quinta-feira, 21 de julho de 2011

MORRENDO UM POUQUINHO MAIS

Manoel Alves Ribeiro (1955 - 2011)
(Fez a viagem grande sem sua barba característica.)


Há 26 anos, num início de tarde, recebi um telefonema de Manoel Ribeiro, que me comunicava o falecimento do seu irmão Mário Ribeiro, um jovem de apenas 29 anos. Ontem, fui surpreendido no café, com a notícia da morte do próprio Manoel Ribeiro, no programa de TV do Washington Aquino. Trabalhei com ambos na CEPA e privava da amizade dos dois e de toda família Ribeiro. Do Mário eu era mais próximo afetivamente. Já com o Manoel eu tinha mais afinidade política, pois no início dos anos 80, Manoel já era do PT eu do Partidão (fazíamos parte dos "Comunistas da CEPA"). No final dos anos 80, (86 ou 87) participei com o Manoel de um Congresso de Agronomia, no Rio de Janeiro, onde denunciamos as perseguições políticas que estavam acontecendo no governo do PMDB, com Nabor Júnior. Hélio Pimenta, havia sido exonerado da Emater, Gumercindo foi proibido de trabalhar em Plácido de Castro e depois foi demitido, entre outras denúncias. Depois só nos encontramos, esporadicamente, nos corredores da UFAC. Manoel foi meu colega de "infortúneo" no magistério de nível superior na nossa instituição de ensino. Ele Coordenou por muitos anos o Curso de Agronomia da UFAC, onde ministrei a disciplina de Sociologia Rural para algumas turmas. Manoel exigia dos professores dos outros Departamentos o controle de frequência. Era rigoroso. Foi um profissional exemplar, um servidor público por excelência. Um homem vertical, íntegro. Vai fazer falta. Ontem pasei no seu velório e fui ao seu sepultamento levando a minha palavra de conforto a Sandra, sua esposa e filhas e aos irmãos, Mauro, Marcos Maria, Regina e a D. Raimunda, a matriarca dos Ribeiros.

Hoje fui procurar nos meus papéis, uma homenagem póstuma que havia feito para o Mário Ribeiro, quado do aniversário de 1 ano de sua morte. Na época compartilhei o texto, apenas ,com a família e os amigos mais chegados. Agora quero compartilhar com mais pessoas e dizer, que cada dia me torno mais acreano e também vou morrendo em doses homeopáticas, com cada amigo que vai subindo para o andar de cima. Descanse em Paz Manoel e lembranças ao mano, seu Durval, Franklin e demais amigos que partiram antes do combinado.

UM ANO SEM MÁRIO RIBEIRO
Marcos Inácio Fernandes

“Duas vezes se morre:
Primeiro na carne, depois no nome.
A carne desaparece, o nome persiste, mas
Esvaziando-se de seu casto conteúdo.
- Tantos gestos, palavras, silêncios –
Até que um dia sentimos, com uma pancada de espanto ( ou de remorso?)
Que o nome querido já nos soa como os outros.”
(Fragmento do poema: “Os Nomes” de Manuel Bandeira)

Faz um ano que Mário se foi, mas, o seu nome, os seus gestos, o seu sorriso infantil são lembranças, ardorosamente, vivas e presentes. A segunda morte, (a do nome), ainda não aconteceu: MÁRIO RIBEIRO, esse nome querido, vai soar para seus familiares e amigos sempre diferente. Nunca será um simples nome do cadastro do contribuinte, da lista telefônica ou dos obituários dos jornais.
Mário Ribeiro, para nós, será sempre sinônimo de vida, de amizade, de trabalho, de companheirismo, de alegria, de honestidade, de afeição, de desprendimento, de coragem, de ternura, enfim, de todas aquelas qualidades que caracterizam um homem bom.

Mário era um homem bom! Talvez por isso, ele tenha nos deixado tão prematuramente, porque um homem bom, como disse outro poeta, “não serve para muita coisa, só serve para ser bom”.
Mário foi um dos primeiros amigos que fiz no Acre, pois ele era daquelas pessoas, que mal a gente conhece, já fica querendo bem, parecendo que a amizade que se inicia já vem de longas datas como se fosse uma amizade de infância.

Através do Mário fui introduzido na “pelada” do Departamento de Produção Animal – DPA, no campo da EMBRAPA, onde fiz outros grandes amigos. Por causa do Mário comecei a torcer pelo Atlético Acreano (uma herança dolorosa) mas, perfeitamente compreensível. É que as pessoas de coração largo têm uma tendência de torcer e lutar pelos mais fracos.

Mário tinha um coração de animal pré-histórico (era grande demais e sem a poluição da era industrial). Trabalhamos, bebemos, jogamos e nos divertimos juntos e, em todas as atividades em que tive o privilégio de estar ao seu lado, trago as mais gratas e alegres recordações.

Hoje, passado um ano, que ficamos privados do seu convívio, de sua presença física, as lembranças se avivam com grande intensidade em nossas mentes e em nossos corações. Vou sempre lembrar do “e aí meu” (palavras iniciais que ele usava quando me telefonava). Vou sempre rir daquela sua frase na partida de buraco (eu e um primo do Mário, ele e Franklin). Era que o baralho estava acabando e eu perguntei: eu ainda jogo? Ele respondeu: “joga sim, mas na outra” e bateu o jogo deixando a gente com as mãos cheias de cartas, soltando aquela sua risada tão característica.

Lembro ainda do nosso encontro na Bahia, no Congresso de Veterinária, das cervejadas na Raimundinha, das peladas na quadra da PM ( com aquela camisa ridícula do Flamengo) e tantas outras passagens que faz a gente lembrar do Mário sempre com ternura, com alegria, com saudade.

Mário, está fazendo um ano, que nós também morremos um pouco, pois segundo Públilio Siro: “o homem morre tantas vezes, quantas vezes perde os seus” . E segundo Plauto: “aqueles a quem os Deuses estimam morre jovem”. Você, com certeza, era um estimado dos Deuses, por isso, Eles, divinamente egoístas, o chamaram tão cedo.
Descanse em boa companhia Mário, amigo e irmão.

Marcão (enfim, um acreano, pois nesta terra já enterrei os meus mortos).

Rio Branco – AC, 28 de julho de 1986.

Um comentário:

Vera Lúcia Ferreira da Cunha disse...

Marcos Inácio inclua em sua lista de amigos que se foram a Sra. Raimunda Ferreira de Oliveira dia 18 de julho 2011, que também esteve na CEPA, junto com nosso querido Mário Ribeiro, e Manoel.
Sua amiga Vera Lúcia ex-funcionária da CEPA.