domingo, 26 de abril de 2009

CRIATIVIDADE OU CONFORMISMO


Compartilho e-mail enviado pelo amigo Mário Amorim, como sempre desejando-me uma ótima semana. Obrigado Mário.


CRIATIVIDADE OU CONFORMISMO


Num galho de árvore um pássaro pode instintivamente treinar o bater de asas antes de atrever-se a voar, mas o instinto não é a base de todas suas ações. Muitas vezes podemos ver um pássaro próximo a seu filhote, ensinando-o a bater as asas, e este o imitando, aprende. Aprender pela imitação é necessário para a sobrevivência. Ocasionalmente pode haver um pequeno desobediente que se rebela. Por exemplo, quando sua mãe indica que há perigo e o filhote sai; ela pode puni-lo para que aprenda a fazer como a mãe - ficar quieto ou correr. Já que a imitação é parte do processo de sobrevivência, ele é inerente ao cérebro humano que evoluiu através de um enorme período. Todos nós estamos profundamente condicionados a fazer o que os outros fazem. Também a linguagem se aprende através da imitação. Os bebês copiam sons que os adultos fazem. Em raros casos, quando um bebê cresceu na selva e foi adotado por um animal, a criança não desenvolve a capacidade para a linguagem humana. Talvez por ter aprendido a comunicar-se como seus pais adotivos.Portanto, o comportamento e o pensamento humanos são geralmente mecânicos, não têm reflexão, porque a imitação pode ocorrer sem examinar pensamentos e ações. Por isso a sociedade humana não muda facilmente. Cada geração herda inconscientemente atitudes e reflexos da anterior. E já que a maioria das pessoas se conforma, é muito difícil criar uma nova sociedade com um melhor sentido de valores. As grandes reformas só acontecem no mundo quando indivíduos extraordinários lançam um pensamento independente.Muitas vezes é perigoso não se sujeitar a modelos de crença e de ação religiosas, políticas e outras. Foi perigoso para Jesus ser o que ele foi. Assim, até mesmo pessoas que compreendem as desvantagens da submissão, continuam firmes nessa rotina, temendo o desconforto ou o perigo de serem "diferentes" na sociedade.A imitação e o conformismo assumem diversas formas: copiar dos filmes o comportamento das pessoas; tentar manter-se em grupos; seguir a moda cegamente, mesmo que seja desconfortável e inadequada. No entanto, a atitude de imitação muitas vezes começa por fazer o que é sensível e saudável, e devemos conscientemente seguir as regras em assuntos sem importância. Rebelar-se contra ninharias é desperdício de energia; atrai atenção desnecessária sobre si mesmo e provoca conflito. Portanto é senso comum adaptar-se de alguma maneira a seu meio e às circunstâncias usuais, mas não é aconselhável a submissão completa porque ela bloqueia o desenvolvimento do indivíduo bem como a mudança para melhor na sociedade. O que é chamado de tradição muitas vezes é a pressão que a sociedade exerce sobre o indivíduo para colocá-lo num padrão. Naturalmente há tradições e práticas valiosas, mas também há superstições, crenças e costumes tradicionais que são completamente sem sentido e mesmo prejudiciais.A ordem social é mantida até certo ponto pela imposição do que de longa data é reconhecido como benéfico. Os pais têm motivos para obrigar a criança a escovar os dentes e tomar banho mesmo quando não quiser. Mas essas coações podem ir apenas até certo ponto. O cidadão deve obedecer às leis, mas deve sujeitar-se a leis que são injustas? Assim é importante desenvolver a reflexão, examinar e analisar adequadamente todas as tradições e convenções feitas pelo homem. Diz o eminente cientista Dr. R. A. Mashelkar ao escrever para o Springs of Scientific Creativity (The Theosophist, março de 2002) :"As barreiras mentais impedem a criatividade. É crucial reconhecê-las e superá-las para aumentar a criatividade científica... Um item torna-se fixo no panorama mental. O que está além da barreira torna-se não apenas desconhecido mas inimaginável. Mas, acréscimo em criatividade pode ser obtido ao desenvolver a coragem para reconhecer ou sobrepujar as barreiras mentais... A habilidade para ver o que todo mundo vê, mas pensar o que ninguém mais pensa, é a marca registrada do cientista."Os cientistas são treinados para não aceitar nada como garantido, mas para questionar e examinar tudo, cem vezes ou mais se necessário. Mesmo então os modelos mentais se estabelecem e todo mundo questiona pelas mesmas linhas; e assim não se obtém nenhuma resposta nova para o problema. Algumas descobertas notáveis aconteceram porque alguém fez uma pergunta estranha ou inesperada.No campo espiritual é ainda mais importante que a mente esteja completamente aberta e não focada nos padrões conhecidos. Os problemas mais sérios no mundo surgem quando falta compreensão nos relacionamentos e conceitos convencionais, a respeito dos relacionamentos, de mestre e discípulo, de pai e filho ou de uma e outra comunidade, que continuam sem questionamento de geração a geração. Esta é a base dos antagonismos e conflitos que se tornam endêmicos na sociedade.Cada membro da S.T. concorda com seus objetivos, e por meio deles mostra reconhecer a necessidade de formar uma nova sociedade humana, onde deve prevalecer a cooperação e a fraternidade. Mas se esta mente continuar a ser condicionada pela tradição e pelas idéias convencionais que emergem da vizinhança, ela poderá perpetuar as diferenças em vez de promover a fraternidade. Portanto, temos a obrigação de examinar como pensamos. Imitamos o mundo em geral e dividimos os interesses de minha família dos das outras famílias, da minha nação dos das outras nações e assim por diante? Para livrar-nos de hábitos que estão impressos em nossos cérebros, devemos aprender a ser cada vez mais atentos ao conformismo e à imitação, que são a causa da estagnação na sociedade e da ausência de criatividade no indivíduo.


↓ Radha Burnier Presidente Internacional da Sociedade Teosófica em Adyar.(Extraído da revista The Theosophist, de outubro de 2003.)

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