"A Vida Humana", do filósofo francês André Comte-Sponville, é o livro que acabo de ler. Trata-se de uma leitura instigante sobre as diversas fases da vida, que engloba abordagens de antes do nascimento do homem até o tema da morte e da eternidade. Pincei algumas passagens que me pareceram importantes. Compartilho.
II - Nascer: "Toda a vida é recebida. Cabe a nós não sermos indignos desse presente que nos foi dado, que é o primeiro presente. Loteria da vida: combate da vida. O fato de termos todos nascidos por acaso, o que é bastante claro, não é a razão para viver ao acaso. Nascer é a primeira chance. Não desperdiçar essa chance, o primeiro dever."
III - A criança: "Lentidão da infância: lentidão muito sábia da vida no seu começo. Depois tudo se acelera, tudo se transforma. Crescimento, puberdade, adolescência... O corpo governa. A mente acompanha como pode. A infância fica apenas na lembrança. É uma lembrança que nos habita , ou somos nós que a habitamos. (...) "Cada qual empurra a infância para frente, dizia Alain, é esse nosso futuro real."
IV - O Adolescente: "Depois da criança, há o adolescente. É a mais bela idade, pelo menos aos meus olhos, a mais cativante, a mais perturbadora, a mais perturbada também, e isso dá um encanto a mais. (...)É a idade dos contrastes, das contradições, dos conflitos, inclusive internos. Tudo se mistura. Narcisismo e generosidade, exaltação e melancolia, conformismo e revolta, solidão e espírito de grupo, timidez e excentricidade, sede de absoluto e de reconhecimento...Como a vida é incerta, hesitante! Você já não é criança, ainda não é adulto. A adolescência é a idade dos segredos, das confidências, dos sonhos inconfessáveis... Os adultos não têm acesso a eles, e é bom que seja assim. A infãncia é um milagre e uma catástrofe. A adolescência, um mistério e uma promessa. Mas só será possível cumprí-la mais tarde."
V - Amar: "O amor é a primeira graça e a única. É o amor que faz viver, pois só ele torna a vida amável.(...) Somos fracos demais para vivermos sós. Fracos demais para nos bastarmos. (...) Não é Deus que é amor: é o amor no homem, que faz sonhar com Deus. Cabe então ao amor julgar a religião, não à religião julgar o amor. É o que chamo de espírito de Cristo - o espírito do filho - e o contrário do fanatismo."
XI - Morrer: "A morte, está bem claro, é um problema apenas para os vivos. Epicuro concluía daí que ela não é problema nenhum, para ninguém: nem para os vivos, pois não existe enquanto vivam, nem para os mortos, pois eles já não existem.(...) Não há nada mais pobre que um cadáver, nada mais improvável que a imortalidade. (...) Não há apenas a morte; há o morrer, a agonia e isso certamente não é coisa pouca. "Não é que eu tenha medo da morte, diz Woody Allen, mas preferia estar longe quando ela vier." (...) "Tudo é eterno, mas só a morte é definitiva. Tudo continua; nada permanece." (...) Que toda vida esteja fadada a finitude, à mudança, à impermanência, é algo que diz respeito a sua essência e não poderia ser ignorado. Mais uma razão para dedicar à vida - a própria, a dos outros - todos os cuidados que ela exige. Existe algo mais frágil? Existe algo mais precioso? Existe algo mais insubstituível?"
XII - A Eternidade: "Se quiserem, podem dizer que o presente é o que separa o passado e o futuro. Mas, como o passado e o futuro náo são nada, nada os separa. Há apenas a eternidade, que é o próprio presente. Entre nada e nada: tudo. É onde habitamos, e o único lugar da salvação." (...) "Existe algo mais absurdo que esperar a eternidade? Algo mais triste que esperar a felicidade? (...) " Os sábios são aqueles que se contentam com essa vida, isto é, que com ela se regozijam sem por isso renunciar a mudá-la. (...) "A humanidade, diz o sábio, importa mais que a sabedoria."
Recomendo a leitura.
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