Albino Friaça Cardoso (1925-2009) craque do Vasco da Gama na sua fase mais esplendorosa do "Expresso da Vitória" e da seleção brasileira, faleceu hoje. Friaça marcou o único gol do Brasil contra o Uruguai na fatídica decisão da Copa do Mundo de 1950 no Maracanã, em 16 de julho de 1950.
Livro sobre a "tragédia de 50" com a versão de seus protagonistas;
Os protagonistas da tragédia:
Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo, Bigode, Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico. Ninguém melhor do que eles para contar o que aconteceu no fatídico de 16 de julho de 1950. Essa foi a constatação de Geneton Moraes Neto quando decidiu escrever o livro "Dossiê 50".
Além de um capítulo para as versões de cada um dos nossos mais injustiçados craques, declarações de gente como Nelson Rodrigues, Mino Carta, Chico Buarque, Zagallo e Nilton Santos. E histórias como a do ex-favelado que trabalhou na construção do Maracanã e até hoje, todos os dias, vai ao maior do mundo para narrar o gol de Ghiggia.
Para quem não tiver a oportunidade de ler, escolhi uma frase de cada um dos principais personagens da maior tragédia tupiniquim.
Barbosa
Ghiggia diz que só ele, o Papa e Frank Sinatra calaram o Maracanã. Eu também fiz o Brasil calar, fiz o Brasil chorar: não é só ele que tem esse privilégio não.
Augusto
A cena já estava toda pronta, na minha imaginação. O jogo terminava. O Brasil, absoluto, ganhava fácil do Uruguai. A gente se perfilava no gramado, em frente à tribuna de honra do Maracanã. Depois de cantar o Hino, a gente veria chegar o velhinho Jules Rimet com taça na mão. Eu pegaria a da taça das mãos dele. Todo feliz, ergueria a taça lá para o alto.
Juvenal
Eu me sentia um soldado defendendo o país. Não é só numa guerra que se defende o país: é nas disputas esportivas também. Então, perder aquele jogo para o Uruguai foi como perder uma guerra. A gente não falava em dinheiro. Os jogadores não pediram prêmio, nada, nada, nada. Nós, ali, éramos como militares.
Bauer
Vim para o Rio para ser campeão do mundo. Voltei a São Paulo no chão do trem.
Danilo
Como a Copa de 50 marcou a inauguração do Maracanã, a derrota do Brasil ficou gravada para a eternidade. O próprio time do Vasco, base da Seleção Brasileira, derrotou o Peñarol, base da Seleção Uruguaia, em Montevidéu, logo depois. Mas os uruguaios diziam: "A gente não queria ganhar essa aqui em Montevidéu, não. Queríamos ganhar aquela, no Maracanã".
Bigode
Deve ter morrido gente de enfarte. Se o Brasil fosse campeão, morreria muito mais gente. O povo é exagerado. O Maracanã ia vir abaixo. Iam quebrar tudo nos bailes. O futebol é um fenômeno que ninguém explica. Futebol incomoda mais que problema de família...
Friaça
Fiz 1 x 0 na final da Copa. Ali nós já éramos deuses.
Zizinho
Meu sonho era assim: a gente ainda iria jogar contra o Uruguai. Aquilo que aconteceu era mentira.
Ademir
Depois do jogo com a Espanha - que vencemos por 6 x 1 - apareceu um senhor num automóvel gritando: "Quero falar com Ademir". Ele entrou e foi falar direto com Flávio Costa. Daí Flávio me chamou num canto: "Vá ao hospital com o médico da seleção, veja a situação e volte". Quando cheguei ao hospital, vi que era um garoto meu admirador. O menino vei, me beijou e disse: "Doutor, pode operar". De volta à concentração, não consegui dormir. Fiquei pensando: "O que é que eu sou? Um santo? Um deus?".
Jair
Sempre antes de dormir, eu pensava no gol que não fiz, aos 45 do segundo tempo. Eu sonhava assim: o Brasil com um time daqueles não ganhou a Copa do Mundo? A derrota é que tinha sido um sonho. Acordava espantado, olhava ao redor - e o Maracanã estava ali, na minha frente.
Chico
Tive um pressentimento estranho. Quando o Brasil entrou em campo, a derrota já estava escrita.
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