TFP, Opus Dei, DEM) e moderna (Instituto Milenium, Movimento Cansei e blogs de esgoto e a Imprensa golpista) estão bebendo. O procedimento estratégico adotado por esses grupos de sabotadores são sintetizados em 10 mandamentos operativos, a saber:




1) “Difunda o ódio. Ele é mais rápido que o amor;


2) Comece pela juventude. Ela é multiconectada e pode ser mais facilmente mobilizada para destruir do que para construir;


3) Perceba que destruir é”divertido”, ao passo que “construir” pode ser cansativo e chato;


4) A veracidade do conteúdo é menos relevante do que o potencial impacto de uma mensagem construída a partir da aparência ou do senso comum;


5) Trabalhe em sintonia com a mídia tradicional, mas simule distanciamento dos partidos tradicionais;


6) Utilize âncoras “morais” para as campanhas. Criminalize diariamente o adversário. Faça-o com vigor e intensidade, de forma a reduzir as chances de defesa;


7) Gere vítimas do oponente. Questões como carga tributária, tráfico de drogas e violência urbana servem para mobilizar e indignar a classe média; 8) Eleja sempre um vilão-referência em cada atividade. Cole nele todos os vícios e defeitos morais possíveis;


9) Utilize referências sensoriais para a campanha. Escolha uma cor ou um objeto que sirva de convergência sígnica para a operação;


10) Trabalhe ativamente para incompatibilizar o político-alvo com os grupos religiosos locais. “




Nessa eleição todo esse receituário estratégico e simbólico foi e está sendo empregado. Colocaram na pauta eleitoral a questão dos “valores morais” do cristianismo, como a questão do aborto, a exploração do sentimento religioso do povo com a participação, vergonhosa, de membros do alto escalão das Igrejas Católicas e Evangélicas, inclusive com a produção de panfletos assinados por Bispos e com a chancela da CNBB. Criaram também a “onda verde” e lamentavelmente a nossa Marina e o seu partido Verde, que ainda não amadureceu polìticamente, foi “anabolizado” pela mídia golpista e deu 2º turno. Foi até bom. Agora, continua a polarização e o plebiscito que a Marina questionava. De um lado as forças conservadoras e direitistas que o Serra conseguiu aglutinar (PSDB/DEM/PPS/PIG/TFP/OPUS DEI/CNBB-Nordeste2/Pastor Malafaia/Clube Militar/etc) talvez só tenha faltado o CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Do outro lado, a coalização “Para o Brasil seguir mudando”, costurada pelo Lula, o Presidente que tem a aprovação de 8 entre 10 brasileiros. Entre esses dois campos, a alma brasileira, representada pelos artistas e intelectuais mais renomados, não tiveram dúvidas e fecharam com Dilma. Já o PV,”lavou as mãos” como Pôncio Pilatos, que num momento de grave decisão política preferiu se preocupar com problemas de higiene. O PV liberou geral, ficando no muro, (uma parte vai cair para o lado esquerdo com Dilma, espero que seja a maior, e outra, para o lado direito do Serra). Como disse Max Weber, “quem se abstém ou fica neutro é porque já escolheu o mais forte.” Ou talvez pense que é o mais forte. Marina, por sua vez, não abriu seu voto. Eu, que admiro tanto a Marina, fiquei decepcionado com sua posição dúbia em que pese ela ter dito que “o Brasil já esta preparado para ser governado por uma mulher” e que “o Serra vai perder perdendo”. Quem é da esquerda não titubeia nessas horas. Faz como Brizola, em 1989, que declarou apoio à Lula logo que ficou confirmado que ele iria para o 2º turno com Collor. Faz como fez agora o PSOL e Plínio de Arruda Sampaio, “nenhum voto para o Serra”, manifestando apoio crítico, mas, integral à Dilma. O 2º turno, também serviu para desmascarar a hipocrisia do Serra e família, que infelizmente foi envolvida na campanha na questão do aborto e da quebra do sigilo fiscal da filha, do genro e do Eduardo Jorge. Serra e o PSDB acusaram Dilma e a campanha do PT, pela quebra do sigilo fiscal. Agora, a conclusão do inquérito da Polícia Federal, revelou que trata-se de “fogo amigo” entre a tucanagem de São Paulo e Minas, que remonta as prévias do PSDB na disputa entre Aécio Neves e José Serra para a indicação do partido do seu candidato à Presidência. Sabe-se também, através de uma ex-aluna de Monica Serra, que a esposa do candidato, foi quem já praticou aborto. Mas logo ela, que ficou indignada com uma mulher da Baixada Fluminense, que disse votar na Dilma ao que Mônica Serra exclamou: “na Dilma, que é a favor de matar criancinhas”? É por isso que eu quero distância desses “cristãos” e convertidos de última hora, principalmente, nos períodos eleitorais. Finalizo dizendo que sinto saudades da Marina quando era comunista do PRC, quando era socialista cristã do PT e quando era católica ligada a Teologia da Libertação. Marina se pintou de verde, a cor da direita, e fez o jogo dela. Como no samba-canção antológico do Caymmi: “desculpe, morena Marina, mas eu estou de mal, de mal com você, de mal com você...”.

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